Repitam todos agora: “Portugal não é a Grécia”
“A esquerda não percebeu a traição de Tsipras”. A direita não percebeu o seu sucesso. Um enigma internacional.
© Yannis Kolesidis/EPA
As eleições gregas decretaram ontem a vitória do Syriza novo, “pasokizado”, a morte do Syriza velho (aquele que foi eleito para recusar um programa de austeridade e que se bateu pelo “não” no referendo) e a vitória pessoal de um novo líder social-democrata chamado Alexis Tsipras.
O Syriza velho, que rompeu com Tsipras e fez um novo partido – que Varoufakis apoiou –, não conseguiu eleger um único deputado. A Nova Democracia manteve os níveis de derrota de Janeiro, provando que as sondagens dos “empates técnicos” estão a transformar-se numa anedota mundial.
O interessante destas eleições gregas, a decorrerem no arranque da campanha oficial das eleições portuguesas, é que se tornaram um incómodo gigantesco para a política interna. Até parece que agora são todos os partidos em uníssono a gritar: “Portugal não é a Grécia”, um dos mantras mais conhecidos de Passos Coelho.
A vitória de Tsipras não é um conforto para Passos: muito embora ele seja um ex-radical, a adesão do povo grego ao homem que se bateu na Europa (e perdeu) é uma derrota para quem criticou os que andam “a syrizar” e festejaria hoje um resultado positivo da Nova Democracia.
Na reacção aos resultados gregos, Passos reclamava que a Grécia, “infelizmente, tem a perspectiva nos próximos anos de executar um programa que é difícil”.
O incómodo é visível por todos os lados. A declaração de João Ferreira, eurodeputado do PCP com visíveis capacidades de comunicação, quase nem se percebe, entre o regozijo pela derrota da Nova Democracia e a fúria pelo programa que o vencedor Syriza vai aplicar.
O Bloco mostrou-se longe de euforias: “Evitou-se o pior cenário, que seria voltar a ter um governo da Nova Democracia, o principal responsável na situação em que a Grécia se encontra.”
Nós não somos a Grécia, parecem hoje gritar todos. Como diz Eduardo Paz Ferreira na entrevista que hoje publicamos, “a esquerda não percebeu a traição de Tsipras”. A direita não percebeu o seu sucesso. Um enigma internacional.