A surpresa surgiu quando numa entrevista à CNN Portugal, em resposta a uma pergunta sobre candidatos presidenciais, Pedro Nuno Santos incluiu o nome de António José Seguro na lista de nomes possíveis a apoiar pelo partido.
O nome do ex-líder dos socialistas não foi lançado por acaso. Há muito tempo que a ala do PS mais moderada aposta numa candidatura presidencial, e se no início da legislatura se apostava no nome de Francisco Assis, depois da sua partida para Bruxelas como deputado europeu, as atenções viraram-se para António José Seguro.
Ao que o Nascer do SOL apurou, têm havido muitas conversas nos últimos meses, no sentido de dar corpo a uma candidatura presidencial que possa ser assumida pelos socialistas. Aos nomes mais sonantes, juntam-se muitos militantes de base do partido que nunca perderam a esperança de verem um regresso à política de Seguro e muitos deles, diz-nos um socialista próximo do antigo secretário geral, «queriam que ele regressasse à vida partidária. Ele deixou uma imagem de credibilidade e há muita gente a pedir para ele voltar». E se este militante socialista vê com bons olhos uma candidatura presidencial, já não aconselha um regresso ao partido.
Quem tem a palavra final é Seguro
Vaga de fundo existe, mas neste momento ninguém arrisca antecipar qual é a vontade de António José Seguro. Dizem os mais próximos que ele não é pessoa para se deixar influenciar e que toma as decisões depois de uma ponderação pessoal que não partilha com ninguém.
A verdade é que apesar de se manter distante dos grandes palcos políticos desde que abandonou a liderança do partido, o antigo líder dos socialistas deixou muitas ligações no partido e, pontualmente, marca presença em eventos «que são sempre muito concorridos». Dedicado à sua atividade letiva e a negócios particulares que desenvolveu desde que abandonou a atividade política, Seguro fez questão de não voltar a pronunciar-se sobre temas de política caseira, não deixando no entanto de colaborar em atividades para que é convidado.
«Os laços com o partido não se perderam e isso facilita um regresso se essa for a escolha dele», dizem-nos. Três momentos recentes serviram para alimentar as esperanças dos que gostariam de ver uma candidatura presidencial de Seguro. A participação num debate organizado pelo social-democrata Carlos Coelho – ainda antes da crise política que acabaria por deitar abaixo o Governo de António Costa – com Assunção Cristas ao seu lado, para falar de Europa, os dois acabaram por ser alvo de perguntas sobre um eventual regresso à política. Na altura, Seguro acabou por dar uma resposta aberta: «Não tenho no horizonte qualquer regresso. Mas não serei hipócrita ao ponto de dizer nunca». Já em plena pré-campanha para as eleições europeias, o ex líder socialista aceitou o convite para participar num debate organizado pela secção do PSde Queluz, e assim que se soube da sua participação, a estrutura partidária viu-se obrigada a mudar a sala do encontro e mesmo assim «muita gente protestou por ter de ficar em pé», diz-nos um dos organizadores que, acrescenta, que «sempre que ele aparece, as salas enchem-se para o ouvir».
Mas há um terceiro momento recente que alguns apoiantes consideram «premonitório». Há cerca de seis meses, António José Seguro foi convidado para ser um dos oradores principais no encontro anual da Associação de Mediadores de Seguros de Portugal. No mesmo evento, no ano anterior, o convidado de honra tinha sido Marques Mendes, os dois encheram as salas com um ano de intervalo e quem assistiu diz ter ficado surpreendido com a adesão que a intervenção de Seguro provocou. No final do encontro, a circunstância de o anterior convidado ter sido Marques Mendes, que não esconde a sua ponderação sobre uma candidatura presidencial, levou alguns dos presentes a abordarem o tema de uma candidatura a Belém de António José Seguro. Uma hipótese que fez Seguro sorrir, mas que não comentou.
Voltemos à entrevista de Pedro Nuno Santos e à surpresa de acrescentar o nome de Seguro à lista dos presidenciáveis socialistas. Porque o terá feito?
«Para ficar bem visto dentro dos socialistas», justifica um apoiante de Seguro. O secretário-geral está consciente das movimentações que se vão fazendo discretamente, e a hipótese Seguro já lhe foi mesmo apresentada por alguns dos seus apoiantes mais moderados. No momento em que se sente o partido dividido em torno da decisão a tomar quanto à votação do Orçamento do Estado, Pedro Nuno Santos inclui o nome de Seguro como possível candidato a Belém, sabendo que isso agrada a muitos dos que contestam a estratégia que o líder tem adotado nos últimos tempos, que acabou por ser a da abstenção no Orçamento.