1. A aposta no ensino presencial é estratégia correta e desejável. O ensino à distância é um paliativo em tempo de pandemia e tem tantos inconvenientes para o desenvolvimento das crianças e para as famílias que não vale a pena voltar a enumerá-los. Bastaria a circunstância de agravar o fosso entre ricos e pobres para que fosse de rejeitar. Por estes dias, tanto no ensino público como no privado, é fundamental conhecer as regras que terão de se observar na abertura do ano letivo. E não se trata só de questões relacionadas com o distanciamento social, a organização de turmas, a profilaxia, a desinfeção de locais ou a defesa da saúde dos profissionais do setor. Melhor dito, tem a ver com isso tudo, mas em situações concretas. Por exemplo, se há um aluno ou um professor infetado ou com sintomas suspeitos, o que acontece à turma? E à escola? Quem decide e em que prazo? Vão todos para casa? Vai só o infetado? Fazem-se os testes a todos ou espera-se pelos resultados do que aparenta estar doente? E quem dirige e determina os procedimentos? O delegado de saúde da zona? Ou está pensada a existência de uma entidade de saúde especificamente para o ensino? Há alguma articulação predefinida? Qual é? Não falta muito para as aulas começarem, embora se saiba que há um laxismo que tenderá a retardar o seu início. É preciso que os dirigentes escolares, professores, auxiliares, os pais e os alunos com capacidade de discernimento saibam exatamente quais são as orientações, tanto ao nível da comunidade escolar como na família. Um exemplo de planificação é saber por antecipação (ou seja, desde há semanas) quais são os professores que integram grupos de risco e não podem dar aulas, acionando mecanismos de substituição. Ora, nada disso parece estar feito, o que é muito mau sinal. O ano passado foi caótico, mas havia justificações para tal. Desta feita, não podemos aceitar a ausência de planificação face a situações mais do que previsíveis por parte do Governo, dos estabelecimentos de ensino e dos professores e auxiliares, que não se podem eximir de responsabilidades. Houve muito tempo para preparar tudo e não era obrigatório terem ido para férias muitos daqueles que presentemente estão a fazer tudo a mata-cavalos.
2. Como muitos portugueses já perceberam e os que o conhecem de perto bem sabem, António Costa, volta e meia, perde as estribeiras. Há vários episódios que o ilustram e o pequeno vídeo que circulou nas redes sociais nos últimos dias é mais um exemplo. Certamente que não abona a favor do primeiro-ministro, que deveria ter pedido desculpa pelas suas palavras, mesmo que proferidas numa conversa informal e gravadas à revelia. A realidade é que elas foram ditas e correspondem a um sentimento. Mas quem não se exalta ou explode além de limites aceitáveis de vez em quando, sobretudo quando se está na política? Mário Soares tinha acessos de mau génio e não deixou de ser o maior defensor da liberdade em Portugal. No caso de Costa, está-se a verificar que o seu ar bonacheirão faz lembrar as estratégias comerciais que só são simpáticas até venderem o produto. Depois, nem atendem o telefone.
3. Na sequência da confusão criada por tudo o que se passou à volta do drama mortal de Reguengos de Monsaraz, Ana Mendes Godinho anunciou a contratação de 15 mil funcionários para a área social, que, desgraçadamente, ela tutela. A fim de segurar a periclitante ministra, António Costa apareceu de supetão numa cerimónia onde não o esperavam e confirmou a intenção. Esclareceu que a contratação é para ser feita até ao fim do ano, estando mobilizados 110 milhões de euros para o efeito. O chefe do Governo afirmou que boa parte dos contratados virão do setor do turismo, sendo objeto de formação prévia. Será? O plano é rigorosamente aquele que já tinha sido anunciado em abril, com as mesmas verbas. Mais parece um caso de marketing e publicidade, por sinal enganosa. É António Costa no seu melhor, aproveitando também estes tempos para se multiplicar em entrevistas, de forma a pressionar os partidos parlamentares, numa altura em que já começaram as negociações de bastidores do Orçamento do Estado (OE). Com o PSD potencialmente disponível para mais uma viabilização do OE na generalidade, Costa procura cobrir a esquerda, mimando PAN, Verdes, PCP e Bloco. Havendo eleições regionais e presidenciais no horizonte, o mais certo é as coisas correrem bem ao primeiro-ministro, mesmo com uns números e umas ameaças das várias partes envolvidas. Vai ficar tudo bem para o PS e o seu tentacular aparelho.
4. Ana Catarina Mendes vai render Jorge Coelho na Circulatura do Quadrado, o imperdível programa da TVI24 que junta também Pacheco Pereira e Lobo Xavier, sob a notável mediação de Carlos Andrade. Consta que a escolha da líder da bancada do PS foi unânime. É um acréscimo de responsabilidade para quem tem sido sempre a primeira socorrista de António Costa. O desafio é grande porque na Circulatura não há lugar para opiniões fechadas, dogmáticas e condicionadas. É um espaço de liberdade, de independência e de cultura onde a dialética é essencial, assim como a ironia. Meras posições partidárias seriam indignas do passado do programa. Ana Catarina Mendes tem potencial para integrar a equipa e não é uma estreante em televisão. Vai ter de o confirmar num terreno difícil. É como no futebol. As grandes transferências justificam-se no relvado.
5. Kamala Harris é a candidata a vice-presidente dos EUA, fazendo parelha com Joe Biden, nos seus bem conservados 77 anos. Biden tem mais três anos do que Trump, que está a recuperar nas sondagens. Uma das curiosidades da campanha é definir-se Kamala como negra em todos os média. É a caça ao voto étnico e a simplificação das coisas. Kamala é filha de uma médica indiana e de um professor jamaicano mulato. Sangue negro tem, portanto, apenas 25%. É o marketing político a impor-se. O que importa mesmo são as qualidades pessoais e políticas dela, que parecem ser muitas. O facto é que se trata da primeira mulher não branca candidata a vice-presidente da maior potência mundial, ficando numa posição excelente para chegar à Presidência, uma vez que é improvável que Biden se recandidate, se ganhar.
Escreve à quarta-feira