48 anos do CDS-PP: As bandeiras de Telmo Correia na sede de Nuno Melo, a gritar ‘viva’ ao partido que, dizem, não está morto

48 anos do CDS-PP: As bandeiras de Telmo Correia na sede de Nuno Melo, a gritar ‘viva’ ao partido que, dizem, não está morto


Se, de manhã, o Centro de Congressos de Aveiro foi o palco do 30.º Congresso do CDS-PP, a parte da tarde foi dedicada à celebração dos 48 anos de vida do partido. Para tal, figuras como Telmo Correia, Cecília Meireles e Mota Soares, entre outros, tomaram o púlpito.


O CDS-PP poderá ter perdido o lugar na Assembleia da República, mas desengane-se quem acha que o partido está morto. Ou, pelo menos, é esta a mensagem que o partido quer passar, pela voz de Nuno Melo, o seu presidente, mas não só. A parte da tarde de sábado serviu para celebrar os 48 anos de vida do partido, com intervenções de António Lobo Xavier, Cecília Meireles, Pedro Mota Soares, Isabel Galriça Neto, Luís Mira, Francisco Camacho, Paulo Núncio, Telmo Correia, José Manuel Rodrigues e, para fechar, Nuno Melo, que anunciou: "Como primeiro ato político de órgãos saídos deste Congresso, pedirei a Miguel Morais Leitão e a António Lobo Xavier para junto de destacadas personalidades deste partido prepararem as bases do novo programa de partido que depois em Conselho Nnacional será votado dentro de, mais ou menos, seis meses".

Falou-se de tudo nestas quase duas horas de celebração: do Novo Aeroporto de Lisboa à Saúde, da Eutanásia à Inflação, da 'morte' do CDS ao seu 'renascer', o que não faltou foi tema de conversa.

O evento ficou marcado, no entanto, pelas bandeiras. Literal e figurativamente. No momento de tomar o púlpito, o antigo líder parlamentar centrista, Telmo Correia, começou por defender o importante papel de Portugal na Europa, mas rapidamente saltou para um tema mais doméstico: "Nós somos um partido nacional. Para outros, a questão da regionalização é uma questão de momento. Ou é agora, ou adiamos – o referendo é incontornável. Espero que o CDS não esteja a discutir o momento, porque Portugal é um e não será retalhado. Ter um partido nacional é ter uma visão e defender o território, defender o mundo rural", defendeu, num longo discurso em que abordou também a polémica em torno do caso das duas crianças de Vila Nova de Famalicão cuja guarda o MP quer deixar a cargo da escola. Foi no final, no entanto, que veio o momento alto desta intervenção: Telmo Correia desfraldou uma bandeira do CDS-PP que demonstra já sinais de idade e que, disse, esteve no gabinete do então líder da bancada centrista na Assembleia da República até à perda da representação parlamentar.

Como gesto simbólico, entregou essa mesma bandeira a Nuno Melo, defendendo: "O objetivo tem de ser colocá-la no coração dos portugueses, e mantê-la lá, na AR, onde é o nosso lugar".

O Presidente do CDS-PP respondeu no mesmo tom de comoção, e deixou uma promessa para já. Essa bandeira, "que é nossa, e que nos diz tanto, para já, será hasteada na nossa sede, no Largo do Caldas, que é nossa e não é de mais ninguém", disse, numa crítica sorrateira a quem chegou a avançar que a sede do partido seria vendida para colmatar a crise financeira do CDS-PP. Mas não deverá ficar por aí, pois Nuno Melo, tem esperança de que ele próprio poderá devolver essa mesma bandeira ao gabinete parlamentar do CDS-PP na Assembleia da República, caso volte a conquistar lugares no hemiciclo.

Melo discursou pela terceira vez neste dia, mas nem por isso ficou sem temas. Repetindo as declarações já dadas ao Nascer do SOL na entrevista publicada na edição do jornal deste sábado, o líder centrista criticou o Parlamento 'mudo', bem como a moção de censura promovida pelo Chega que, acima de tudo, argumenta, se tratou de um frete e de um simulacro de censura, já que o Governo não pode 'cair' nos primeiros seis meses de legislatura.

"100 dias da governação são o que aqui se vê: parece velho, realmente, desgastado e principalmente dividido. Isto é assim com 100 dias de governação, imaginem agora com 1000 dias de governação. Portugal não aguenta 1000 dias de um Governo assim", acusou ainda o líder centrista, argumentando que "o que sucedeu com o novo aeroporto não é um incidente, não é um episódio, é um sintoma". "Um sintoma de uma governação que está em fim de si. Não é aceitável que numa obra infraestrutural do regime, o PS se tenha permitido instrumentalizar o novo aeroporto para tratar de uma disputa dentro do partido", continuou.

Os incêndios – onde Melo acusou não haver "nada mais socialista do que isto", referindo-se à compra de dois Canadairs para combater as chamas, agora, e não no inverno, previamente aos incêndios; e até uma família de luso-venezuelanos "que encontraram aqui um porto seguro fugindo do comunismo", e que mereceram as palmas do público presente, foram também marcas deste discurso.

Ah, e, claro, o PRR, onde o líder centrista aproveitou para atirar farpas: "Temos uma bazuca que é feita à medida do Estado, mas não do país, que é executada à velocidade do PS e não da economia, e isto faz toda a diferença", acusou, apontando o dedo às contas: segundo os dados trazidos a Aveiro por Nuno Melo, foram feitas sete vezes mais aprovações para o Estado do que para as empresas, nomeadamente as PMEs, no que toca ao PRR. Já no que toca aos pagamentos para as empresas públicas, contaram-se 24 vezes mais aprovações do que para o setor privado. "A questão é: em que país é que vive? Este é um país em que quem gera riqueza, cria emprego, através dfisso garante em impostos retorno para quem mais precisa, são os trabalhadores e as empresas, não é o setor público nem a TAP, que, como tantas empresas que o Governo gere, não dá exemplo", criticou o líder centrista.

 

Um pouco de tudo

Mas a sessão foi longa, e mesmo antes de Nuno Melo ter falado, já os principais temas da 'espuma dos dias' tinham sido debatidos. Desde as críticas de Galriça Neto à falta de investimento nos cuidados paliativos, preferindo priorizar, disse, a eutanásia, até às queixas sobre a inflação de Mota Soares, que exigiu ao Governo que se esforce mais no âmbito da concertação social, e que considerou não ser 'justo que "o Governo fique com uma parte do aumento dos salários tão precisos para aumentar o poder de compra dos portugueses". 

"Ver esta sala cheia e ter estado no Congresso que aqui se realizou, ver um partido dinâmico, com esta vitalidade, tão representado de Norte a Sul de Portugal, ver que este partido com 48 anos impressiona-me com a sua vitalidade. Há muitos lá fora que falam da morte do CDS, mas só me lembro da célebre frase ‘As notícias da nossa morte foram gravemente exageradas’", disse Mota Soares, replicando as palavras já referidas por várias das personalidades do partido que intervieram.

Destaque-se ainda o 'fôlego' dado por José Manuel Rodrigues, presidente da Mesa do Congresso e da Assembleia Legislativa Regional da Madeira, às coligações entre o PSD e o CDS, muito fortes no arquipélago da Madeira, onde são Governo; e de Francisco Camacho, líder da Juventude Popular, que elencou os principais problemas que os jovens no país enfrentam. "Temos de ter um CDS fulgurante, capaz, que defenda que as novas gerações têm o direito a ter o direito à propriedade. Um partido personalista, com capacidade de responder seguro e claro, de fazer um levantamento do património público e, identificando-o, que o devoluto deve ser, em primeiro lugar, dedicado à habitação, orientado às novas gerações, a políticas de arrendamento", considerou o líder da JP, concluindo: "A juventude portuguesa reclama por respostas, e acredito que estão no CDS. Não nascemos ontem e, conforme vejo nesta sala, não morremos amanhã".

"Que bela é a vista daqui. Que grande é o nosso partido. Sempre que o CDS participou num Governo, o país ficou mais próspero e mais humanista. Enquanto não estivemos no Governo, fomos sempre uma oposição implacável à esquerda e ao socialismo", resumiu ainda Paulo Núncio, antigo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais de Portugal, entre 2011 e 2015, considerando ser "profundamente imoral e perverso que o Estado seja a única entidade a ganhar com isso [com a inflação]". "Por isso renovamos o apelo feito ao PM: Utilize parte dos 3 mil milhões de euros impostos cobrados a mais e reduza, já, os impostos sobre o cabaz alimentar dos portugueses e sobre os combustíveis e a eletricidade", pediu ainda Núncio.

No auditório principal do Centro de Congressos de Aveiro ouviu-se ainda a voz de Luís Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal, que, apesar de não ser militante, se mostrou disponível a apoiar o partido, argumentando ser a principal estrutura política em Portugal a fazer do mundo rural uma das suas bandeiras. 

Houve ainda tempo no fim da sessão em Aveiro, a "capital do CDS", como muitos lhe foram chamando ao longo do dia, para fazer uma homenagem a Adriano Moreira, fechando uma sessão que ocupou o Centro de Congressos de Aveiro durante praticamente 10 horas consecutivas.