Do Carcavelinhos ao “Dá-me o quarenta”

Do Carcavelinhos ao “Dá-me o quarenta”


Análise sobre a vontade do Sporting em transformar Campeonatos de Portugal em Campeonatos Nacionas


Ia começar a escrever… se o Carcavelinhos fosse vivo… E a verdade é que continua vivo, embora encarnado no Atlético Clube de Portugal, essa vetusta e histórica agremiação de Alcântara. Eu explico: em 18 de Setembro de 1942, fundiu-se com a União Football Lisboa. Daí o Atlético.

Ora, o Carcavelinhos já tinha tido tempo de vencer o Campeonato de Portugal, na época de 1927/28, batendo o Sporting na final do Campo da Palhavã por 3-1. Não sei se o troféu está guardado na sala de taças do Atlético. Se não está, deveria estar. Mas isto vem sobretudo a propósito da vontade (agora unida) de Sporting e FC Porto somarem os Campeonatos de Portugal aos Campeonatos Nacionais em vez de, como acontece, às Taças de Portugal. A lógica não é grande. Apesar de ter a denominação de Campeonato de Portugal, a competição, que teve a sua primeira edição em 1921/22 – com apenas um jogo, imagine-se, um FC Porto-Sporting (3-1 após prolongamento) – disputava-se em eliminatórias entre os alguns campeões regionais, no início, e depois já com a participação de vários representantes de determinadas associações.

Os ingleses, inventores deste jogo que apaixona multidões, até nas tranquibérnias de nomenclatura de troféus, sempre foram, como dizia aquele ministro do Eça, na conversa com Carlos da Maia a respeito de literatura, essencialmente práticos. Por isso usavam a denominação de “disputa em sistema de taça” e de “disputa em sistema de poule”. Manda o bom-senso, portanto, não meter no cesto dos nabos algumas beterrabas à mistura nem porquinhos da Índia na gaiola dos coelhos brancos.

Campeões curiosos

A Federação Portuguesa de Futebol foi clara quando publicou nos seus regulamentos: “Por virtude da reforma que se estabeleceu no Estatuto e Regulamentos da Federação, os Campeonatos das Ligas e de Portugal passaram a designar-se, respectivamente, Campeonatos Nacionais e Taça de Portugal”. Não se encontra, por isso, motivo para uma requalificação destas denominações.

O FC Porto, por exemplo, apresenta no seu sítio oficial a conquista de 27 campeonatos, 16 Taças de Portugal e 4 Campeonatos de Portugal. O Sporting, à revelia do que está oficialmente estabelecido, conta 22 títulos de campeão (ressalvando os 4 Campeonatos de Portugal ganhos) e 16 Taças de Portugal. O Belenenses publica 1 Campeonato Nacional, 3 Taças de Portugal e 3 Campeonatos de Portugal. O Benfica, também segue o mesmo caminho: 36 Campeonatos Nacionais, 25 Taças de Portugal e 3 Campeonatos de Portugal.

Para já, como se vê, os leões caminham solitários, a despeito da vontade já expressa pelo FC Porto em seguir pela mesma contabilidade. Claro que isto não é propriamente o da Joana, como gosta de dizer o povo, de Santiago de Riba Ul a Chão de Meninos. Por esse prisma, o Olhanense, o Marítimo e o Carcavelinhos (agora Atlético) estariam aqui a reclamar terem sido tantas vezes campeões nacionais como o Boavista. E os adeptos encarnados teriam de mudar o cântico: de “Dá-me o 37!” passariam a “Dá-me o 40!” Já agora, o Belenenses terminaria com a discussão sobre quem é o quarto garande: com 6 títulos de Campeão Nacional deixaria a concorrência a milhas.

Tudo isto tem a importância que tem e não merece mais do que a análise feita. Defendem os puristas que o Campeonato de Portugal, tendo para o vencedor o mesmo troféu que recebem os que conquistam a Taça – e os nomes inscritos na base do troféu original (na posse da FPF – o que se entrega é uma cópia mais pequena) acumulam-se dese 1922 – deve somar-se ás Taças. É essa, igualmente, a interpretação federativa. Mas, pelos vistos, se depender dos recém-unidos FC Porto e Sporting, a poeira não vai assentar.