“Até domingo, todo o mundo interessado em salvar a democracia brasileira tem que ficar na rua a conversar”

“Até domingo, todo o mundo interessado em salvar a democracia brasileira tem que ficar na rua a conversar”


Com esperança em que as eleições ainda possam virar para o lado de Fernando Haddad, vários grupos de cidadãos organizam-se nas ruas para conversar sobre o que está em jogo na segunda volta das presidenciais deste domingo, que o candidato do PT disputa contra Jair Bolsonaro.


Não são necessariamente PT. Vários deles votaram noutros candidatos no primeiro turno. Em Marina, em Boulos, vários deles em Ciro Gomes, por exemplo, que com todos os microfones apontados para ele, continua a não declarar apoio a Fernando Haddad. Enquanto o país espera por Ciro, nas 48 horas que antecedem as eleições de domingo, o tempo é para muitos cidadãos brasileiros de ir para a rua. Para virar cada voto possível até domingo, o dia das eleições. Cara a cara, corpo a corpo, nada de WhatsApp. 

Em frente ao edifício Gazeta, na Av. Paulista, um grupo de cidadãos oferece café e biscoitos em troca de uma conversa. Com uma série de cartazes amarelos com que se passeiam por aquele troço da avenida interpelam quem passar: “Já votou? Vem conversar.” A cada “eu voto Haddad”, uma festa. Sobretudo quando é um voto virado. “É mais fácil virar um indeciso do que um eleitor de Bolsonaro”, diz um deles para Katia Angélica. A advogada que na manhã de sexta-feira trouxe o café, as mesas e cadeiras, material para quem quisesse juntar-se fazer cartazes. Num grupo de WhatsApp do qual faz parte, organizaram-se ações semelhantes para o Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Para os apressados, os que não param para o café, há panfletos. “Amigos, vizinhos, sou morador do bairro e gostaria de chamar atenção para o grave momento que vivemos. Estamos vivendo a eleição mais importante que já tivemos desde o fim da ditadura militar. Temos um candidato que prega abertamente a violência, que defende o uso de armas como solução para todos os problemas, quando sabemos que violência só gera mais violência.” E que termina com um apelo aos antipetistas: “Mesmo que você não simpatize com o PT, peço que pense muito bem antes de decidir para quem dará o seu voto. Por favor, não se iluda pensando que votar em branco é uma forma de protesto porque não resolve nada. Os votos brancos e nulos acabam favorecendo o candidato que estiver na frente. Então, por favor, não anule o voto. O voto é a única arma que temos para mudar o Brasil.” 

O texto, numa folha A5, vem assinado por José Ricardo M. Almeida. Por aqui ninguém sabe quem é. Foi Márcio, bancário, que o trouxe. Recebeu-o no correio e fez 3 mil cópias, para distribuir. Por três dias no seu bairro, agora aqui na Paulista, já com a ajuda de outros que acabou de conhecer. “Achei muito legal o texto e acho que se em cada rua tivesse um militante que panfletasse a sua rua apenas não teria uma rua no Brasil que ficasse sem conversa. Gostei da iniciativa do cara e, já que ele fez a parte dele, eu faço a minha também. As pesquisas mostram que tem muitos indecisos ainda (8% de votos nulos ou brancos e 6% de indecisos). Você tem que falar para os indecisos, é esse povo que vai virar a eleição. Até amanhã, acho que todo o mundo interessado em salvar a democracia brasileira tem que ficar na rua, conversando com as pessoas.”

Há mais de meia hora que Nady Oliveira, que anuncia abraço em troca de conversa, fala com um rapaz que ficou a ouvi-la. Explica-lhe como com a redução da desigualdade se reduz a violência. É atriz e é pernambucana, a viver no Rio de Janeiro. Tem 27 anos: “Estou aqui porque sou negra, sou nordestina, sou pobre. Vim da periferia e vi todos os avanços durante o governo do PT. Independentemente de qualquer crítica que a gente tenha, foi um governo que mudou a minha vida e a vida de todo o mundo ao meu redor. A gente foi para um outro lugar e é impossível não ter esse olhar crítico para entender o que o governo fez. Estou aqui num momento que é de desespero mesmo. De tentar conversar com as pessoas e entender porquê o apoio ao horror e ao ódio. Por acreditar que pode ser diferente, porque acredito na educação e acredito que diminuindo a desigualdade social a gente diminui a violência e aumenta a expectativa de vida para todo o mundo. A gente quer ser feliz e eu tenho muito medo. Não quero morrer. Quero viver. A gente já vive num beco sem saída com esse machismo. Não está errado ser você, não está errado ser eu. O que está errado é querer impor.”