O dirigente do PS, Daniel Adrião, admite que não vê com “bons olhos” as ligações familiares dentro do Governo. “Tem de haver uma separação muito clara entre interesses pessoais ou familiares e os interesses do Estado”, afirma este socialista.
Daniel Adrião, que lidera uma corrente minoritária dentro do partido, defende que devia ser aprovada legislação para prevenir esta situação. “Devia ser aprovada em Portugal legislação semelhante àquela que foi aprovada em França para prevenir o nepotismo”. Os franceses aprovaram, em 2017, a lei da moralização da vida política que proíbe os ministros, deputados e autarcas de empregar familiares como colaboradores.
A dimensão que a polémica ganhou está a assustar alguns socialistas. António Costa, ao contrário do Presidente da República e de quase todos os líderes partidários, ainda não falou do assunto. Um deputado do PS lamentou que estejam a ser misturados vários casos e que algumas das pessoas que estão debaixo de fogo têm méritos, mas admite que “há situações que são imorais”. Em defesa do Governo saiu o presidente do PS. Carlos César defendeu que o importante é existir transparência e competência. “Acho natural que, em determinadas famílias, onde essa vocação se multiplica, as pessoas tenham empenhamento cívico similar. Não me admiro nada que essas coisas aconteçam”, disse
Marcelo pede contenção
O Presidente da República já comentou as ligações familiares no Governo três vezes, mas, pela primeira vez, avisou que não vai tolerar mais situações como aquelas que têm vindo a público. “Não se pode ser rígido e há sempre exceções à regra. Mas não me apareçam com mais nomes”, disse, em declarações ao Expresso, o Presidente da República. Marcelo deixou ainda claro que “não é bom misturar família com política”.
O Presidente da República, numa primeira reação, lembrou que este Governo tomou posse ainda com Cavaco Silva na Presidência e “partindo do princípio de que o Presidente Cavaco Silva, ao nomear aqueles governantes, tinha ponderado a qualidade das carreiras e o mérito para o exercício das funções”.
Cavaco não deixou o atual Presidente da República sem resposta e afirmou que “não há comparação possível em relação ao Governo que dei posse em 2015”. Cavaco Silva, após a insistência dos jornalistas, considerou ainda que “não há comparação em nenhum outro país democrático desenvolvido”.
As ligações entre pessoas da mesma família neste Governo foram alvo de duras críticas da oposição. “Quando nós olhamos para o organigrama do Governo e mais parece uma árvore genealógica, eu creio que todos ficam estupefactos”, afirmou a presidente do CDS. Para Assunção Cristas, o PS “mostra aquilo que tem sido sempre quando governa: usa o Estado como se fosse a sua casa”. Rui Rio também condenou que os socialistas deem mais importância às relações pessoais do que à competência das pessoas que escolhem para o Governo.