Médicos do serviço de ginecologia e obstetrícia do Garcia de Orta ameçam demissão em bloco após afastamento do diretor

Médicos do serviço de ginecologia e obstetrícia do Garcia de Orta ameçam demissão em bloco após afastamento do diretor


Na origem do afastamento do diretor do serviço estarão críticas que fez à administração e à direção clínica do Garcia de Orta relacionadas com medidas tomadas durante o combate à covid-19.


Os médicos do serviço de ginecologia e obstetrícia do hospital Garcia de Orta, em Almada, entregaram uma carta Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, onde expressam o seu apoio ao até então diretor do serviço, Alcides Pereira, e onde ameaçam a demissão em bloco devido ao seu afastamento.

Na carta, a que o SOL teve acesso, o grupo de profissionais elogia o trabalho desenvolvido por Alcides Pereira e destaca o seu esforço para manter “um corpo clínico estável e motivado”.

No mesmo documento, os médicos do serviço de ginecologia e obstetrícia do hospital Garcia de Orta destacam as dificuldades enfrentadas devido à pandemia de covid-19 e a forma como o Serviço se teve de “adaptar seguindo as normas da DGS e do CA (Conselho de Administração) , tentando assegurar o acompanhamento de utentes com segurança”. Os profissionais de saúde enunciam que esta adaptação “obrigou a mudanças, por vezes radicais e céleres, na organização do Serviço e do trabalho dos profissionais, com necessidade de uma forte coordenação em termos de organização de médicos, enfermeiros, auxiliares e naturalmente outros profissionais”.

“Só uma capacidade de organização fora do habitual permitiu atingir estes objetivos”,  referem, realçando que “tudo isto foi possível com enorme esforço e trabalho de todos, e sobretudo pela capacidade exemplar do Diretor de Serviço na organização das atividades, tarefas e motivação de todos”.

“Face ao exposto é com surpresa que tomamos conhecimento da decisão efetuada pelo CA em relação ao nosso Diretor de Serviço. Reiteramos, por isso, aqui o nosso apoio ao Dr Alcides Pereira, reconhecendo a importância da presença de um elemento unificador e dinamizador do grupo, particularmente na circunstância atual, em que é necessária uma gestão adequada e rápida face a situações em constante evolução”, destacam.

Segundo os profissionais de saúde, “a discordância que pode ter ocorrido entre o Dr Alcides e o CA resulta da sua permanente preocupação com as utentes e os profissionais do Serviço (e não só), que todos agradecem”.

Desta forma, os médicos apelam que a decisão seja revista “por colocar em causa não apenas a pessoa do nosso Diretor, mas também um Serviço que, apesar do seu passado próximo, mostrou ser possível ultrapassar dificuldades, com dedicação, empenhamento, vontade e bom senso de todos”.

“ O Dr Alcides Pereira faz parte desse projeto e da sua dinamização, dessa construção que se foi fazendo com as pessoas e pelas pessoas das diferentes áreas que integram esta unidade, que achamos estar colocada em causa caso se mantenha a decisão apresentada”, lê-se na carta.

Em declarações à TSF, o médico Alcides Pereira revela que se opôs, por exemplo, à decisão de juntar na mesma enfermaria grávidas com e sem covid-19, quando "havia enfermarias dedicadas a doentes covid completamente livres" e que foi demitido por criticar decisões como esta.

Esta sexta-feira, o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) já tinha anunciado que o diretor do serviço de ginecologia e obstetrícia do Hospital Garcia de Orta, em Almada, foi demitido pelo Conselho de Administração daquele hospital e que este foi demitido "de forma indigna".

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