Novo vídeo de Childish Gambino. O pontapé nas ventas da América racista, violenta e desenfreadamente armada

Novo vídeo de Childish Gambino. O pontapé nas ventas da América racista, violenta e desenfreadamente armada


Já lhe chamaram “uma tripla ameaça”, diz Glover no “SNL”, mas ele gosta de ser “apenas uma ameaça”


No fim de semana em que foi convidado para apresentar o “Saturday Night Live”, o ator, escritor e cantor Donald Glover lançou dois novos temas através do seu alter ego musical Childish Gambino, “Saturday” e “This Is America”. O vídeo deste último está a fazer correr muita tinta, dentro e fora dos Estados Unidos. “This Is America” é um poderoso retrato de um país violento, onde os negros matam e morrem com a maior das facilidades sob o olhar alienado de quem se deixa perder pela cultura do entretenimento, do novo passinho de dança, da nova Gucci, do efémero dos produtos de beleza.

O Twitter explodiu com comentários, principalmente de gente sublinhando como os passos de dança de Gambino os levaram a abstrair-se de todo o caos por trás dele, obrigando-os a vários visionamentos para conseguirem a perceção do todo.

“Já não me lembro da última vez em que vi um vídeo musical até ao fim, quanto mais vê–lo cinco vezes seguidas. Trabalho incrível”, escreve Trent Reznor no Twitter sobre o vídeo assinado pelo japonês Hiro Murai, baseado em Los Angeles, que trabalhou com Glover na série de televisão “Atlanta”.

Filmado num enorme armazém, num falso plano-sequência, o vídeo de “This Is America” é uma sucessão, pista atrás de pista, de realidades que se tornaram quotidianas dos EUA, onde as armas são tratadas com mais respeito que as vidas humanas, principalmente as dos negros.

Brutalidade policial, uso de armas, a tergiversação dos média, a superficialização da cultura, incluindo a cultura negra, com as suas marcas, o estilo e os passos de dança: “This Is America” está repleto de imagens e enigmas que levam a vê-lo repetidamente – ontem, por alturas da escrita deste texto, o vídeo superava os 19 milhões de visualizações.

Referências ao tiroteio de Charleston, aos protestos do Black Lives Matter, ao linchamento de negros – até há um cavalo branco montado por alguém encapuzado e vestido todo de negro que passa em segundo plano, lembrando enforcamentos de outrora. O vídeo acaba com um Glover correndo, perseguido, em que as suas feições mal se notam e dele só vemos os olhos e os dentes e o brilho da transpiração, como se dele fossem todas as feições de todos os negros americanos perseguidos e por perseguir.

“Saturday” e “This Is America” são os primeiros singles de um muito aguardado álbum que deve sair no final do ano – que ele já disse ser o seu último: “Penso que os finais são bons porque forçam as coisas a serem melhores.” Desde a edição, em 2016, de “Awaken, My Love!”, nomeado para os Grammy, que Glover não lançava nenhum original de Childish Gambino.

No seu monólogo no “SNL”, o ator/cantor fez questão de satirizar aqueles que gostam de alertar para eu poder ser um perigo: “Sou ator, escritor e cantor. Algumas pessoas descreveram-me como uma tripla ameaça. Mas eu gosto de me chamar a mim próprio apenas uma ameaça.”