Ofensivas de Primavera: bélicas e diplomáticas


Depois de um ano de guerra na Ucrânia as televisões, parte interessada, anunciaram não uma, mas duas ofensivas, uma por cada um dos beligerantes.


Inteligentes, não artificiais, mas televisivos, explicaram, com convicção e certeza meteorológica, o período temporal das ofensivas: o equinócio da Primavera. Como muito bem sabe o Professor Karamba o negócio das previsões é falível e os “resultados garantidos” não estão submetidos aos ditames do Código da Publicidade. Passado o 21 de Março as ofensivas fazem-se esperar. Graças ao benemérito Jack Teixeira ficámos a saber o que os americanos pensam sobre as capacidades bélicas de ucranianos e russos: as possibilidades de grandes alterações no equilíbrio de forças é reduzida e a guerra, qua tale, está para durar.

Esta é a boa notícia. O credo numa avançada triunfal por parte de qualquer um dos  beligerantes traria um escalar do conflito capaz de transformar uma guerra regional por procuração numa curta ante-câmera da III guerra mundial.

A transformação da guerra na Ucrânia num “conflito congelado”, como foi durante vários anos a “guerra civil” no Donbass, serve diversos interesses. Em primeiro lugar, permite aos EUA e à China continuar a assistir ao enfraquecer da Federação Russa: baixas, perdas de equipamento, gasto de munições, queda do PIB, falhas no fornecimento de produtos e serviços, possibilidade de movimentos sociais de protesto,… Em segundo lugar, a redução da intensidade e da perigosidade do conflito devolve-o à geografia da instabilidade relativa na fronteira leste da NATO: junto a outros congelados (Transdenístria, Geórgia) e à “estabilidade” possível das fronteiras russa e bielorussa tal como vistas a partir de Moscovo. Por fim, o congelamento do conflito dá espaço tentativas diplomáticas de estabilização, tornando previsíveis e aceitáveis as consequências de um conflito cuja intensidade possa ser reduzida.

Por mais desastrado que tenha sido o arranque da tentativa do Brasil de mediar o conflito na Ucrânia a mesma deve ser apoiada. Foram já corrigidos os erros de maquilhagem que não permitiriam a Lula da Silva surgir como um “honest broker” capaz de falar, numa aparência de imparcialidade, com as duas partes. Ao dia de hoje, e muito provavelmente nos próximos tempos, a tentativa brasileira é a mais capaz de que dispomos. EUA e China não moverão uma palha para pôr termo ao conflito embora colaborem para evitar uma qualquer escalada descontrolada. Os europeus, mais uma vez, não conseguiram ter uma política autónoma capaz de desescalar o conflito e mesmo o Eliseu ainda não recuperou do fracasso dos acordos de Minsk por si patrocinados. A ONU está bloqueada, como sempre acontece quando um dos membros permanentes do Conselho de Segurança tem interesse directo num conflito que ameaça a paz e a segurança internacionais.

A iniciativa de paz brasileira tem de ser apoiada, sobretudo no percurso inicial, sempre o mais difícil. Se Lula conseguir visitar e conversar com cada um dos beligerantes poder-se-á passar à próxima fase das medidas de construção de confiança. Até hoje estas medidas incluem “apenas” a troca de prisioneiros e o acordo para a exportação de cereais a partir do Mar Negro.

O regresso do Brasil à primeira fila das relações internacionais é merecido e poderá permitir progressos no reduzir da intensidade e da perigosidade do conflito. Gerir as expectativas, mantendo-as baixas, é uma das condições do sucesso de qualquer esforço de mediação de conflitos internacionais.

Ofensivas de Primavera: bélicas e diplomáticas


Depois de um ano de guerra na Ucrânia as televisões, parte interessada, anunciaram não uma, mas duas ofensivas, uma por cada um dos beligerantes.


Inteligentes, não artificiais, mas televisivos, explicaram, com convicção e certeza meteorológica, o período temporal das ofensivas: o equinócio da Primavera. Como muito bem sabe o Professor Karamba o negócio das previsões é falível e os “resultados garantidos” não estão submetidos aos ditames do Código da Publicidade. Passado o 21 de Março as ofensivas fazem-se esperar. Graças ao benemérito Jack Teixeira ficámos a saber o que os americanos pensam sobre as capacidades bélicas de ucranianos e russos: as possibilidades de grandes alterações no equilíbrio de forças é reduzida e a guerra, qua tale, está para durar.

Esta é a boa notícia. O credo numa avançada triunfal por parte de qualquer um dos  beligerantes traria um escalar do conflito capaz de transformar uma guerra regional por procuração numa curta ante-câmera da III guerra mundial.

A transformação da guerra na Ucrânia num “conflito congelado”, como foi durante vários anos a “guerra civil” no Donbass, serve diversos interesses. Em primeiro lugar, permite aos EUA e à China continuar a assistir ao enfraquecer da Federação Russa: baixas, perdas de equipamento, gasto de munições, queda do PIB, falhas no fornecimento de produtos e serviços, possibilidade de movimentos sociais de protesto,… Em segundo lugar, a redução da intensidade e da perigosidade do conflito devolve-o à geografia da instabilidade relativa na fronteira leste da NATO: junto a outros congelados (Transdenístria, Geórgia) e à “estabilidade” possível das fronteiras russa e bielorussa tal como vistas a partir de Moscovo. Por fim, o congelamento do conflito dá espaço tentativas diplomáticas de estabilização, tornando previsíveis e aceitáveis as consequências de um conflito cuja intensidade possa ser reduzida.

Por mais desastrado que tenha sido o arranque da tentativa do Brasil de mediar o conflito na Ucrânia a mesma deve ser apoiada. Foram já corrigidos os erros de maquilhagem que não permitiriam a Lula da Silva surgir como um “honest broker” capaz de falar, numa aparência de imparcialidade, com as duas partes. Ao dia de hoje, e muito provavelmente nos próximos tempos, a tentativa brasileira é a mais capaz de que dispomos. EUA e China não moverão uma palha para pôr termo ao conflito embora colaborem para evitar uma qualquer escalada descontrolada. Os europeus, mais uma vez, não conseguiram ter uma política autónoma capaz de desescalar o conflito e mesmo o Eliseu ainda não recuperou do fracasso dos acordos de Minsk por si patrocinados. A ONU está bloqueada, como sempre acontece quando um dos membros permanentes do Conselho de Segurança tem interesse directo num conflito que ameaça a paz e a segurança internacionais.

A iniciativa de paz brasileira tem de ser apoiada, sobretudo no percurso inicial, sempre o mais difícil. Se Lula conseguir visitar e conversar com cada um dos beligerantes poder-se-á passar à próxima fase das medidas de construção de confiança. Até hoje estas medidas incluem “apenas” a troca de prisioneiros e o acordo para a exportação de cereais a partir do Mar Negro.

O regresso do Brasil à primeira fila das relações internacionais é merecido e poderá permitir progressos no reduzir da intensidade e da perigosidade do conflito. Gerir as expectativas, mantendo-as baixas, é uma das condições do sucesso de qualquer esforço de mediação de conflitos internacionais.