29/05/2023
 
 

Os impreparados

Fica o professor Louçã com o mérito dos seus livros, estudos e ideias fortes e fica o Bloco com os rascunhos e os apontamentos, o que é pouco.

Em qualquer situação como esta, para quem escreve, constitui refúgio habitual dizer que à hora em que o faz ainda se não sabe qual é o desfecho para a Grécia.

Seria absurdo. Melhor, seria perfeitamente redundante. Não se sabe agora como se não sabe há muito tempo.
De quem é a culpa? Da Europa, que toma a crise grega como um problema a resolver com mais ou menos medidas de austeridade tentando esquecer o resto, que é tudo? Da Europa, que se une contra uma estratégia negocial suicida? Da Europa, que se cansa da Grécia?

Ou será daquela liderança que reúne, de um lado, as virtudes do extremismo e do outro da especulação universitária que não conhece limites às manobras negociais mais primárias, ou à estranha interpretação da regra democrática?

Entre nós, quando a coisa apertou, o professor Louçã revelou uma inteligência mais elaborada. Pôs-se a milhas e reduziu-se ao comentário. Não dividiu a liderança com outrem, não bicefalou a responsabilidade. E ao ser convidado em 2009 por José Sócrates para ser governo deu-lhe um rotundo não. 

Fica o professor Louçã com o mérito dos seus livros, estudos e ideias fortes e fica o Bloco com os rascunhos e os apontamentos, o que é pouco.

Se o povo português não fosse um povo prevenido, teríamos a incómoda felicidade, hoje, de ter um Syrisa português a governar, a falar em seu nome, a perder o pé.

Os gregos renderam-se, por cansaço, à dupla Varoufakis-Tsipras.

E esta dupla usa-os através da pretensa superioridade científica do génio económico e do populismo do líder.

Assim, enquanto o primeiro se mostra num plano superior ao comum dos mortais, o segundo insiste cunhando a moeda do desespero.

E, muito concretamente, no desrespeito dos princípios da democracia.

Imagine-se o que seria um qualquer governo em Portugal decidir lançar um referendo inconstitucional, com uma pergunta que já não faz sentido porque se refere ao que não existe, num período tão curto como uma semana.

E imagine-se que esse governo lançava os portugueses, pensionistas e outros, nas filas da limitação dos levantamentos, tentando impedir o caos generalizado e a carência absoluta, para depois atribuir a responsabilidade desta violência aos outros.

E pense-se no que de facto pode, depois do referendo, acontecer.

O programa de assistência acabou entretanto, a Grécia deixou de pagar ao FMI, a Europa não negoceia até lá e não se sabe como o fará depois.

Tsipras ganha se o “não” triunfar? 

Varoufakis arrisca dizer que tudo se resolverá rapidamente depois. O problema é todos terem percebido já que a facilidade com que fala é inversamente proporcional às dificuldades que cria.

Tsipras insiste, acusa, ataca. Percebe--se como se sente acossado.

Cautelarmente, vai dizendo que o “não” não é o abandono da Europa. Rompe com ela e vai endereçando cartas confusas e apelos à negociação àqueles que acusa de chantageadores. É fraco e forte, ao mesmo tempo. É sombra e luz.

A verdade constatada pelos gregos é que com amigos destes não precisarão de inimigos.

Não precisa a Europa de se preocupar mais, não precisa o senhor Schäuble de manifestar o seu desdém. Não será necessário à Europa incomodar--se com demitir o primeiro-ministro grego.

O atormentado povo grego se encarregará de o fazer.

Quem poderá confiar em Tsipras como solução para a Grécia?

Até o Dr. António Costa, seu admirador em tempos próximos, se fartou dele e lhe puxou as orelhas.

Uma frase esclarecedora se lhe ouviu: “Mais vale mantermo-nos em terra firme do que ir em aventuras.”

O Dr. Passos Coelho agradece.

Deputado do PSD
Escreve à sexta-feira

Os comentários estão desactivados.


×

Pesquise no i

×
 


Ver capa em alta resolução

iOnline