Porque cai António Costa nas sondagens?
A queda do dr. Costa nas sondagens, sondagens verdadeiramente aporéticas, reflecte aquilo que tem acontecido ao longo dos últimos meses.
© Rui Manuel Farinha/Lusa
Confesso que nunca assisti a tamanho fenómeno.
António Costa era apresentado em Setembro passado como o homem que mudaria o país. Também o Tino de Rans pensou um dia que mudaria a sua freguesia, o país e o mundo…
Após a vitória inequívoca nas directas do seu partido, que mobilizaram mais de 177 mil pessoas entre militantes e simpatizantes, Costa era apresentado nessa noite, numa sala de Lisboa, como o Ronaldo da política portuguesa.
Diria um dia Ronaldo que “a vida não são só golos”, perceberá o dr. Costa que a vida também não se pode fazer apenas e só de bolas à trave. E é o que tem acontecido ao líder do PS.
A queda do dr. Costa nas sondagens, sondagens verdadeiramente aporéticas, reflecte aquilo que tem acontecido ao longo dos últimos meses.
Em Setembro, o dr. Costa partia para as sondagens como o homem-bala. Lançado com ímpeto pelo “canhão” da comunicação social, disparado com pompa por todos os comentadores sem excepção, mas esquecendo-se todos eles que a lei da gravidade prevalece e que, a meio da trajectória, o corpo cai sempre.
Presumiam estes senhores que o tiro não teria queda, que a insustentável leveza do ser (neste caso, o dr. Costa) seria eterna. O voo, o tiro do homem-bala durou menos que o voo de um periquito quando foge da sua gaiola.
Costa perguntará porque tem números inferiores aos que Seguro tinha?
O dr. Costa foi de um oportunismo atroz, ao derrubar Seguro antes da curva da meta. Assistiu a duas vitórias eleitorais de Seguro (as autárquicas e as europeias), fez-se aliado dele até nas selfies com o sr. Schultz mas, ao virar da esquina, traiu o secretário-geral de então e tomou-lhe o poder trepando-lhe pelas costas.
A par disto, virou costas aos munícipes de Lisboa que o tinham eleito um ano antes. Perceberam os eleitores de Lisboa que Costa não queria ser presidente da câmara. A câmara serviria apenas de um trampolim político para outros voos.
Não contente com isto, afastou todo e qualquer segurista do seu secretariado nacional, não deixou Assis falar no seu congresso de consagração, que fora ensombrado pela detenção do ex-primeiro-ministro e ex--líder socialista José Sócrates, de quem tinha sido seu número dois e ministro.
António Costa anunciaria pouco depois que não participaria em nenhum acordo para qualquer reforma deste país, chegando mesmo a rasgar o acordo que Seguro fizera com o governo sobre a descida do IRC para as empresas. Depois das eleições, logo se veria. Convencia-se Costa de que seria poder e governaria com maioria absoluta.
Dizia o dr. Costa que faria um governo com as esquerdas, com todas elas. A única que lhe sobrou foi o Livre, a mais pequena de todas as esquerdas, que não será mais do que uma flor na lapela. As esquerdas desapaixonaram-se de Costa.
Com tamanha desilusão amorosa, inventou à socapa do seu partido esse grande vulto de que o país nunca ouvira falar. O prof. Nóvoa, cujo paradeiro hoje em dia ninguém sabe. Essa invenção correu tão mal que Costa não teve coragem de o apoiar. O PS, atento, não perdoou e lançará em breve a candidatura da ex-ministra da Saúde. Belém para Belém, será o slogan mais provável a soletrar no Largo do Rato. Costa fará como sempre quando está aflito, tirará o tapete a Nóvoa sem dó nem piedade.
Costa apresentou um programa eleitoral encomendado a economistas fora do seu partido, programa esse que desautorizou muitas das suas ideias que apresentara nas primárias. A mensagem era simples: o partido não tinha bons quadros (no seu entender) e teria de contratar um programa em regime de outsourcing.
Amou o Syriza, falou da família europeia socialista, que está mais desunida do que uma família quando discute partilhas, e acabou por dar um valente puxão de orelhas a Tsipras e a Varoufakis quando abandonaram de forma unilateral as negociações para brincarem aos referendos. Viu-se nitidamente grego. E não gostou.
Por último, apresentou os seus cabeças-de-lista. Não chamou nenhum segurista para esses lugares (Álvaro Beleza ou Eurico Brilhante Dias seriam os mais óbvios) e mais uma vez optou por escolher eternos desconhecidos do povo, os “Nóvoas” da vida, de quem tanto gosta mas de quem o povo nunca ouviu falar.
Quintanilha não trará um voto a mais no Bolhão ou na Ribeira, e Manuel Caldeira Cabral dificilmente congregará a fé dos socialistas locais na Cidade dos Arcebispos. Prefere repetir Vieira da Silva, a naftalina da economia socialista, e colocar na segunda linha nomes como Marcos Perestrelo, João Galamba ou Sérgio Sousa Pinto.
O PS está nervoso, não reconhece a sua liderança, e até o PS-Madeira (cuja força se compara à de uma formiga), recusou a escolha por si feita de Bernardo Trindade.
E quando disse que os deputados tinham de ter mãos limpas, azar dos Távoras, Vara fora detido nesse mesmo dia.
António Costa é hoje sinónimo da derrota, da descrença, do desalento e da desilusão.
Deputado do PSD.
Escreve à sexta-feira