”Vou sair hoje do hospital do grande hospital Walter Reed, às 6:30 da tarde”, ou seja, às 23h e meia em Portugal continental, anunciou no Twitter o Presidente norte-americano, Donald Trump, hospitalizado após dar positivo à covid-19. Mesmo estando infetado, o Presidente insistiu em menorizar uma doença que já matou quase 215 mil norte-americanos. “Não tenham medo da covid. Não deixem que domine a vossa vida”, escreveu.
Mesmo assim, continua a haver dúvidas quanto ao estado de saúde do Presidente, devido às mensagens contraditórias quanto ao assunto. Ainda recentemente a equipa médica da Casa Branca admitiu os níveis de oxigenação caíram de Trump, rapidamente duas vezes nos últimos dias, precisando de receber oxigénio – omitiram-no anteriormente porque o Presidente queria que o relatório refletisse a sua “atitude positiva”, explicou o seu médico, Sean Conley.
A questão é que Trump “está farto do hospital”, onde passa boa parte do dia a ver Fox News, atento aos relatos das suas complicações de saúde, temendo que estar internado “o faça parecer fraco” durante a campanha, contou uma fonte próxima à CNN.
Passeio presidencial Até internado o Presidente se envolveu em polémica, ao sair do hospital militar Walter Reed numa carrinha preta, para saudar os seus apoiantes à porta, que o receberam em júbilo. Outros ficaram escandalizado por o chefe de Estado pôr em risco os seu motorista e os guarda-costas dos serviços secretos, fechados com uma pessoa infetada num veículo para uma deslocação não essencial.
Para os críticos, foi mais uma demonstração do desprezo e descuido de Trump, quanto à pandemia, a nível de saúde pública e individual – 65% dos norte-americanos acreditam que o Presidente não teria sido infetado pelo vírus se o tivesse levado a sério, segundo uma sondagem da Ipsos/Reuters.
Até membros dos serviço secretos, que se comprometeram a arriscar a vida pelo Presidente, expressaram a sua frustração. “Nós não somos descartáveis”, queixou-se um agente à CNN. “Foi simplesmente negligente”, acrescentou outro.
“A carrinha presidencial não é apenas à prova de bala, mas hermeticamente selada contra ataques químicos. O risco de transmissão de covid-19 dentro dele é o mais alto possível fora de procedimentos médicos”, tweetou um dos médicos do hospital Walter Reed, James Phillips.
“Cada uma das pessoas no veículo durante aquele ‘drive-by’ presidencial completamente desnecessário agora vai ter de ficar de quarentena durante 14 dias. Eles podem ficar doentes. Eles podem morrer, tudo por teatro político”, considerou Phillips. “Isto é loucura”.
Contudo, se há época para o “teatro político” é esta, durante a campanha presidencial, com as eleições de 3 de novembro à porta. E para muitos apoiantes de Trump, pouca coisa poderia ser mobilizadora que ver o Presidente bem disposto, apesar de estar infetado pela doença que sempre menorizou.
Já o surto de covid-19 no círculo próximo do Presidente continua a alargar-se, tendo a sua porta-voz, Kayleigh McEnany, dado positivo à covid-19 após vários testes negativos, afirmou em comunicado. McEnany foi uma das várias personagens da Administração que continuaram a não usar máscara em público mesmo após o diagnóstico do Presidente, contactando com colegas e jornalistas.