O governo dos números


A ideia de falar sobre números e sobre Pitágoras surgiu a propósito da aproximação dos exames nacionais pois uma vez mais veremos confirmada a regra.


Tornou-se habitual para a humanidade o recurso aos números como forma de expressão. Basta ligar o rádio, a televisão ou simplesmente navegar pela internet para perceber como aqueles invadem o nosso pensamento e nos revelam e nivelam o interesse pelos acontecimentos. Aparentemente, tudo é uma questão de números.

O domínio dos números revela-se um dos primeiros sinais da entrada na vida adulta, quando passamos a saber de cor, por exemplo, o nosso número de contribuinte. Alguns adultos são até tão adultos que decoram ainda o número do cartão de cidadão, o número da segurança social, o número da conta bancária e tantos outros números que chega a ser possível identificá-los com uma verdadeira máquina registadora…

Este estado de sedução é compreensível, afinal são os números que respondem às perguntas consideradas fundamentais que nos apresentam e distinguem – a data de nascimento, o número de irmãos, a média do curso, o tempo de serviço, quanto pesamos, quanto medimos, quanto ganhamos, enfim…

Porque a mediocridade tomou conta do coração de muitos, perdemos aos poucos o verdadeiro sentido destes aliados a que chamamos números.

Pitágoras, sábio sobre quem pouco se sabe, nada escreveu e por isso ninguém pode afirmar com certeza o que terá ele dito exatamente. Aliás, aqui está uma característica comum aos que alcançam o nível mais profundo do conhecimento – nada escrevem (exceção feita para cronistas…) Além de que, diz a tradição, tanto Pitágoras como os seus alunos mantinham um silêncio pouco habitual. Julga-se saber que este mestre viajou muito não sentindo necessidade de registar esses momentos – o que hoje corresponderia à publicação de fotografias e afins numa qualquer rede social – mas ficaram guardados na história da humanidade as suas conclusões e ensinamentos quanto às ideias perpetuadas no mundo saber. Assim, o filósofo e matemático concluiu que tudo no universo segue regras e proporções matemáticas. Portanto, se entendermos as relações numéricas e matemáticas conseguimos entender o cosmos. Deste modo, a matemática é o modelo básico do pensamento e por isso afirmamos que os números governam as ideias. Comprova-se na música, na geometria, na arquitetura, na física, na química.

A ideia de falar sobre números e sobre Pitágoras surgiu a propósito da aproximação dos exames nacionais pois uma vez mais veremos confirmada a regra. Havemos de falar de números, de muitos números, sejam sobre a quantidade de alunos, as médias nacionais, as percentagens, o ranking. Aliás, a qualidade da aprendizagem calcula-se hoje a partir da posição que ocupa cada estabelecimento de ensino na lista das médias nacionais. Contudo, há um pormenor a reter: por um algarismo, uma virgula ou um sinal, o cálculo matemático erra o resultado. A matemática é rigorosa e talvez seja isso que nela nos assusta. A ser verdade que geralmente não somos bons a matemática, explica-se assim porque somos maus a pensadores e consequentemente péssimos com as ideias.

Porém, nem tudo está perdido. Temos ainda a oportunidade a assumir a postura de eternos aprendizes e isso possibilita-nos ir a tempo de reaprender a contar (verdades), a somar (qualidades), a subtrair (defeitos), a multiplicar (amabilidades) e a dividir (com todos).

 

Professor e investigador


O governo dos números


A ideia de falar sobre números e sobre Pitágoras surgiu a propósito da aproximação dos exames nacionais pois uma vez mais veremos confirmada a regra.


Tornou-se habitual para a humanidade o recurso aos números como forma de expressão. Basta ligar o rádio, a televisão ou simplesmente navegar pela internet para perceber como aqueles invadem o nosso pensamento e nos revelam e nivelam o interesse pelos acontecimentos. Aparentemente, tudo é uma questão de números.

O domínio dos números revela-se um dos primeiros sinais da entrada na vida adulta, quando passamos a saber de cor, por exemplo, o nosso número de contribuinte. Alguns adultos são até tão adultos que decoram ainda o número do cartão de cidadão, o número da segurança social, o número da conta bancária e tantos outros números que chega a ser possível identificá-los com uma verdadeira máquina registadora…

Este estado de sedução é compreensível, afinal são os números que respondem às perguntas consideradas fundamentais que nos apresentam e distinguem – a data de nascimento, o número de irmãos, a média do curso, o tempo de serviço, quanto pesamos, quanto medimos, quanto ganhamos, enfim…

Porque a mediocridade tomou conta do coração de muitos, perdemos aos poucos o verdadeiro sentido destes aliados a que chamamos números.

Pitágoras, sábio sobre quem pouco se sabe, nada escreveu e por isso ninguém pode afirmar com certeza o que terá ele dito exatamente. Aliás, aqui está uma característica comum aos que alcançam o nível mais profundo do conhecimento – nada escrevem (exceção feita para cronistas…) Além de que, diz a tradição, tanto Pitágoras como os seus alunos mantinham um silêncio pouco habitual. Julga-se saber que este mestre viajou muito não sentindo necessidade de registar esses momentos – o que hoje corresponderia à publicação de fotografias e afins numa qualquer rede social – mas ficaram guardados na história da humanidade as suas conclusões e ensinamentos quanto às ideias perpetuadas no mundo saber. Assim, o filósofo e matemático concluiu que tudo no universo segue regras e proporções matemáticas. Portanto, se entendermos as relações numéricas e matemáticas conseguimos entender o cosmos. Deste modo, a matemática é o modelo básico do pensamento e por isso afirmamos que os números governam as ideias. Comprova-se na música, na geometria, na arquitetura, na física, na química.

A ideia de falar sobre números e sobre Pitágoras surgiu a propósito da aproximação dos exames nacionais pois uma vez mais veremos confirmada a regra. Havemos de falar de números, de muitos números, sejam sobre a quantidade de alunos, as médias nacionais, as percentagens, o ranking. Aliás, a qualidade da aprendizagem calcula-se hoje a partir da posição que ocupa cada estabelecimento de ensino na lista das médias nacionais. Contudo, há um pormenor a reter: por um algarismo, uma virgula ou um sinal, o cálculo matemático erra o resultado. A matemática é rigorosa e talvez seja isso que nela nos assusta. A ser verdade que geralmente não somos bons a matemática, explica-se assim porque somos maus a pensadores e consequentemente péssimos com as ideias.

Porém, nem tudo está perdido. Temos ainda a oportunidade a assumir a postura de eternos aprendizes e isso possibilita-nos ir a tempo de reaprender a contar (verdades), a somar (qualidades), a subtrair (defeitos), a multiplicar (amabilidades) e a dividir (com todos).

 

Professor e investigador