Qatar, por onde se testou antes do grande dia, do dia D que afinal será M, de Miguel, ou O de Oliveira e de oitenta e oito, talvez F de Falcão.
Quase, quase lá nos tempos que se trabalham e diminuem, distâncias que se encurtam, quase lá no primeiro fim de semana de todas as pistas e de todos os asfaltos que alguma vez fizeram acolher um português na corrida rainha e mágica da MotoGP.
Quanta, quanta esperança e vontade, esta nossa aquela dele, de ombrear mano a mano, olhos nos olhos, ombros nos ombros, punho no punho, com uma senhora lista de nobres cavaleiros onde pontificam um Valentino e um Marc, senhores Rossi e Márquez, criadores e geradores de debates sem meta à vista, eles que impassíveis seguirão curvando a fundo, alimentando seus exércitos de apoiantes, gente feita de amigos inseparáveis que por aqui não dão trégua alguma uns aos outros.
Recordai Statler e Waldorf, dois que se calhar e de repente nada vos dirão, quem diria? … sendo eles os saudosos Velhos dos Marretas, e terão redesenhado o campo de ação das mais lindas duplas de rossistas e marquezistas, e eu tenho uma dupla dessas, de estimação, Hélder e Fanan, dois insuportáveis, inseparáveis, inigualáveis amigos. Um Valeixo, outro Coelho, um valentinista, o outro marquise.
Mas o que nos trará este ano de 2019, passados 70 anos do primeiro mundial de gente louca de velocidades destas?
Voilà, isso mesmo, sentará Statler/Hélder e Waldorf/Fanan, e tantos haverão nas vossas/nossas vidas, e todos juntos voarão em uníssono, nas asas do senhor 88.
E no meio de tanta divagação, de tanto sonho e palpite, segue sua saga o nosso eleito, comparando-se a Hafiz, reduzindo-se em distâncias a Pol e Joahan…
Parecendo-nos só quando dispara naquela KTM, parecendo-nos longe, mais ainda indo por ali fora, dando vontade de lhe dedicar poesia…
Que longe parece agora dois mil e cinco
Tanto treino, tanta corrida que já lá vai
Dias de garra, crença, dor e tanto afinco
Começo de tudo, eram dias de Miguel e pai.
E porque na aritmética dos números haverá espaço para alguma prosa também, e porque nesta vos trago novas do 88… vamos aos cronos do fim de semana e às inevitáveis espreitadelas aos tempos de quem nos ajudará a melhor perceber que Falcão anda a voar por ali.
E se Bagnaia, o grande tormento do ano transato, atualmente com uma Ducati, ficou à mão de semear de 15 centésimos no primeiro dia destes testes, já para Zarco, o senhor campeão francês, a diferença quedou-se pelos 12. Pol, o melhor KTM do dia, a oito décimos, ou seja, menos de um segundo. E a Syahrin, o colega de equipa a quem se apontaria o primeiro mano a mano, coube-lhe experimentar a sensação de ver o Falcão ir por ali fora andando…
Nalguns momentos, e bem os sabemos pontuais por ora, não deixou no entanto de ser um pouco emocionante olhar a tabela e ver MO à frente de alguns dos tubarões que neste lago nadam faz tempo.
E se bem que todos tenhamos a noção de que testes são testes e, nessa perspetiva, ser bastante cedo para embandeirar, há no entanto uma nova realidade que não apenas saudamos como vamos divulgando a cada oportunidade que ela nos dá. Falamos daqueles dois anéis alaranjados em mancha azul-petróleo que um Falcão de nome Miguel faz voar asfalto fora e nossos corações adentro.
E enquanto outro não descobrir a equação geométrica que tão bem faz voar cavalos, de uma coisa Oliveira pode estar certo: juntou adeptos de todas as cores e feitios, pregando-os à mesma bancada, ao mesmo sofá, de abraço dado e sorriso de esperança.
Posso até jurar que juntos vi Statler e Waldorf, Hélder e Fanan, que vi uns e vi outros, e todos bem juntinhos, oliveirando.
E os vossos, como se chamam?