Planetário e zoo dos homens

Planetário e zoo dos homens


Algumas obras literárias insistem em libertar homens e animais da sua clausura, recordando como a evolução dessa relação de íntima dependência reflecte as transformações da nossa sociedade nas últimas décadas e séculos.


Nunca deixaremos de explorar, ainda que haja épocas em que não apetece tanto, em que a própria vida nos parece afadigada, como se coberta do pó e ferida pelas lascas da actividade do passado, apurando o ouvido para a canção do futuro. Há épocas em que tudo parece ter já sido descoberto e recoberto. O mundo, na experiência mais directa que dele arrancamos, chega-nos meio exausto, demasiado específico, ilustrado e catalogado com rigor e alguma exuberância, mas um tanto inexpressivo. Este é certamente um defeito de perspectiva, mas vai-se reforçando pela ausência dos caracteres reais nos quais se inspiram os nossos signos. Sem um confronto directo, ficamos perante um alfabeto de abstracções e espectros que nos deixam meio desamparados. O mundo que criamos por meio da técnica é demasiado frio. Não estamos apenas a destruir os habitats, a pôr em risco a diversidade na biosfera. A poluição que, nos nossos dias, estraga rios e lagos, torna o ar que respiramos doloroso para os pulmões, e submerge o horizonte, mas também atinge a nossa imaginação. Não é apenas o presente que encontramos degradado no correr horizontal das suas águas, mas há uma morte que simultaneamente corrói na vertical, pelos milhares de anos em que as suas límpidas águas correram no mesmo lugar. Como escreveu Teixeira de Pascoaes, “os deuses saíram dos bosques, vieram ao mundo pelo mesmo caminho que os animais”. Hoje, os deuses e outros animais vivem no cativeiro das nossas noções mais curtas. A uma degradação dos ciclos naturais corresponderá um enfraquecer dos nossos impulsos para explorar o irreal. Se é o movimento o que fecunda a inspiração, a distância crescente entre nós e os acontecimentos torna-nos cada vez mais desinspirados, inexpressivos. E a imobilidade em que vivemos é como um ensaio geral da morte. Em tempos, esses inventários de que tanto nos orgulhávamos, esses esforços de prender em contornos, mesmo que inquietos, uma visão da dispersa riqueza do mundo, eram um sinal da nossa curiosidade, mas hoje bastam-nos. Já não saímos para o mundo, convencendo-nos de que toda a sua profusão foi, de algum modo capturada, nesses trabalhos de substituir o mundo por uma reserva em escala menor, uma espécie de museu que nos permita percorrer a face do planeta numas poucas horas e tirar selfies com esse bestiário agonizante em fundo.

Num dos seus ensaios, Borges refere-se a uma enciclopédia chinesa cujo título seria “Empório Celestial de Conhecimentos Benévolos”, e diz que “nas suas remotíssimas páginas está escrito que os animais se dividem em: (a) pertencentes ao imperador, (b) embalsamados, (c), amestrados, (d) leitões, (e) sereias, (f) fabulosos, (g) cães vadios, (h), incluídos nesta classificação, (i) que se agitam como loucos, (j) incontáveis, (k) desenhados com um pincel finíssimo de pelo de camelo, (l), etc…, (m), que acabam de quebrar o jarrão, (n) que ao longe parecem moscas”. Estamos aqui perante um desses álacres descritivos que, na sua exultante brevidade, zomba com esse regime de impor superfícies ordenadas e planos que tentem ajustar a abundância dos seres.

Assim, no seu estilo que mistura erudição e pilhéria, o argentino transtorna todos esses exercícios de redução, e mostra-nos como essa prática milenar de inventariar a exuberância caótica do mundo deve ser feita para nos induzir ao sonho, e por isso deve estar imbuída da mesma vacilação e inquietude que caracteriza o regime da fantasia, para nos espicaçar a ir além dos nossos limites. E, aqui, vale a pena recordar uma outra frase de Teixeira de Pascoaes: “Nos sentimentos gira ainda o sangue das nossas veias. São animais de quatro patas. Mas as nossas ideias voam de ramo em ramo. Há uma diferença de boi a rouxinol entre o que sentimos e o que pensamos. A Psicologia, que fauna maravilhosa.”

Há muito que os animais foram sendo parceiros íntimos nesta nossa febre exploratória. Não como bestas de carga, aliviando o homem dos esforços mais traumáticos que são necessários para se cruzar a superfície das coisas, mas como elementos de profundidade, explicações das paisagens que nos são mais estranhas através de elementos que, biologicamente, nos transmitem uma sensação de familiaridade, algo que nos encoraje a mergulhar mais fundo nessas profundidades com que a natureza expande e desafia a nossa razão. Em certa medida, a literatura funciona como essa operação para desestabilizar esses quadros onde registamos de forma sobranceira as regiões da existência por nós conquistadas. Os primeiros poemas sobre animais – e estes estão entre os primeiros poemas em qualquer tradição – na maioria das culturas, ao invés de capturar detalhes numa forma de taxidermia por meio da linguagem, são encantamentos e feitiços para ajudar à caça, numa tentativa de domar esse temor a que ficávamos sujeitos perante as suas qualidades mágicas. Era uma questão de sobrevivência, e passava mais por adestrar o nosso receoso fascínio do que por dominar o animal. A este respeito, Ted Hughes foi dos autores que mais aproximou a escrita de um poema desse ânimo que nos leva a tentar apanhar animais, pássaros e peixes. “Passei parte do meu tempo, até cerca dos quinze anos, a praticar muitas dessas maneiras e quando o meu entusiasmo começou a esmorecer, o que depois aconteceu gradualmente, passei a escrever poemas”, escreve o poeta. E depois acrescenta: “Poderá pensar-se que esses dois interesses, apanhar animais e escrever poemas, nada têm em comum. Mas quanto mais olho para trás mais me convenço de que, em mim, os dois interesses formam um único. (…) Creio que, de certa maneira, vejo os poemas como uma espécie de animais. Tal como os animais, têm vida própria, querendo eu dizer com isso que existem separados das pessoas, até mesmo do seu próprio autor, nada havendo que lhes possa ser acrescentado ou retirado sem o estropiar e até sem o matar. E possuem uma certa forma de sabedoria. Há algo de muito especial que eles sabem… algo que temos muita curiosidade em conhecer. Talvez a minha intenção, afinal não tenha sido aprender tudo isso com animais e poemas mas, muito simplesmente, com coisas que, estando do lado de fora da minha vida, contêm a essência de uma vida própria."

Se a literatura foi sempre registando sinais do assombrado fascínio que os animais em nós provocam, em tempos havia uma noção mais clara de que os nossos signos se alimentavam como nós da carne dos animais, mas que o seu espírito devia permanecer livre. “Sabemos que há muitos séculos, nos tempos de Esopo, Virgílio, Ovídio, La Fontaine, Bernardim Ribeiro, de São João da Cruz, Melville ou Hugo, os animais andaram mais livres e respeitados sobre a Terra”, vincava Manuel Hermínio Monteiro numa das suas crónicas. Assim, cada animal em literatura era mais uma metáfora ou figura de estilo, pois “os verdadeiros animais afastaram-se de Enkidu mal este entrou na escrita pelo encontro com Gilgamesh”. Se quiséssemos repensar os clássicos, revendo certas passagens e tomando em conta os humores do mundo natural, muita coisa certamente não se teria passado da mesma forma. “Imaginem que o Rocinante se recusa a transportar D. Quixote e a alinhar nas suas loucuras, ou que Moby Dick desiste de enfrentar Ahab…”, escreve Hermínio Monteiro.

A perda de uma certa autonomia do mundo animal também neste censo onírico que a literatura realiza acompanha um processo de degradação da nossa relação com a natureza na era do consumismo moderno, o qual é retratado por John Berger no célebre ensaio “Porquê Olhar os Animais?”. Neste texto crucial, o crítico de arte e poeta descreve um efeito de devastação cultural que levou à redução dos animais (outrora no centro da existência humana) à categoria de espectáculo, companhia ou produto de consumo. Logo no arranque nos diz que supor que os animais se estrearam na imaginação humana como carne ou cabedal ou com as suas presas (cornos) é estar a projectar uma atitude própria do século XIX pelos milénios que o antecederam, apagando um vínculo bem mais respeitoso e profundo. “Os animais entraram na nossa imaginação como mensageiros e promessas. Por exemplo, a domesticação do gado não começou com o mero propósito de obter leite e carne. O gado tinha funções mágicas, por vezes oraculares, outras sacrificiais. E a escolha de uma determinada espécie como mágica, domesticável e própria para alimentação foi uma distinção que se originalmente com base nos hábitos, na proximidade e no ‘convite’ foito pelo animal em questão”.

Berger procede, neste ensaio, a um penetrante exame das transformações que se deram na sociedade e que levaram a que a nossa concepção dos animais se alterasse, ao ponto de terem passado de divindades espirituais e musas inspiradoras na arte primitiva a, hoje em dia, serem uma mera fonte de entretenimento, vendo-se confinados a circos e jardins zoológicos, com as representações que deles fazemos a transformarem-nos no “monumento vivo da sua própria desaparição”. Sem grandes rodeios, ele nota como o século XIX, na Europa Ocidental e na América do Norte, assistiu ao início de um processo que ficaria concluído no século seguinte em que o capitalismo corporativo contaminou de tal modo a nossa perspectiva do mundo que todas as tradições que haviam mediado a relação entre o homem e a natureza foram corrompidas. “Antes desta ruptura, os animais constituíam o primeiro círculo daquilo que cercava o homem. E talvez isto surgira já uma distância excessiva”, refere Berger. “Eles estavam com o homem no centro do seu mundo. E é óbvio que essa centralidade era económica e produtiva. Quaisquer que fossem as alterações nos meios de produção e na forma de organização social, os homens dependiam dos animais para obter alimento, para trabalharem e se transportarem como para se vestirem.” Mas esta relação não ia apenas num sentido, nem era de ordem meramente prática, extravasando o regime limitado e degradante do consumo. Tal como os deuses, os animais tinham vindo do outro lado do horizonte. “Eles pertenciam ao lado de lá como a ao de cá”, diz-nos Berger. Do mesmo modo, eles eram mortais e imortais. O sangue de um animal fluía como o de um homem, mas a sua espécie não se acabava ou morria e cada leão era Leão, cada boi era Boi. Este – talvez a primeira forma de dualismo existencial – reflectia-se no tratamento dos animais. Eles eram subjugados e adorados, criados e sacrificados.”

Hoje, os vestígios mais firmes desses laços profundos de convivência e dependência mútua não se traduzem na relação algo doentia que se estabelece entre os citadinos que coabitam em apertado cativeiro com os seus animais de estimação, mas respeitam a esse dualismo que persiste entre aqueles que, como assinala Berger, vivem intimamente com os animais e dependem deles. “Um camponês ganha afeição pelo seu porco da mesma forma que depois salga a sua carne. O que é difícil para esse estranho das cidades entender é que estas duas frases possam ser conectadas por um ‘e’ e não por um ‘mas’”. 

O ensaísta lembra que nunca como hoje houve tantos animais domésticos nas cidades dos países mais ricos do mundo, e referia estimativas que indicavam como, há época (década de 1970), existiam 40 milhões de cães, outros tantos gatos, 15 milhões de aves em gaiolas e ainda 10 milhões de outros animais a viver trancados com os seus donos. E Berger esclarecia que isto era uma inovação moderna, e fazia parte desse retiro universal ainda que pessoal para a vida privada da pequena unidade familiar, decorada ou mobilada com pequenos souvenirs do mundo exterior, o que é um dos aspectos distintivos das sociedades de consumo. “À pequena unidade de vida familiar falta espaço, terra, outros animais, estações, temperatura natural, e assim por diante. O animal de estimação ou foi esterilizado ou vive sexualmente isolado, e extremamente limitado no que toca a exercício físico, sendo privado quase inteiramente de contacto com outros animais, e com uma dieta que se restringe a alimentos artificiais”, escreve Berger, antes de rematar notando que “este é o processo material que está por trás desse truísmo que diz que os animais de estimação acabam por se parecer com os seus donos”. Na verdade, eles são criaturas produzidas pelo estilo de vida dos seus donos, sublinha.

Nos nossos dias, mesmo na literatura é difícil encontrar os animais livres desta forma de sujeição, de tal modo que um poeta como Luís Quintais se descreve em ambiente doméstico, seguindo o corredor, e encarando “milhares de livros em estantes que se assemelham a jaulas”. A biblioteca tornou-se uma espécie de zoológico, e os livros “animais feridos de um exotismo em que ninguém acredita”. Antes de o livro de um amigo morto lhe servir de pretexto para se enfiar noutro beco mental, e se dedicar a esse passatempo moderno que passa por denunciar “o vazio essencial de tudo”, Quintais admite a hipótese de os livros serem “feras que merecem adestramento, docilidade, interpretação”. Fala até de uma “floresta de símbolos”, e vemos ali os animais como metáforas abatidas, como essas representações empalhadas que ficam suspensas à laia de trófeus na sala onde os caçadores exibem os seus motivos de orgulho. Estamos assim perante o fim de uma cadeia simbólica, essa que Berger assinala ao lembrar que o primeiro motivo de uma pintura humana foi um animal, acrescentando que provavelmente a primeira tinta que se usou terá sido o sangue desse ou doutro animal, adiantando ainda que, mesmo antes disso, não é irrazoável supor que a primeira metáfora criada pelo homem tenha sido um animal. Hoje, vivos como mortos, os animais lançam um último olhar terno e piedoso sobre os homens, nessas suas vidas paralelas, desligadas de toda a magia que caracterizava esta relação em tempos remotos.

Berger diz-nos que a relação que mantemos com os animais é sempre de natureza diversa daquela que estabelecemos entre nós. “Diferente porque é uma companhia oferecida à solidão do homem como espécie.” E acrescenta que esta companhia que se faz sem o uso de palavras, ao longo dos tempos, foi sentida como uma relação tão estreita que muitas vezes se encontram exemplos da convicção de que eram os homens que se mostravam incapazes de comunicar com os animais – “daí essas histórias e lendas de seres excepcionais, como Orfeu, que podiam falar com os animais na sua própria língua”.

Hoje, este excesso de proximidade significa que condenamos os animais a viverem segundo o regime em que nós próprios nos exilámos do mundo natural, e, por isso, cada vez mais, também na literatura estes surgem dotados de uma qualidade espectral, como presenças inquietantes que rememoram a dignidade mágica em que foi cultivada esta relação noutros tempos. “À noite, os animais que tinham ido/ beber o brilho que lhes vem da noite,/ paravam a cheirar. E a ouvir o ruído/ crescer do sítio de onde corria a fonte./ À noite os animais eram antigos./ E, à volta deles, tudo o mais que fosse/ assentava na sombra. E estendia um sítio/ onde o tempo crescia para longe.” Estes versos são do poeta Fernando Echevarría, que morreu no passado mês de Outubro.

Há dias despedimo-nos de um outro poeta cuja obra foi um dos pontos privilegiados de registo dessas manifestações de vida que escapam hoje à experiência do nosso quotidiano. António Osório, que morreu no passado dia 18, fez da sua poesia “um hino à diversidade e um lamento por tudo o que contribui para a diminuir”, como referiu Luís Miguel Queirós no obituário que lhe dedicou no jornal “Público”. “A sua obra constrói uma espécie de arca de Noé onde encontram refúgio o cão de quinta, o coelho doméstico, o pirilampo das noites rurais, mas também as árvores, sempre designadas pelo seu nome específico, os parentes mortos, os artesãos de ofício que o progresso tornou anacrónicos, como o vedor, a cerzideira, o engraxador, o calceteiro, e ainda esses outros seres em risco de extinção que são as palavras caídas em desuso.” E se os animais são uma presença de tal modo constante nesta obra, foi possível destacar e recolher num volume autónomo – “Bestiário", publicado em 1997, com pinturas de Graça Morais –, os poemas em que directa ou indirectamente são tema. José Manuel Vasconcelos, amigo e alguém tão cúmplice por exercer em simultâneo, como António Osório, a advocacia e o ofício poético, frisa que nesta poesia a visão que se sustenta “é de quem está (homem observador e animais observados) num mesmo plano”. E continua: “Nem a vulgar projecção das características humanas nos animais, eco simplista dos fabulários do passado e tópico recorrentes das literaturas orais e tradicionais, nem o tratamento condescendente, fruto de uma vulgar crença na supremacia do homem, antes um amplo sentido de comunhão, em que todas as criaturas fazem parte de um todo natural que, mais do que cenário, é um mundo de linguagens que se aprendem.”

Vasconcelos defende que “Bestiário” é uma obra fundamental na literatura portuguesa sobre os animais, a qual, “na importância, se pode colocar a par, e até, por várias razões sobrelevar, obras paradigmáticas nesse campo como Os Bichos de Miguel Torga, ou Romance da Raposa de Aquilino Ribeiro, ressalvando sempre o facto de se tratar de obras elaboradas a partir de registos muito diferentes, nas quais a visão dos animais que lhes subjaz, muito pouco tem a ver com a que resulta dos poemas e prosas poéticas que compõem o livro de António Osório”.

Assim, e com o fito de homenagear o poeta, fizemos uma breve selecção destes poemas sobre animais, mas antes de lá irmos, merece destaque um dístico que deixa clara a forma como encarava essa benévola aberração a que todos, nalgum momento, nos afeiçoámos: o Jardim Zoológico. Reconhecendo essa afeição, ele diz-nos que: “Apenas a alegria das crianças/ o purifica de tanto mal.”

A este respeito, Berger recorda que o aparecimento dos primeiros zoológicos públicos coincidiu com o período em que começou a assistir-se ao desaparecimento dos animais da nossa vida quotidiana. “O zoo ao qual as pessoas vão para ir ao encontro dos animais, para os observar, para os ver, é, na verdade, um monumento à impossibilidade desses encontros. Os zoos modernos são um epitáfio para uma relação tão antiga como o próprio homem.”  

O LEÃO

Ali, exíguo,
esperando
no Palácio das Feras.
Cristão
na sua catacumba.

Um nobre silêncio.

A própria sombra
o não perturba.

Nem o desejo
contemplativo de renascer.

É um buda, decrépito.

OS CÃES

Os cães, tantos. Sem cuidarem
da torpeza
lambem as nossas mãos.

Misteriosa religião a deles.
O rosto do seu Deus não temem
e contemplam lado a lado.

Nem a Moisés tal foi consentido.

O COELHO

Coelho velho e de casa,
vindo ao colo, limpo e livre.
Da morte salvou-o um rapaz,
no mesmo quarto dormem,
dois animais compassivos:
rapaz com intimidade de coelho,
bicho com encanto de rapaz.

OS GALOS

O seu aprumo varonil,
a crista sanguínea,
a leve corrida
e a camisola luzidia
que vestem sobre a pele,
o fogo com que lutam, amam. 

OS PIRILAMPOS

Em Junho
chegada a noite
acendem no ventre
o seu farol.

Não tem mistério:
bolsa solar,
a deles, amáveis
guardas-nocturnos.