Depois de um mês de interregno, volto esta semana às minhas crónicas semanais. Confesso que já com alguma saudade de partilhar as minhas experiências e opiniões.
Muita coisa se passou nestas semanas de agosto que de “silly” teve muito pouco. E Muitos poderiam ser os temas a abordar. Contudo, esta pausa coincidiu com uma profunda mudança na minha vida, em todos os sentidos.
Num ápice tive que tomar decisões difíceis e radicais que, como tudo na vida, terão influência no rumo que a mesma irá tomar ao longo dos próximos anos.
Desde o início deste mês, deixei Portugal para me instalar na Bélgica. As primeiras impressões são positivas, mas não deixam dúvidas sobre o contraste com o que estava habituado, mas que, naturalmente, terei que me habituar.
A primeira realidade que assimilei de imediato é a maneira como olhamos para o passado, em concreto, como víamos o mundo e as vivências que tínhamos.
A forma como vemos as coisas muda consoante a perspetiva que temos das mesmas e essa perspetiva muda consoante o lugar em que estamos. Os últimos 19 anos da minha vida foram essencialmente vividos numa perspetiva de olhar para o mundo de sul para norte.
Passei grande parte desses anos a sul do equador. Foram inúmeras as missões ao hemisfério sul, às profundezas de África, ao salero da América Latina, às apaixonantes ilhas atlânticas, entre outras viagens por outras longitudes, mas sempre a sul.
Vivências únicas e, sobretudo, intransmissíveis. Experiências inigualáveis que nos enriquecem, nos tornam mais humanos e, claro, nos fazem ver a vida de outra perspetiva.
Esta semana rumei a norte da Europa, mudei de latitude, tornei-me mais um expatriado e por aqui ficarei nos próximos anos.
A profundeza é substituída pela centralidade e o salero é refreado pelo frio e chuva. Muda a perspetiva com que via o Mundo, manter-se-ão as incursões a sul, só que desta feita, sempre a norte do hemisfério e sempre, a olhar para o sul.
À primeira vista tudo parece diferente. As gentes, as cores, os aromas e as disposições. Sorrisos menos rasgados ou mesmo ausentes. Um ritmo acelerado de pessoas que parecem não ter tempo a perder, ruas impessoais e silêncios desconcertantes são os primeiros traços de uma cidade que chamarei de casa nos próximos tempos.
Em contraste, como que numa camada inferior, existe um “underground” que antagoniza com a vida da superfície do dia-a-dia. Um incomensurável oferta cultural entra-nos pelas caixas de correio a dentro. Concertos, teatros, exposições e feiras são para todos os gostos.
Na verdade, não muito diferente do que se passava a sul do hemisfério, onde a oferta também era muita, mas apenas menos sofisticada e menos sonante.
Mais genuíno se quiserem, mais humano até, longe da industrialização e do consumo de massas que temos por aqui.
Mesmo em apenas uma semana já senti a necessidade de estar perto do que é genuinamente nosso. E, claro, da simplicidade que domina as relações e as vivências de África ou da América Latina.
Irei habituar-me, terei que o fazer necessariamente. Até porque o frenesim que envolve esta cidade alinha na perfeição com o trabalho que irei desenvolver.
Início esta nova etapa da vida com um misto de excitação e melancolia. A excitação de um novo desafio, da novidade e da imensa vontade de aprender e descobrir. A melancolia de deixar para trás família, amigos e vivências em terras onde o tempo passa mais devagar e fui profundamente feliz.
Uma semana apenas aqui e a sensação que tenho é que já passaram meses. É efetivamente diferente o Mundo visto daqui, nem melhor, nem pior. Apenas isso, diferente.
Escreve à quinta-feira