A mulher que quer vender o mesmo segredo duas vezes
O mundo das celebridades é um território à parte onde se passam coisas estranhas. Até nas atividades mais intrinsecamente humanas - e por isso mais universais - como as relações íntimas, as figuras mediáticas parecem estar sujeitas a regras diferentes daquelas que regem a vida do cidadão comum.
As recentes acusações a Cristiano Ronaldo são um bom exemplo do que estou a dizer. Há poucos dias, uma norte-americana de 34 anos veio revelar pormenores acerca de uma alegada relação ocasional que teve com o jogador. A mulher queixa-se de que há nove anos, depois de se terem conhecido numa discoteca de Las Vegas, o português a terá levado para um quarto de hotel onde a sujeitou a uma prática de sodomia que lhe provocou lesões que ela teve de tratar.
O seu relato é inverosímil? Bem pelo contrário, parece perfeitamente credível. Mas - e mesmo que descontemos o lapso de tempo decorrido desde o episódio - tem dois problemas. O primeiro é a queixosa dizer ter sido vítima de “violação”, o que é pouco consistente com o facto de ter acompanhado voluntariamente o jogador a um quarto de hotel. O segundo é ter alegadamente recebido uma grande soma de dinheiro (qualquer coisa como 320 mil euros) para não falar sobre o caso.
Poder-se-á dizer que se a mulher foi paga para ficar em silêncio é porque alguma coisa se passou. É absolutamente verdade.
Só que, ao aceitar o dinheiro que lhe foi oferecido, perdeu toda a legitimidade para se queixar; ao trazer de novo o assunto à baila, perdeu a palavra; e agora, ao descrever numa revista alemã o que se terá passado dentro do quarto de hotel, perdeu também o sentido da dignidade.
O que ganhou em troca? Obviamente, notoriedade mundial. E deve esperar receber também mais dinheiro, porque ainda está para chegar o dia em que um caso destes não envolva um chorudo pedido de indemnização.
Há quem venda o corpo, há quem venda a alma, há quem venda os filhos, há quem venda a dignidade. Cada um lá terá as suas prioridades e as suas motivações.