Paulo Pedroso saiu discretamente do PS há uns meses, mas só agora decidiu tornar público que deixou de ser militante. Fê-lo também de forma discreta, no último domingo, num texto sobre o sindicalismo em que se assumiu como um socialista democrático “desvinculado da militância partidária”. Ontem, depois de terem sido publicadas várias notícias sobre a sua saída do partido, Paulo Pedroso explicou as razões que o levaram a tomar esta decisão para evitar polémicas. “Não entrei em rutura com o líder do PS nem em divergência ideológica global com o partido”, garante.
O ex-ministro socialista aproveita para esclarecer que não está “em trânsito para nenhum outro espaço político nem desconfortável com este espaço”, mas quer assumir outro tipo de intervenção numa altura em que está de regresso a Portugal. “Apenas decidi que, após algumas tentações de voltar à política, devia encetar uma nova etapa, centrada quanto ao espaço público na expressão das minhas opiniões individuais, livre de qualquer fidelidade ou disciplina partidária”, afirma o ex-dirigente socialista, que está a terminar o mandato no Banco Mundial.
Paulo Pedroso era uma figura em ascensão dentro do PS quando se viu envolvido no escândalo da Casa Pia em 2003. O ex-ministro foi ilibado, depois de ter sido preso preventivamente durante vários meses, e indemnizado pelo Estado, mas decidiu deixar a política ativa após uma curta passagem pelo parlamento. Nos últimos tempos assumiu algumas posições críticas em relação ao PS, mas só agora foi conhecida a sua desfiliação do partido.
Desde que António Costa chegou à liderança do PS outros destacados socialistas decidiram deixar o partido. Alguns por estarem descontentes com o rumo do PS como Alfredo Barroso, Henrique Neto ou Ana Benavente. Outros, como José Sócrates ou Armando Vara, por causa dos problemas com a justiça.
Críticos e descontentes
Alfredo Barroso, fundador do PS e militante número 15, bateu com a porta em rutura com António Costa no início de 2015. “A verdade é que também era muito aborrecido estar num partido e a criticar sempre as posições oficiais desse partido. E isso já acontecia há algum tempo”, disse, em entrevista ao i.
Alfredo Barroso bateu com a porta depois de António Costa ter agradecido aos investidores chineses o “grande contributo para que Portugal pudesse estar hoje na situação em que está, bastante diferente daquela que estava há quatro anos atrás”.
O fundador do PS já somava divergências com o partido e não gostou de ouvir “um secretário-geral do PS a prestar vassalagem à ditadura comunista e neoliberal da República Popular da China”.
Henrique Neto, deputado e dirigente com António Guterres na liderança, também foi bastante crítico da atuação do partido, principalmente nos anos de José Sócrates. No verão de 2017, o empresário deixou o partido com duras críticas a António Costa. “É um bom executante da política à portuguesa e um erro de casting como estadista e primeiro-ministro”, escreveu o ex-deputado socialista. Uns meses depois de ter deixado o partido, Henrique Neto confessou ao i que “devia ter saído mais cedo” e que “a razão principal” foi a corrupção. “Não aceito que um partido com a tradição e a história do Partido Socialista seja um partido que não faça nada para combater a corrupção”.
Ana Benavente também deixou de se identificar com a postura do PS e entregou o cartão de militante no início de 2019. “Achei que não fazia sentido nenhum estar ligada a uma organização com a qual não desenvolvia nenhuma atividade”, disse a ex-secretária de Estado da Educação numa entrevista ao jornal SOL.
Para evitar mais embaraços
Por razões diferentes, José Sócrates pediu a desfiliação do PS em maio de 2018. Depois de perder a solidariedade de quase todos os dirigentes socialistas, o ex-primeiro-ministro, o único a conseguir uma maioria absoluta para o PS, considerou que “é chegado o momento de pôr fim a este embaraço mútuo”.
Vários socialistas consideraram, nessa altura, que o caso em que o ex-primeiro-ministro está envolvido “envergonha qualquer socialista”. José Sócrates considerou que estava a ser alvo de “uma espécie de condenação sem julgamento”.
Um ano depois foi a vez de Armando Vara entregar o cartão de militante para “evitar qualquer embaraço” ao partido. O ex-ministro de António Guterres saiu do PS quando já estava a cumprir pena de prisão por tráfico de influências. A decisão do socialista surgiu uns dias depois de o PSD ter anunciado que iria avançar com um processo de expulsão do ex-deputado Duarte Lima.