Sinal vermelho à coligação semáforo de Olaf Scholz

Sinal vermelho à coligação semáforo de Olaf Scholz


Quase 80 por cento dos alemães estão insatisfeitos com o Governo liderado por Olaf Scholz.


O Governo alemão, solução ‘semáforo’ que junta sociais-democratas, verdes e liberais, não está a convencer os eleitores. Segundo resultados de uma recente sondagem da ARD-DeutschlandTREND, 79 por cento dos inquiridos afirmam-se insatisfeitos com o desempenho da coligação. A ameaça de uma recessão, indissociável da crise energética, e o aumento da imigração, estão entre as principais preocupações dos alemães.

E as eleições nos Estados da Baviera e em Hesse, que representam um quarto dos eleitores do país, podem ser lidas como prelúdio do próximo ciclo político na Alemanha.

Caso à parte

Maior estado da Alemanha em território, segundo maior em população (13 milhões de habitantes), e um caso de sucesso económico no pós-Guerra (passando de estado mais pobre da Alemanha para, por PIB, sexta economia europeia), a Baviera é, em muitos aspetos, um caso à parte.

Para além da desconfiança face a Berlim, o ‘estado livre da Baviera’ distingue-se por uma cultura conservadora que o torna terreno pouco fértil para a esquerda. A União-Social Cristã (CSU), ala regional da União Democrata Cristã (CDU), está mais à direita do que ao centro.

Mas para Markus Söder, líder da CSU e atual ministro-presidente da Baviera, as eleições traziam riscos. Um resultado inferior a 35 por cento seria uma derrota, e poderia complicar as perspetivas de uma coligação de governo confortável. O grande desafio para Söder, um conservador que acusa os verdes de atacarem tudo o que os bávaros apreciam e que, em 2018, ordenou que se pendurasse uma cruz nos edifícios públicos como expressão “do caráter histórico e nacional da Baviera”, estava à direita.

O aviso de Strauss

O líder histórico da CSU, Franz Josef Strauss, tinha um dia deixado o alerta: “Nenhum partido democrático pode surgir à direita da CSU”. Na Baviera surgiram dois. E, depois de uma campanha marcada por acusações e tensões, o resultado é o de que a CSU, embora vencedora, teve, com 36,6 por cento dos votos, o pior resultado desde 1958.

O primeiro, os Eleitores Livres, é um partido regional crítico de Berlim, que conseguiu 11,6 por cento dos votos em 2018, retirando à CSU a maioria absoluta e forçando uma coligação. O líder, Hubert Aiwanger, coleciona polémicas, incluindo acusações de, enquanto jovem, ter feito comentários antissemitas. E, mais à direita, a Alternativa para a Alemanha cresceu, conseguindo 14,6 por cento dos votos. Mas a CSU consegue reeditar a coligação anterior, evitando um entendimento com a AfD.

Em Hesse, a CDU venceu com 34,5 por cento dos votos, mantendo-se no poder e reforçando a sua posição face a 2018. Para isso o incumbente, Boris Rhein, tendo denunciado em campanha o “caos esquerdista-verde de Berlim”, deverá manter a aliança com os Verdes, que perderam quase 5 por cento dos votos nestas eleições.

Coligação chumba, AfD cresce

As eleições de domingo marcaram também o arranque de uma série de eleições estaduais. E numas eleições regionais em que o debate se fez sobretudo em termos nacionais, os resultados foram uma derrota simbólica para o governo de Olaf Scholz, fortemente criticado durante a campanha por todos os partidos à direita, especialmente pelas suas políticas de energia e imigração.

Os três partidos da coligação perderam votos face a 2018: o SPD, na Baviera, teve apenas 8 por cento, e os liberais, com apenas 2,9 por cento, ficaram fora do parlamento. Em Hesse, o SPD passou de 19,8 para 15,1 por cento. A candidata era a atual ministra do Interior e responsável pela pasta das migrações, Nancy Faeser.

Isto numa noite em que a AfD foi a formação que mais cresceu, sendo a segunda força mais votada em Hesse e terceira na Baviera. Os resultados reforçam a possibilidade de a direita radical ter ganhos significativos nos estados de leste, terreno que tende a ser-lhe mais favorável.

E apesar das (já esperadas) vitórias da CSU e da CDU, o crescimento da AfD e o aparente desgaste do Governo podem desencadear um debate sobre a estratégia e liderança do maior partido (agora) na oposição, a dois anos das eleições gerais.