
Aos 11 anos passou num quiosque com a mãe e viu uma revista "Playboy" com a sua ídolo na capa: a voluptuosa Pamela Andersen. Perguntou se a mãe podia comprar, mas a resposta foi negativa, porque era "uma revista para adultos". Ana Dias, não se deixou ficar e levou a publicação sem ninguém perceber... nem mesmo o dono da loja.
Foi o seu primeiro contacto com a revista, sem imaginar que 19 anos mais tarde viria a ser a única fotógrafa portuguesa com tantas contribuições para aquela publicação. Já lá vão 26, em 15 países diferentes: Portugal, Sérvia, México, África do Sul, Eslovénia, Croácia, República Checa, Itália, França, Polónia, Bulgária, Alemanha, Roménia, Brasil e Grécia.
Quando ainda dava aulas de litografia, gravura e serigrafia na Escola Superior Artística do Porto, Ana Dias descobriu a paixão pela fotografia e, ao mesmo tempo, "o fascínio pelo corpo humano, pelo corpo da mulher". Começou por fotografar amigas, mas foi o prémio do site "Olhares" que a atirou definitivamente para a profissão. O trabalho de sabor vintage com três modelos - duas russas e uma brasileira, uma ruiva, uma loira e uma morena - a que chamou "Big girls don"t cry", abriu-lhe as portas em Portugal e no estrangeiro. No Porto começou por fazer books de aspirantes a modelos e fotos de manequins consagrados, além de catálogos de moda e algumas fotografias publicitárias. Saiu do Porto para Lisboa há seis anos. Mora e fotografa no Chiado.
Ana Dias sempre comprou revistas "Playboy", sobretudo as mais antigas. Nas viagens, conta-nos, costuma comprar as versões nacionais da revista fundada por Hugh Hefner. Um dia comprou a "Playboy" na Polónia e o anúncio de um concurso de fotografia levou-a a concorrer a um desafio semelhante, mas na versão sérvia. Ganhou o 3.o lugar e a partir daí nunca mais deixou de fotografar para a "Playboy".
Normalmente, explica, "os responsáveis da revista enviam representantes e as modelos a Portugal para as sessões fotográficas". Ou, em alternativa, é ela mesmo que se desloca aos países. Por cá trabalhou para a versão portuguesa da revista norte-americana e, no pouco tempo que funcionou, ainda teve tempo para fazer algumas capas, a primeira com a modelo Raquel Henriques. A publicação acabaria por fechar em 2013. "Neste momento não há nenhuma revista erótica portuguesa", lamenta.
A marca "Ana Dias Photography" assume a fotografia erótica e é nessa área que gosta de trabalhar. Em Portugal, refere, "é muito difícil fotografar nus de mulheres bonitas ou modelos. Mais do que nos restantes países". Em alguns casos, recorda, "estava tudo pronto para a sessão fotográfica e telefonam a dizer que engordaram dois quilos, que a mãe ou o namorado não deixam ou outras desculpas".
A fotógrafa do Porto prefere trabalhar com mulheres porque "o corpo delas é mais bonito do que o dos homens". É heterossexual, esclarece, mas prefere mulheres para fotografar. Ana Dias acrescenta que "as fotos eróticas de homens quase não têm lugar nas revistas - a "Playgirl" abriu por pouco tempo - com excepção das dirigidas à comunidade gay, até porque às mulheres não lhes interessa muito ver fotos eróticas de homens".
Apesar de fotografar muitos tipos de mulheres, para Ana Dias o ideal de beleza continua a ser "uma mulher de olhos claros e afastados, cabelos claros, testa alta, nariz empinado, lábios carnudos e magra". Gosta de fotografar mulheres que se sintam à vontade e confortáveis com o seu corpo, "porque se nota perfeitamente nas fotos". No que diz respeito às plásticas, não é fundamentalista, mas aprecia "o natural". Se lhe dessem a escolher duas mulheres para fotografar, uma portuguesa e uma estrangeira, "escolhia Sara Sampaio e Marion Cotillard... e Pamela Andersen". Claro.