Desculpem, mas as mulheres não são iguais aos homens!


De que nos serve, à nossa sociedade, mulheres em cargos decisórios se elas atuarem como homens? De nada. De que nos serve uma CEO de uma qualquer empresa que não promove nem respeita o papel das mulheres da sua empresa?


O constitucionalista francês Robert Badinter, também ministro da Justiça responsável pela abolição da pena de morte em França, em 1981, é protagonista de uma afirmação com muito sentido. “Estamos a passar da democracia representativa para o que é chamado comummente democracia de opinião. Esta última degenerou, nos últimos tempos, na democracia de emoção.” É certo que Badinter se referia à problemática da aplicação da justiça confrontada com o frenesim legislativo de que tem sido alvo na era contemporânea. Mas o alcance da sua afirmação aplica-se muito bem a vários recentes episódios circulados por uma certa possessão ideológica em nome de uma determinada igualdade, mas que, no fundo, se pode muito bem confundir com um igualitarismo nefasto que, no limite, produzirá ainda mais desigualdade.

Quando, em “My Fair Lady”, o Prof. Higgins pergunta “Why can’t a woman be more like a man?”, está a confirmar a escola que a mentalidade política, social e empresarial afirmou ao longo de demasiados anos e que, passados mais de 50 anos desta afirmação e não obstante os acentuadíssimos avanços no tratamento igual entre homens e mulheres que consubstanciaram a luta pela igualdade de direitos de primeira e segunda geração, continua a redundar num terrível equívoco.

Achar que promover a igualdade de género é tornar as mulheres iguais aos homens é prestar um mau serviço a todas aquelas mulheres que, ao longo de quase século e meio, lutaram por um tratamento igual, pela igualdade de oportunidades, pela igualdade salarial, pela igualdade de participação na vida social ou até, entre tantas outras legítimas e justas reivindicações, pela igualdade na realização das tarefas domésticas e educativas, que tantas carregam nos ombros por mero alheamento dos seus parceiros.

Se todas as intervenções do Estado se fundem numa lógica de mero cumprimento de quotas, da presença de mulheres em órgãos de administração pública ou privada, então não fazem sentido objetivo nenhum. Se o Estado entende que deve sugerir a retirada de livros do mercado apenas devido à pressão de uma agenda mediática que se leva demasiado a sério, mas que não aprofunda a importância da participação da mulher na construção da sociedade do séc. xxi, a importância da mulher na resolução e na abordagem aos problemas, na capacidade da mulher de estabelecer pontes, na sua diferença como mais-valia, então o Estado não está a cumprir a sua função. Esta neocensura de que somos alvo, e que devia operar apenas nos casos gritantes que, infelizmente, ainda existem, é perigosa para a construção da sociedade que queremos, onde as mulheres desempenham um papel cada vez mais crucial.

De que nos serve, à nossa sociedade, mulheres em cargos decisórios se elas atuarem como homens? De nada. De que nos serve uma CEO de uma qualquer empresa que não promove nem respeita o papel das mulheres da sua empresa? Que não lhes incute e não as defende na sua diversidade? Que as obriga a preterir a família a favor da carreira? Que não incute uma cultura empresarial que torne a abordagem feminina crucial, mas que lhe dê espaço de respiração para que ela, se for esse o seu desejo, concilie a sua profissão com a sua posição de elemento central da constituição familiar?

Halla Tómasdóttir, ex-candidata à presidência da Islândia, explica isto bem. “A falta de diversidade leva a problemas desastrosos. Não se trata de as mulheres serem melhores do que os homens. A questão é serem diferentes dos homens, trazendo diferentes valores e maneiras diferentes de trabalhar para cima da mesa.”

Ora, isto não é mais do que a manifestação plena do principio da igualdade. Tratar por igual o que é igual e por diferente o que é diferente. As mulheres não são iguais aos homens. São diferentes em todos os aspetos. E merecem um tratamento diferenciado que promova a igualdade de oportunidades e de tratamento. Esta é a batalha da igualdade de género do séc. xxi: potenciar a diferença da mulher, da sua abordagem e da sua inquestionável importância no de-senvolvimento da sociedade. É aqui que reside o desafio do Estado. Tudo o resto é folclore mediático que não resolve os problemas de nenhuma mulher em particular.

 

Vice-presidente do grupo parlamentar do PSD. Docente universitário

Escreve à segunda-feira