Esta semana fica marcada pelo início de um novo ano letivo. Começaram as aulas. Para uns trata-se de um retomar enquanto para outros é uma verdadeira estreia. Detenhamo-nos nestes.
O primeiro dia de escola é um marco nas nossas vidas, primeiro enquanto filhos e depois enquanto pais. Os sentimentos de insegurança contrastam com os de felicidade enquanto o medo é ultrapassado pela experiência da novidade. Rostos estranhos, vozes nunca ouvidas, sorrisos e olhares nunca experimentados, tudo acontece numa espécie de oceano primordial no qual somos obrigados a mergulhar. Perdemos o pé, sentimo-nos intimidados pelas sombras de seres gigantes que vêm na nossa direção, aparentemente prontos para nos devorar.
O primeiro dia de aulas marca o momento exato em que a nossa casa deixa de ser o lugar onde passamos a maior parte do tempo enquanto estamos acordados. Contudo, talvez volte a sê-lo – passados muitos anos – quando a reforma bater à porta e, caso percamos a autonomia, a nossa família não nos deposite num lar.
No contraste entre escolas e lares, podemos realçar uma realidade muito interessante que se prende com a facilidade ou dificuldade em fazer amigos. Acontece que se por um lado os mais velhos aprendem a ganhar uma enorme resistência à possibilidade de novas amizades, os pequeninos, pelo contrário, vêem um amigo em cada colega. Brincam, gritam, pulam, correm, riem, empurram-se, sujam-se, divertem-se e o primeiro dia talvez seja aquele em que as crianças, na verdade, não se distinguem entre si. Fazem todos o mesmo – aprendem a construir a felicidade. Sem preconceito.
Confesso que não me recordo do meu primeiro dia de escola. Contam-me que chorei e gritei muito. Chamei muito pela minha mãe. Contudo – um esforço colossal – vislumbro-me refugiado entre a janela e a cortina da sala de aula.
Aquele foi o primeiro dia e desde então nunca mais deixei de ir à escola. Ininterruptamente.
Desde então muito mudou. Os nomes das disciplinas, os programas, os horários e, mais recentemente, as formas de avaliação. Aliás, as formas de avaliação agora propostas pelo Ministério da Educação, têm suscitado em mim um sorriso aberto ao recordar o estado de espírito da maior parte dos professores que não têm compreendido ao longo dos últimos anos a pertinência de avaliar sem o peso – quase exclusivo – dos testes.
A escola é muito mais do que papaguear matéria. Daí estarmos obrigados a entregar a cada aluno ferramentas que lhe permitam definitivamente fazer um percurso longo e autónomo.
Professor e investigador