Caracóis. Petisco de verão: amado por uns, odiado por outros

Caracóis. Petisco de verão: amado por uns, odiado por outros


Há quase dez anos, o consumo de caracóis em Portugal chamava a atenção. Nesta altura, estimava-se que, por ano, fossem consumidos três a quatro milhões de quilos de caracóis. Mesmo a Norte, onde há menos adeptos, o negócio tem crescido


São consumidos maioritariamente no sul do país, mas conquistam cada vez mais adeptos e quem gosta, gosta mesmo. Seja como for, não há verão sem caracóis. As placas à porta dos restaurantes anunciam que é chegada a hora do petisco e não há apreciador que não esteja preparado para aproveitar, muito embora os que chegam às nossas mesas sejam maioritariamente importados. Nos últimos anos, chegam sobretudo do norte de África.

Até porque todos os anos é só repetir a fórmula. Apesar de ser um petisco odiado por muitos – sobretudo mais a norte do país -, chega o verão, com os dias quentes, e as esplanadas começam a ficar cheias de adeptos dos caracóis. O negócio tem sido alimentado, nos últimos anos, graças às toneladas que se importam de Marrocos. Montra que é montra tem de dizer “há caracóis”, e começa a divisão entre os que não querem perder a oportunidade de comer enquanto dura a estação e os que não entendem a euforia que se cria em torno destes animais. Lisboa é uma das cidades onde mais se encontram esplanadas apinhadas de adeptos destes moluscos. E na capital é impossível falar do assunto sem mencionar o “Júlio”. É a casa mais conhecida da Rua Vale Formoso de Cima, em Marvila, e com crise ou sem ela, confirma que não há verão sem o negócio dos caracóis. Os proprietários já se habituaram às filas de espera para conseguir um lugar e é certo e sabido que a procura de caracóis é cada vez maior. 

Já em 2016, um dos proprietários deste espaço explicava que “os caracóis vêm de Marrocos e os portugueses, sem dizer números precisos, consomem toneladas.” Para complicar a vida de quem quer arranjar mesa só mesmo juntando o facto de ser dia de jogo de futebol. 

Produção rende milhões Muito embora os caracóis que chegam às mesas portuguesas sejam de origem marroquina ou espanhola, a produção em Portugal ultrapassou, em 2015, as 500 toneladas e rendeu três milhões de euros. 

De acordo com os dados divulgados no Encontro Nacional de Helicicultores, existiam, no ano em questão, uma centena e meia de produtores nacionais, em todo o país, e 300 hectares de área de produção. Aliás, os números não enganam. Este negócio tem vindo a crescer de ano para ano. Entre 2012 e 2013, o número de produtores aumentou em mais de 200%, principalmente graças ao financiamento comunitário. Já nesta altura se sublinhava o facto de Portugal consumir por ano mais de 13 mil toneladas de caracóis. Também os dados de 2014 mostram que foram produzidas 500 toneladas, que acabaram por permitir uma faturação na ordem dos três milhões de euros.

Em 2016, os números continuaram a mostrar que Portugal continua a ter uma relação próxima com este petisco no verão. No ano passado, os resultados voltavam a reforçar esta ideia. Aliás, no Norte, este negócio começou a andar a alta velocidade. Embora não seja possível dizer com exatidão o número de pessoas que emprega ou as toneladas produzidas, a verdade é que, nos últimos anos, esta atividade tem se vindo a profissionalizar neste região do país. No entanto, dizem os produtores que são as exportações que absorvem todo o produto. Vendem-nos, em caviar, cozinhados ou até mesmo ao natural, para Itália e Espanha. De acordo com os helicicultores de cooperativas desta zona, só não se vendem mais porque não há. E não escondem o que acontece neste negócio: Enquanto os caracóis portugueses seguem viagem para fora do país, no mercado interno consomem-se o que chega de Marrocos.

Febre dos caracóis Em Portugal, o consumo de caracóis é garantido todos os anos, ainda que exista uma diferença de gostos que se divide por zonas geográficas – no norte, este petisco não é tão apreciado. Seja como for, a febre dos caracóis no verão já fez mesmo com que este petisco tivesse direito a vários festivais que se realizam em diversas zonas do país. Cozidos com orégãos, grelhados na chapa ou até em feijoada, nestes festivais há de tudo. Aliás, há quase dez anos, o consumo de caracóis em Portugal chamava a atenção. Nesta altura, estimava-se que, por ano, fossem consumidos três a quatro milhões de quilos de caracóis. 

Só no Norte é que a produção continua a pesar mais do que o consumo. Existem restaurantes que têm o petisco, mas a percentagem de quem não quer sequer ouvir falar em caracóis continua a ser grande. Em 2007, um apaixonado por estes moluscos arriscou organizar a Feira do Caracol em Leça da Palmeira, Matosinhos. O evento teve algum sucesso, mas não conseguiu enraizar o hábito. Na hora de petiscar, os portuenses, por exemplo, preferem as moelas ou as pataniscas.