Tal como se esperava, o novo presidente do parlamento da Catalunha propôs ontem o nome de Carles Puigdemont para presidir à Generalitat. Numa declaração aos jornalistas sem direito a perguntas, Roger Torrent defendeu que o ex-líder do Govern tem “absoluta legitimidade” para voltar ao cargo, mesmo estando autoexilado em Bruxelas, e garantiu que a sua investidura reflete a “vontade popular” dos catalães que se deslocaram às urnas no dia 21 de dezembro, para decidir a nova composição do Parlament.
Torrent anunciou ainda que endereçou uma carta ao presidente do governo espanhol para lhe requisitar uma audiência onde se possa debater a situação legal de Puigdemont e dos restantes políticos catalães, acusados pela justiça espanhola de rebelião, sedição e desvio de fundos, que se encontram expatriados na Bélgica ou detidos em Espanha.
No mesmo dia em que o presidente do Parlament propunha o seu nome para presidir ao novo governo catalão, Puigdemont provocava Madrid com uma deslocação a Copenhaga para participar numa conferência académica. Mal soube da viagem para a Dinamarca, a procuradoria espanhola pediu a reativação da ordem europeia de detenção do antigo presidente da Generalitat, mas o juiz do Tribunal Supremo, Pablo Llarena, recusou o pedido, ao perceber que o catalão não pretendia mudar-se para aquele país nórdico.
Numa sala apinhada com mais jornalistas que estudantes, Puigdemont defendeu que a “sombra de Franco” persiste em Espanha e comparou a postura de Rajoy com as “violações do Estado de Direito que se veem na Polónia”. “Não nos vamos render ao autoritarismo. O independentismo vai formar um novo governo em breve, apesar das ameaças de Madrid”, afiançou, citado pelo “La Vanguardia”.
Recorde-se que das eleições extraordinárias decretadas por Mariano Rajoy – na sequência da declaração de independência na assembleia catalã e da consequente aplicação do artigo 155.o da Constituição espanhola – resultou uma nova maioria independentista no parlamento, composta por 70 deputados do Junts per Catalunya, da Esquerda Republicana e da CUP, pese embora a vitória do Ciudadanos em termos de votação, equivalente a 36 deputados.