A guerra na Ucrânia vai-se alargar ao ciberespaço?

A guerra na Ucrânia vai-se alargar ao ciberespaço?


Hackers como o Lapsus$Group estão em polvorosa. Online “não há fronteiras”, nota Vasco Amador


Enquanto as forças russas avançam sobre a Ucrânia, crescem os receios de que a guerra se alastre ao ciberespaço. São de esperar ataques da “máquina infernal” de combate cibernético controlada pelo Kremlin, alerta Vasco da Cruz Amador, diretor-executivo da Global Intelligence Insight, ao i. O Governo de Kiev tem-se mostrado consciente disso – já apelou ao Ocidente que cancele todas as licenças de software civil ou militar à Rússia, no mesmo comunicado em que pedia mais sistemas anti-aéreos – e os chats de hackers têm estado particularmente agitados, incluindo o grupo de Telegram do Lapsus$ Group, que reinvidicara o ataque ao grupo Impresa e esta quinta-feira deu a entender estar por trás do ataque à Vodafone. 

Aliás, uns momentos após saber-se da invasão russa da Ucrânia, o Lapsus$ Group publicava uma sondagem online no Telegram, perguntando que dados preferiam ver vazados primeiro, os roubados à Impresa, Vodafone ou à operadora móvel alemã T-Mobile. “Num momento como o que vivemos, tem de se olhar para isto e começar a fazer ligações”, nota Amador. “Sendo coincidência, é uma grande coincidência”, salienta.

A questão é que apesar de um ataque russo contra território da NATO não ser considerado uma possibilidade – ainda que perante esta crise as previsões não valham de muito, poucos analistas anteviam um ataque com esta escala à Ucrânia (texto ao lado) – uma ofensiva cibernética é outra história. Na internet, os russos “fazem o que quiserem, contra quem quiserem, porque aí não há fronteiras”, considera o diretor-executivo da Global Intelligence Insight.

Afinal, “quem são alguns dos principais patrocinadores estatais de cyberataques? Irão, Rússia e China”, enumera. “A China tem aqui um papel ainda que não é claro. Mas temos oficialmente o Irão a apoiar tudo o que é feito pela Rússia. E se grandes sanções foram aplicadas à Rússia – que vão ser, não há margem para dúvidas – obviamente que vão atacar a larga escala. Porque entre responder com um ataque convencional ou cyber, claro que preferem um cyber, tal e qual como o que foi levado a cabo contra a Vodafone”.

Entretanto, na Ucrânia, depois de muitos alertas de que uma ofensiva convencional poderia ter uma componente cibernética adicional, com a Reuters a avisar que as comunicações eram uma das principais vulnerabilidades militares ucranianas, nas primeiras horas do conflito não havia indicações que estas tivessem cedido. No entanto, várias ferramentas de deleção de dados foram encontradas em computadores ucranianos logo na quinta-feira de manhã, avançou a CNN, horas antes de instituições estatais, incluindo ministérios, sofrerem disrupções.  

Pode ser apenas o começo, na Ucrânia e nos países seus aliados, considera Amador. “A máquina deles é letal. Estamos habituados a ver a China fazer muita espionagem, mas normalmente a Rússia quando avança em termos cyber é para destruir, eles têm essa plena capacidade”.