A Terra pode ter uma superfície de 510 100 000 km², mas nem assim tem espaço para albergar dois Pelés. Ficou-se apenas por Edson Arantes do Nascimento, que completou 80 anos no passado dia 23 de outubro. Apesar de tudo, houve quem sonhasse em ter um Pelé ao lado de Pelé, e quem mais sonhou com isso foi o pai de Pelé, João Ramos do Nascimento, mais conhecido por seu Dondinho, que também foi jogador de futebol, no Fluminense, e os diretores do Santos, que com o melhor jogador do mundo de sempre na sua equipa acreditaram que podiam ter, igualmente, uma cópia do melhor jogador do mundo. Puro engano. Pelé é Pelé e nunca haverá ninguém igual a Pelé. Nem mesmo um tal Jair Arantes do Nascimento, que toda a gente tratava por Zoca.
No dia 26 de março de 2020, Zoca foi mais notícia de jornal do que durante toda a sua existência. Pelo simples facto de ter morrido, essa inevitabilidade que nos tomba sobre a cabeça desde o dia em que somos concebidos. Pelé era como Vinicius de Moraes: “Afastei da minha vida os funerais. Simplesmente não vou. Prefiro recordar vivos os meus mortos”. Tal como sucedera após a morte de outro dos seus irmãos – este não de sangue –, Coutinho, parceiro de ataque naquela linha avançada que parecia a letra de um samba – Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe –, Edson não apareceu no Cemitério Memorial Necrópole Ecuménica, em Santos, para onde o cadáver de Jair fora transportado desde a Casa de Saúde de Santos, destruído por um cancro na próstata que se multiplicou em metástases por muitas outras partes do corpo. Soltou uma frase simples: “Que Deus o receba no céu”. Mais uma súplica que uma frase.
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