‘Tragédia’ em Severodonetsk

‘Tragédia’ em Severodonetsk


Depois de constantes ataques fatais à Ucrânia, analistas afirmam que o exército russo pode estar a perder a sua força, uma oportunidade que Kiev vai querer explorar. 


Numa altura em que as forças russas já conquistaram Severodonetsk à Ucrânia, Kiev alerta que esta cidade pode «estar à beira de uma tragédia humanitária», podendo tornar-se a próxima Mariupol, cidade devastada pelos constantes ataques do Kremlin.

O governador de Lugansk, Serhiy Gaidai, descreveu a devastadora situação em que se encontra a cidade, revelando que, uma vez que «não existe abastecimento centralizado de água, gás ou eletricidade» esta está «à beira de um desastre humanitário».

«Existe um grande problema com os esgotos. As estações de tratamento não estão a funcionar, assim como as estações de bombeamento. Os esgotos estão a acumular. A juntar a isto há a temperatura do ar e o fedor dos mortos – aqueles que foram enterrados em quintais, e os muitos que permanecem em apartamentos e entradas. Severodonetsk está a testemunhar um desastre humanitário», disse Gaidai.

Segundo o jornal inglês The Guardian, ainda há cerca de 15 mil civis ucranianos em Severodonetsk, que serve de ponto estratégico para que os russos consigam controlar a região, apesar de estes números não terem sido confirmados.

A situação na Ucrânia está bastante complicada, nomeadamente, depois da conquista de Lugansk e de ataques fatais, durante esta semana, em Sloviansk, onde foram registadas pelo menos duas mortes e os cidadãos foram aconselhados a evacuar.

Contudo, apesar desta agressiva ofensiva, alguns especialistas estão otimistas quanto à hipótese de a Ucrânia conseguir contrariar os esforços russos uma vez que estas primeiras vitórias do Kremlin podem ter consumido demasiados reforços e comprometer o futuro a longo prazo das forças da Rússia. «Tomar as cidades do este significa que 60% das forças russas estão agora concentradas nesta região e é difícil agora serem redirecionados para o Sul», disse o conselheiro do Presidente Volodymyr Zelensky, Oleksiy Arestovych. «Não há mais forças que possam ser trazidas da Rússia. Pagaram um preço alto por conquistar Severodonetsk e Lysychansk». Para além de aproveitar esta fraqueza do exército russo, a Ucrânia também pretende «estrear» as armas recentemente enviadas pelo Ocidente, nomeadamente o arsenal de mísseis doado por Estados Unidos e Reino Unido. «Esta foi a última vitória da Rússia em território ucraniano», disse Arestovych

Cereais roubados

Para além das batalhas terrestres, Ucrânia e Rússia também se enfrentam no alto mar, com Moscovo a ser acusado de roubar toneladas de cereais a Kiev. Esta sexta-feira, a Turquia foi acusada de ter permitido ao navio russo Zhibek Zholy zarpar, quando este era acusado de transportar um carregamento de cereais ucranianos. O Governo da Ucrânia convocou o embaixador turco para perceber o porquê desta decisão. Isto quando se teme que o desvio de cereais ou o bloqueio ao seu comércio crie uma crise alimentar de contornos globais. «A guerra da Rússia contra a Ucrânia, um dos principais produtores de trigo, fez as exportações serem interrompidas e há crescentes acusações que Moscovo está a roubar produtos do seu vizinho», escreve o Al Jazeera.

A polémica em torno do Zhibek Zholy é também um importante teste de «lealdade» para a Turquia. O Governo de Recep Tayyip Erdogan tem ocupado uma posição «impossível», mantendo-se simultaneamente «pró-Ucrânia, não sendo necessariamente anti-Rússia», frisou um analista.

Esta nação tem servido como intermediário entre a União Europeia e a Rússia. Como tal, até agora, as autoridades turcas evitaram desencadear confrontos com Moscovo, deixando impunes embarcações russas com produtos alegadamente roubados.