Medidas para combustíveis aliviam mas não são suficientes

Medidas para combustíveis aliviam mas não são suficientes


Revisão do imposto é considerada insuficiente. Especialistas alertam que há espaço para os preços continuarem a subir.


Os preços dos combustíveis não param de aumentar, o que já levou a uma intervenção do Governo. O Executivo determinou a devolução da receita adicional do IVA, por via do Imposto sobre os Produtos Petrolíferos (ISP). Mas será esta uma boa ajuda? «São medidas que certamente aliviam um pouco as pressões que estamos mais uma vez a observar sobre os preços dos combustíveis», começa por defender Henrique Tomé, analista da XTB que não considera, no entanto, que seja suficiente. «A elevada carga fiscal contribui muito para que os preços dos combustíveis estejam em valores tão elevados». E reconhece que ainda há espaço para mais medidas do Governo.

Também a Associação Nacional de Revendedores de Combustíveis (Anarec) defende que as medidas são insuficientes, mesmo aplaudindo a ajuda do Governo. A associação lamenta «que os valores apontados sejam manifestamente insuficientes, para combater a asfixia sentida diariamente pelos consumidores e pelas empresas portuguesas quando abastecem as suas viaturas», acreditando queexiste margem para reduzir ainda mais o ISP, tendo em conta que a receita extraordinária do IVA «se revela muito superior».

O Nascer do SOL tentou perceber a que se devem estes aumentes constantes dos últimos meses. São justificados com a «subida do preço do barril de petróleo e seus derivados, tais como as margens de refino no que respeita ao gasóleo», explica Paulo Rosa, economista do Banco Carregosa, acrescentando que «a subida da cotação do petróleo acelerou ainda mais depois do dia 5 de setembro, após a Arábia Saudita e a Rússia terem prorrogado o corte de produção até ao final do ano».

Já Henrique Tomé dá várias razões. Por um lado, «as variações no mercado cambial, onde o euro tem vindo a desvalorizar em relação ao dólar americano de forma significativa», relembrando que, nos últimos três meses, o euro já desvalorizou mais de 3% em relação ao dólar americano. Por outro lado, o preço do petróleo continua a subir por via das restrições à produção impostas pela Arábia Saudita e Rússia. «Ambos os países são players importantes no mercado petrolífero e os cortes no fornecimento estão a aumentar o défice no mercado e, nesta altura, estima-se que o défice por dia seja de 2 milhões de barris», avança o analista. Junta-se o facto de a procura mundial «ter aumentado para níveis recorde também faz uma pressão ascendente nos preços». Deste modo, diz Henrique Tomé, «temos um choque cambial que faz aumentar o preço pelo custo da moeda estrangeira, temos um choque na oferta onde temos os principais players a reduzir a sua produção e por último, temos um aumento da procura. Todos estes fatores fazem empurrar o preço para cima».

Sobre se os preços podem continuar a subir, os especialistas dizem que pode acontecer. Paulo Rosa explica que os países da OPEP+, sobretudo a Arábia Saudita, «pretendem ter uma receita estável». Ou seja, «se a procura diminuir, influenciada pela desaceleração económica global, o preço do barril de petróleo tende a cair, reduzindo, assim, a receita da OPEP+». O economista acrescenta que, «perante esta descida da receita, os países da OPEP+, nomeadamente a Arábia Saudita, tentará recuperar a receita perdida, cortando a sua produção. Menor oferta tende a impulsionar os preços, mantendo a receita dos países da OPEP+».

Já o analista da XTB diz que «há espaço para os preços dos combustíveis continuarem a subir», destacando que existem bancos de investimento que referem mesmo que o preço do barril deverá chegar em breve aos 100 dólares «e não descartam a possibilidade de subir até aos 150 nos próximos meses». No entanto, «à medida que os preços sobem e se mantêm elevados, a procura deverá começar a diminuir, por outro lado o arrefecimento macroeconómico sentido na Europa e na China poderá fazer uma pressão descendente na procura». Diminuição que deverá penalizar a cotação do petróleo nos mercados internacionais e levar a quedas nos preços dos combustíveis, diz Henrique Tomé. «Ainda não foi há muito tempo em que observámos no início deste ano o preço do petróleo (crude)  passar de 80 para 64,5 dólares em apenas 3 meses».

O economista do Banco Carregosa diz que os 100 dólares por barril de brent nos próximos tempos «são um hipótese plausível diante da atual postura da Arábia Saudita e da Rússia». Entretanto, acrescenta, «a depreciação do euro face ao dólar nos últimos dois meses, também encarecem o barril de petróleo para Portugal».

Já Henrique Tomé não tem dúvidas: «Vivemos períodos de grande incerteza e o futuro dos preços dos combustíveis é bastante incerto». No entanto, defende que dada toda a conjuntura apresentada, «será de esperar que os preços continuem a subir nos próximos 2/3 meses». Posteriormente, «se os preços se mantiverem elevados, além da procura começar naturalmente a diminuir, poderá também haver intervenções no mercado, por exemplo, uma redução da carga fiscal a fim de se mitigar parte das subidas que têm sido alimentadas sobretudo pelos membros da OPEP» l