Orçamento Participativo Portugal. “Isto é a vitória da cidadania”

Orçamento Participativo Portugal. “Isto é a vitória da cidadania”


Da agricultura à ciênica ou da cultura à educação: 660 projetos validados foram postos à votação de um país inteiro para o primeiro orçamento participativo a nível nacional


“Fez-se história”, “isto é algo único” e “ainda não acreditamos”, foram algumas das frases mais repetidas ao i no final da sessão de apresentação dos projetos vencedores da primeira edição do OPP- Orçamento Participativo Portugal, que aconteceu ontem no Pavilhão do Conhecimento.

Uns vieram de comboio, outros de autocarro. E há quem tenha estado presente por mero acaso, por ter perdido o transporte para casa, como é o caso dos vencedores do projeto mais votado de âmbito nacional, “Cultura para Todos”, que angariou 6614 votos.

João Pereira e Tiago Veloso são jovens de 27 e 28 anos e desabafam a incredulidade do momento. “Ainda não dá para acreditar, nós só viemos porque, por acaso, perdemos o autocarro para Coimbra”, diz João, por de trás de três medidas que prometem criar impacto na cultura portuguesa e que contarão com o apoio de 200 mil euros do OPP: “A primeira é dedicada aos jovens que completam 18 anos e irão passar a receber um cheque que lhes permite passar um ano a visitar museus gratuitamente; a segunda medida é a da troca de livros, em que as pessoas doam à biblioteca regional os livros que já não leem e, em troca, recebem também um cheque para comprar livros novos. A terceira é uma base de dados de livros em formato digital, disponíveis também com versões áudio e braile para todos os que são portadores de deficiência”, explicaram os vencedores.

Emoções à flor da pele

David Carvalho pertence à companhia de teatro Filandorra e, quando subiu ao palco, quebrou mesmo o protocolo para dizer que acabava de ser salva a companhia. “Ia fechar se não fosse isto”, disse mais tarde e ainda emocionado ao i. Quem também deu nas vistas pela emoção ao serem chamadas ao palco foram três amigas de Óbidos que sonham com a reabilitação da maior lagoa do país. “Óbidos não tem orçamento participativo e por isso não tem hábito deste tipo de movimentação. Caldas da Rainha tem, mas não funciona bem. Para nós, estarmos entre os projetos mais votados é de uma enorme alegria porque foi um esforço muito grande compensado. Isto é uma vitória da cidadania”, contam orgulhosas ao i as criadoras do projeto Centro de Interpretação para a Lagoa de Óbidos de âmbito regional, que obteve a segunda maior votação em toda a Região Centro. “Nós andámos porta à porta, em cabeleireiros, talhos, lojas, para pedir às pessoas que votassem no projeto. A nossa lagoa está esquecida, com tantas espécies, com tanta importância na região, é importante agir já”, explica Dulce Horta.

Quem também ainda estava aos abraços e a tirar fotografias quando foi abordado pelo i era um grupo de Águeda. “Nós somos uma população muito unida, juntámos ciganos e não ciganos para recuperar um terreno degradado e abandonado e transformá-lo num parque botânico, enquanto as raças e os partidos estão metidos num saco, este projeto já dura há sete anos”, diz Ricardo Pereira, de 34 anos.

Três milhões de euros

Depois da seleção prévia de 600 propostas, o país teve a oportunidade de votar o futuro de três milhões de euros destinados a este primeiro orçamento participativo de caráter nacional, experiência pioneira também a nível internacional. A primeira edição do OPP registou 78.815 votos, dos quais 45.531 em projetos regionais e 33.284 em projetos nacionais.

Para Graça Fonseca, Secretária de Estado Adjunta e da Modernização Administrativa, o resultado dá “bastante ânimo em relação ao Orçamento Participativo de 2018”. Ficou desde já a promessa: para o ano, o OPP vai contar com cinco milhões de euros.