Ricardo Gonçalves, antigo deputado à Assembleia da República pelo PS por cinco legislaturas, quebrou a quase unanimidade no Congresso de Portimão e dirigiu fortíssimas críticas a António Costa.
«Isto está cada vez pior. A vida a subir, os salários baixos, os impostos grandes. As despesas imensas, os encargos brutais, a habitação caríssima – eu não sei onde é que isto vai parar, camaradas, e nós devíamos era tratar disso em vez de tratar da sucessão de Costa e em vez de estarmos aqui a elogiar-nos uns aos outros», disse na tribuna de Portimão Ricardo Gonçalves aos seus camaradas socialistas. Já ía longo o primeiro dia de trabalhos e as televisões já tinham desligado as câmaras.
Ao Nascer do SOL, o sempre inconformado congressista explicou que, apesar de fazer oposição interna a Costa, como já havia feito a José Sócrates, não consegue ter exposição mediática: «Lá consegui falar, à uma da manhã, e mesmo assim foi complicado. Alguns jornalistas ainda tentam fazer alguma coisa, mas são barrados pelos editores: ‘ninguém conhece o gajo, deita isso para o lixo’ – dizem-lhes». Quanto ao Congresso de Portimão, expande as críticas. A seu ver, o facto de estar «tudo a elogiar o Governo e todos a elogiarem-se uns aos outros» faz com que o Congresso não sirva para coisa alguma: «Dos principais críticos, ninguém falou. O Sérgio esteve lá, cumprimentou e foi embora. O Assis não foi por razões óbvias, e o Beleza foi e não falou». Para Ricardo Gonçalves, este silêncio «é um problema», pois «não há boa democracia sem bons partidos». É, aliás, «sempre» esse o problema em Portugal: «Os partidos afundam-se e o sistema vai com eles». E não exclui o PS: «O PS tem baixado o seu nível. O PS não é nada do que já foi em termos de lideranças. O partido, em si, é uma coisa que não tem nada a ver com o partido de há uns anos atrás». Tal, explica, deve-se ao facto de «hoje não haver debate político, a sério e forte». Apesar de concordar com a existência de «muitos estudos e comissões», defende que «a política tem de ser teoria e prática: se tiver só teoria somos todos académicos, se tiver só prática somos todos caciques».
E desabafa que gostaria que a alternativa a António Costa surgisse através de «Assis, Sérgio Sousa Pinto ou Álvaro Beleza».