Durante dez dias, enquanto o Nord Stream 1 esteve em trabalhos de manutenção, Vladimir Putin brincara com a ideia de cortar definitivamente o gás natural russo à Europa. No entanto, o maior gasoduto do Kremlin, voltou voltou ao ativo esta quinta-feira, para alívio de muitos líderes europeus. Que, por mais que falem em sancionar a Rússia pela sua invasão da Ucrânia, não arranjam maneira de se livrar da sua dependência energética, continuando a alimentar a máquina de guerra de Putin.
O líder do Kremlin lá concedeu em reativar o Nord Stream 1, quase como quem faz um favor aos europeus, mas avisou as remessas de gás natural terão um nível inferior. Sendo que o mês passado o fluxo já estava em somente 40% da capacidade do oleoduto, que liga Vyborg, no noroeste da Rússia, a Lubmin, no nordeste da Alemanha, atravessando o mar Báltico.
Na prática, isso significa que países como a Alemanha continuam sem reservas de gás natural suficientes para enfrentar o próximo inverno. Agora estão a enfrentar grandes dificuldades a encher os reservatórios e “mais disrupções são esperadas, dado que a Rússia procura aumentar a pressão política e económica sobre a Europa à medida que o inverno se aproxima, alertou Penny Leake, analista da Wood Mackenzie, citada pela Reuters.
Talvez seja por isso que a liderança ucraniana insiste tanto em como necessita de fazer avanços antes que chegue o inverno. Militarmente, “depois do inverno, quando os russos terão mais tempo para se posicionar, será certamente mais difícil”, avisara Andriy Yermak, chefe de gabinete de Volodymyr Zelensky, em entrevista ao semanário ucraniano Novoye Vremya. No entanto, a nível internacional, com os aliados da Ucrânia a enfrentarem inflação e a subida do preço da energia, provavelmente acompanhados de descontentamento popular, o apetite político para apoiar de forma concreta o Governo ucraniano talvez esmoreça. Putin certamente conta com isso, apontam analistas.
Guerra económica Os receios que o Kremlin decida cortar a torneira do gás natural de vez são enormes e, como tal, vários países europeus começam a preparar planos de emergência, que podem inclusivamente incluir racionamento de energia. Tendo a Grécia anunciado esta quinta-feira que, se necessário, recorreria a cortes rotativos de energia – uma medida semelhante ao que se vê frequentemente em cidades como Pyongyang, na Coreia do Norte.
Desta vez, a demora na manutenção do Nord Stream 1 foi justificada pelo Kremlin com a dificuldade em transportar uma turbina crucial do Canadá para a Rússia, devido às sanções, que limitam a venda de tecnologia. Putin ainda deixou o recado que a entrega de outros equipamentos para o Nord Stream estava para breve, avançou a agência Tass. Deixando no ar mais uma suspensão das remessas de gás natural russo para a Europa.
Também esta sexta-feira, a Ucrânia, Rússia, Turquia e o secretário-geral da ONU vão assinar um acordo para retomar as exportações dos cereais ucranianos através do Mar Negro, anunciou o gabinete do presidente turco, Tayyip Erdogan. A invasão da Ucrânia pelas forças russas, iniciada a 24 de fevereiro, deixou dezenas de navios e cerca de 20 milhões de toneladas de cereais retidos nos silos do porto da cidade ucraniana de Odessa.