Pedro Dias: ‘Naquela noite eu estava estoirado’

Pedro Dias: ‘Naquela noite eu estava estoirado’


Durante a fuga, Pedro Dias escreveu aos pais explicando os crimes: «Naquela noite que ainda é uma confusão para mim, eu estava estoirado. Tive mesmo de parar. Fui interpelado pela GNR e disseram-me que estava a dormir num local suspeito!».


Vendi a alma ao Diabo e nunca pensei que ele a viesse reclamar tão cedo e com tanta eficácia», escreveu Pedro Dias numas das cartas dirigidas a familiares depois dos crimes de Aguiar da Beira. 

A seguir à tragédia, o homem julgava ter morto quatro pessoas mas permanecia tranquilo, pensando não haver testemunhas do que fizera. Eliminara os que podiam comprometê-lo. Enganava-se.

Na madrugada dessa terça-feira, 11 de outubro, para não ser apanhado com uma arma que em tempos usara num furto, disparara contra elementos da GNR, sem pensar duas vezes. E depois baleara um casal numa estrada, para se apoderar do Passat em que seguia. 

Após fazer isto, para não deixar rasto que o ligasse aos crimes, Pedro Dias tinha ainda de executar duas tarefas: ao volante do Passat, ir até ao local onde iniciara a matança, recuperar a pick-up Toyota preta e livrar-se dela a seguir, substituindo-a por uma quase idêntica, mas azul, que deixara estacionada à porta de casa. E assim montaria um álibi.
Habituado a soluções fortuitas, às 8h30, cerca de duas horas depois de ter disparado sobre o casal, Pedro Dias esperara Ana Cristina – uma ex-namorada – na estrada que esta percorria a caminho da escola onde dá aulas

E pediu-lhe que fosse com ele buscar a pick-up azul à residência onde vivia, em Vila Chã, a um pulo dali.
A professora não desconfiou de nada. Nada nele traía o que acontecera. Mais tarde, ao ser confrontada pela PJ, Ana Cristina traçou o estado de espírito do ex-namorado nesse momento: «Para aquilo que eu já lhe conheci, ele estava bem». 

Por isso, quando Pedro lhe pediu para, caso alguém perguntasse pelo seu paradeiro na noite anterior, dizer que jantara e dormira em sua casa, não hesitou em assegurar-lhe cobertura.

Telefonema da GNR põe-no em alerta

O homem cumpria o seu plano e nem pensava fugir, até a GNR lhe ligar para o telemóvel. Eram 9h13, passavam 40 minutos de se ter separado de Ana Cristina. Soube aí que a sua carta de condução fora encontrada num monte perto do Hotel das Caldas da Cavava, na zona de Aguiar da Beira, num dos bolsos das calças da sua primeira vítima, o agente Carlos Caetano, de 29 anos, que ele abandonara sem vida na bagageira do carro-patrulha. E António Ferreira, colega deste, recuperara os sentidos e encontrara auxílio na casa de um cabo do mesmo posto da Guarda. Tudo começava a apontar para ele.

Mas Pedro Dias não fugiu de imediato. Contava com o álibi da ex-namorada e ainda deu troco ao agente. Só passada uma hora, quando uma sargenta lhe fez um ultimato dizendo-lhe que ele cometera crimes graves e exigindo que se apresentasse no posto, é que ele desligou o telemóvel. Estava agora incontactável e finalmente em fuga.
A professora estava a chegar à escola quando recebeu um telefonema da GNR perguntando-lhe pelo paradeiro do homem. Sem imaginar a trama em que este se envolvera, ela manteve o álibi: «Jantou e dormiu em minha casa». Por essa altura, já ele estava longe, na estrada para Viseu, a caminho de Arouca. 

Um nómada solitário

Tinha de se esconder enquanto não arranjasse ajuda financeira para pular do país, uma ideia que não lhe agradava. Aos 45 anos, embora não fizesse nada, apresentava-se como um rico homem. Dizia-se piloto, o que fazia parte da fachada heroica que dele queria passar aos outros, mas não tinha emprego nem movimentos nas contas bancárias; possuía apenas uma quinta, que herdara e que não sabia gerir, e uma propriedade adquirida por Ana Cristina da qual se apoderara e que nas suas mãos não rendia um cêntimo.

Valiam-lhe os furtos a que se dedicava há muito e o amor incondicional da família, gente de posses de Arouca. Tinha dois filhos, de duas ligações diferentes: Maria, de 10 anos, e Guilherme, ainda bebé de colo, os únicos a quem se dedicava para pertencer a alguma coisa, pois há muito que se tornara um nómada solitário.

Escreveu então uma carta à filha – de quem tinha a custódia e que ficara a viver com os avós paternos, depois de uma guerra nos tribunais e apesar dos relatórios psiquiátricos a que foi submetido o darem como sociopata – que era a única fraqueza da sua pervertida humanidade. «Sabes, filha, que desde o primeiro instante que toda esta tragédia aconteceu que eu só tentava vir ter contigo, mas tentaram sempre e conseguiram que não o fizesse ao som da bala», escreveu então, em estilo épico.

Para um homem da sua natureza, habituado a falsificar a realidade, desta vez saía-lhe do punho a verdade.
A caminho de Arouca, onde vivem os pais e a sua filha, pára em S. Pedro do Sul. O objetivo era esconder-se na Serra da Freita, que rodeia a pequena cidade da Beira Alta, ninho de lobos, javalis e lebres que, como caçador, conhece de olhos vendados. Talvez aqui, próximo de gente do seu sangue, encontrasse apoio para o seu primeiro plano. No reduto familiar sempre encontrara apoio. A mãe, professora, e o pai, engenheiro, aguardá-lo-iam, apesar de tudo, de braços abertos. Como sempre.

Compras no Lidl de S. Pedro do Sul

Desde adolescente que Pedro Dias pisava as margens da lei. Aos 15 anos, o pai fora a sua primeira vítima. Falsificou-lhe um cheque de mil euros para dar azo aos seus caprichos. Mais tarde, ainda no liceu, com o objetivo de comprar uma mota, burla uma professora em 10 mil euros. Também a eles, durante a fuga, deixaria um manuscrito a confessar os crimes: «Nunca pensei desiludir-vos tanto como agora o fiz… Apesar de não ser desculpa, sinto que há uns meses andava pior do que o normal, esquecido, mais nervoso, apático, e muitas vezes dei comigo a conduzir e a dormir como um bebé».

Em S. Pedro do Sul, dirige-se ao Lidl para se abastecer de comida para uns dias. No sistema de videovigilância do supermercado ficou registada a imagem de um homem sereno, sem qualquer dose de crueldade no rosto, de calças de ganga e t-shirt creme com uma águia estampada, a mesma que usara durante os crimes – e que mais tarde seria encontrada com vestígios de pólvora.

De novo no Toyota, seguiu para Arouca. Mas, por todo o país, a matrícula e os seus dados tinham já sido difundidos. Pelas 11h15, pouco depois de ter abandonado o Lidl, cruzou-se com uma patrulha da GNR de S. Pedro do Sul. O agente Horácio Mateus mandou-o parar, mas ele não obedeceu e acelerou. Iniciava-se a perseguição. 

Conforme contará mais tarde por carta  à sua atual companheira – Sara, uma jurista de quem teve o último filho –, foi por uma unha negra que não o agarraram: «A última vez que falámos ao telefone e disse que estava a ficar sem rede, já a Toyota azul descia a alta velocidade o lado oeste da Freita depois de ter sido recebido a tiro… Vinha eu a caminho de Arouca para te deixar 790 euros que tinha comigo e alguma explicação rápida para o que tinha acontecido… O que aconteceu a seguir já mais ou menos sabem: tentam apanhar-me no Candal (onde se comprou as vitelas) sempre ao som dos disparos, helicópteros e aviões».

Sempre no tom de quem narra uma epopeia, sem esquecer os pormenores, Pedro Dias vangloria-se: «Consigo escapar rente à noite entre duas patrulhas, muita chuva e confusão, os tiros são uma constante, a chuva é gelada e a altitude a 1.119 metros não ajuda».

Horácio Mateus e o colega, que perseguem o carro do foragido, pedem então reforços. Pedro Dias, apesar de conhecer bem a zona, metera-se num beco sem saída e vira-se obrigado a abandonar a pick-up. Enfiou-se pelo mato com os mantimentos que comprara e guardara num saco térmico, e as armas dos dois agentes que julgava mortos.

Objetos abandonados na mata

Horácio Mateus perdeu-o de vista. Entrou com o colega serra adentro no seu encalço, mas os guardas apenas encontraram o que Pedro Dias, durante a fuga precipitada, deixara para trás: as compras recentes que fizera no Lidl, com a respetiva fatura, e a Glock de calibre 9mm, ainda com vestígios de sangue, que roubara ao agente Carlos Caetano depois de o matar. E com a qual disparara a seguir sobre o casal com quem se cruzara na estrada e a quem furtara a viatura. Pendurada no ramo de uma árvore, o fugitivo abandonara ainda uma inesperada ‘recordação’: um cinturão de um dos guardas da GNR que baleara.

No exercício epistolar que mantém com Sara, Pedro Dias mantém a saga: «Como todos sabem agora, consegui escapar da zona das buscas fazendo os cerca de 40 km de estrada e umas onze horas de monte».
Durante os dois dias em que o homem andou na serra até encontrar um abrigo seguro, a PJ da Guarda – que na data dos crimes tomou logo conta do caso – já tinha feito as diligências necessárias para perceber que só havia um autor dos crimes de Aguiar da Beira.

Investigador reconstitui o crime

À frente do departamento, o coordenador José Monteiro, um prestigiado quadro superior PJ que aprendera com os melhores mestres, era um osso duro de roer. Ao fim do dia em que se iniciara a tragédia, com a descoberta de todos os carros envolvidos – nomeadamente o último, que Pedro Dias abandonara após a perseguição ao final da tarde –, o investigador avançava para uma compreensão mais provável do que realmente acontecera. Já era possível reconstituir a linha temporal dos acontecimentos e excluir a intervenção de terceiros, reduzir os cenários inicialmente montados.

 António Ferreira (um dos agentes que abordara Pedro Dias na madrugada fatal) já fora assistido no Hospital de Viseu com uma bala alojada na cervical. Apesar do seu estado crítico, consegue contar com pormenor o que se passara e identifica o autor. 

A ajuda de Ana Cristina também fora preciosa. Sem ter a noção do que se passara, a mulher sustentara ao longo do dia a versão que Pedro Dias lhe pedira para contar: que ele jantara e dormira em sua casa. Mas quando a GNR a levou ao local dos crimes, confrontada com a barbárie, acabou por contar a verdade e ajudá-los a descobrir o último veículo que faltava para montar o puzzle (o carro-patrulha da GNR) e que ele escondera perto do local onde abordara a professora.

Pedro Dias, entretanto, debatia-se com o mau tempo. Acima dele só pairava o céu carregado, que de quando em quando libertava valentes trombas de água. No trajeto, passa juntinho à casa de Fátima Reimão – uma professora amiga da mãe onde acabaria por se entregar, quase um mês depois. A PJ suspeita que a mulher foi a sua ponte enquanto por ali se manteve. 

A cerca de dois quilómetros da casa da professora, na serra, Pedro Dias encontra guarida na casa isolada de uma idosa a viver no Porto com a filha. Tinham sido dois dias duros, a pé, ao frio e à chuva. Sem informações, sentia-se resvalar para o precipício. Esperaria alguém de confiança e escreve um bilhete: «[Como está] A Mariosca [a filha]? Quem morreu?». De seguida, acrescenta uma lista de objetos de que iria necessitar, como um rádio portátil para se inteirar do caminho da investigação, relógio de pulso, um cartão de internet para um telemóvel desbloqueado, um rádio portátil, botas número 42, Aspirinas e Voltaren. Guarda o bilhete no bolso das calças cobertas de sangue.

Pensa fugir para a Síria ou Egito

A escrita mantém-no ativo. Aos pais ia dando conta dos seus estados de alma, sem que a culpa alguma vez se soltasse para lhe socar a consciência: «Naquela noite que ainda é uma confusão para mim eu encontrava-me a dormir estoirado, como vinha a acontecer há algum tempo. De repente tinha mesmo de parar ou ia pelo monte abaixo, quando fui interpelado pela GNR e me disseram que eu estava a dormir num local suspeito!!! Bem o que veio a seguir já todos sabem. Nessa noite em que dormia na carrinha tinha pelo menos sete casas onde podia estar a dormir e no dia seguinte era um sem-abrigo».

Naquele momento só encontrava uma solução: passar a fronteira. Numa das cartas que escreveu a Sara, que juntamente com as outras seriam encontradas numa busca a casa de Fátima Reimão, partilhou a sua primeira ideia para escapar ao périplo sangrento que iniciara: «A Síria era uma hipótese, o Egito e passagem para o Sudão outra… conheci relativamente bem o modo de atravessar as fronteiras terrestres e tinha alguns contactos que a troco de algumas centenas de euros facilmente me ajudariam a alcançar o pretendido…».

Mas uma visita inoportuna estragou-lhe os planos. Maria Lídia Alves, filha da dona da casa que com ela residia no Porto, tinha por hábito, quinzenalmente, passar pelo local para deixar ração para o gato que a mãe ali deixara e fazer uma limpeza à casa. E foi isso que sucedeu no dia 16 de Outubro. Chegara de comboio e apanhara um táxi. Antes de entrar na residência, trocara dois dedos de conversa com um vizinho, António Duarte, que também por ali aparecia esporadicamente para tratar do jardim da vivenda de um familiar emigrante.

Visita estraga-lhe os planos

Mal entra em casa, a mulher, com quase 60 anos, é presa pelo pescoço por Pedro Dias, que a arrasta para dentro enquanto a tenta estrangular. Ela estragara-lhe os planos. Bate vezes sem conta com a cabeça da mulher contra o chão e as paredes da casa, e a seguir pergunta: «A que horas sai daqui?». Lídia diz-lhe a que horas o táxi voltará a buscá-la. O fugitivo vê que não tem tempo para esperar por alguém com quem marcou encontro – e guarda no bolso das calças cada vez mais encharcadas de sangue o bilhete que escrevera a pedir informações sobre os mortos e outros objetos de que necessitava. Por fim, exclama: «Então tenho só quatro horas para sair daqui».

Lídia, de estatura média, agarra-se à vida com uma força até aí desconhecida. Por momentos consegue libertar-se do foragido (que conhecia das notícias que inundavam jornais e televisões), dá-lhe um pontapé certeiro nas partes mais melindrosas e corre para a porta. Mas ele alcança-a. António Duarte ouve-lhe os gritos e vai em seu socorro. Acabam os dois amarrados, cada um com uma batata na boca presa por um trapo. Não se sabe o que parou a vertigem sangrenta que se apoderara de Pedro Dias. Chegou a sacar da arma enquanto intimidava a mulher: «Sabes que este revólver era do polícia que matei». Mas não disparou.

Calças ensanguentadas são nova pista

Ao volante do Opel Astra de António Duarte, Pedro Dias vê-se obrigado a afastar-se do seu local de conforto. Parte em direção a Vila Real, onde durante nova investida da GNR acabará por abandonar a viatura. Pelo trajeto roubara roupa de um estendal. Mas acabaria por se comprometer cada vez mais. As calças cobertas de sangue, com o bilhete que escrevera na casa de Lídia, acabam por ser esquecidas na viatura que a PJ recuperaria.

De novo apeado, refugia-se em casas abandonadas ou que apenas são ocupadas pelos proprietários durante as férias. Escrever estimula-o. Já não tem muitas dúvidas sobre o desenlace da história de horror que iniciara. Os filhos, Guilherme e Maria, e a companheira, Sara, ocupam-lhe o pensamento. Escreve a esta: «Sara tudo o que eu tenho é agora do Gui e da Maria… sei que jamais alguém da minha família não respeitará essa minha vontade». E referindo-se a uma carrinha Kangoo, deixa nova ligação aos crimes que praticou: «A Kangoo tem um problema fácil de resolver e barato mas é preciso que peças outra chave à Renault pois a única que tinha ficou na porta do passageiro do Toyota azul… a carrinha é tua e farás dela o que bem te apetecer. Sobre outros dinheiros que se possa realizar penso que conseguiremos falar mais tarde… Entretanto vai pensando».

Videovigilância de bomba de gasolina localiza-o

Oito dias passados nas terras bravias de Vila Real, Pedro Dias descobre novo meio de transporte. A 24 de Outubro, nas proximidades da Quinta do Portal, onde se abrigara, rouba um jipe e regressa a casa. A PJ, que lhe ia traçando o perfil, ao ver no dia seguinte, no sistema de videovigilância de umas bombas de gasolina perto da Ponte do Pinhão, o Land Rover dado como furtado, tira as suas conclusões: o homem regressava ao berço onde só com a família podia contar.

Novas imagens recolhidas pelo percurso demonstravam que ele se aproximava de Arouca. Novamente instalado na Serra da Freita, Pedro Dias controlava tudo o que se passava em redor. Escreve à filha de 10 anos: «Cá estou eu a tentar ver a minha princesa por entre a confusão de polícias, das várias forças que guardam a casa dos avós, a quinta, a casa do pai de Sara, da Fatinha…). Nos primeiros 3, 4 dias ainda me passou pela cabeça que poderia ir viver para um país qualquer mas cedo percebi que não sobreviveria sem saber notícias de todos vós… amo-vos muito, muito mais do que a própria vida que tanto defendo nestes dias em que tantos ma queriam tirar. Podia ter-me entregue mas no princípio não mo permitiram e nos últimos dias também me deu um certo gozo que não soubessem do meu paradeiro e eu aqui tão perto».

A 26 de outubro, as dúvidas da PJ desvanecem-se. Com as casas dos familiares e de Fátima Reimão (de quem suspeitam há muito) sob permanente vigilância, e as escutas acionadas, as dúvidas desaparecem. Pedro Dias está na zona. À noite, a professora, fora de horas de repasto, liga a Andreia, irmã de Pedro Dias: «Queres vir cá jantar?». A jovem não entende o código. «Já jantei!», responde. A outra diz-lhe para então ir comer a sobremesa. Andreia também já o tinha feito, mas acaba por perceber o código e enfia-se na casa da vizinha.

Em casa de uma amiga

A PJ receia avançar e deitar tudo a perder. Até porque as traseiras da casa da professora têm saída para a Serra da Freita. Chega o fim de semana, festa da castanha em Arouca que arrasta todos os anos milhares de pessoas. No sábado, por volta da hora do almoço, Fátima Reimão, que vivia sozinha, dirige-se às barraquinhas montadas com iguarias da região e fornece-se de pataniscas para um rancho. A PJ acompanha-lhe os passos. Por volta das 15h00, a mãe de Pedro Dias com os netos e a sua companheira entram na casa da vizinha.

O calcanhar de Aquiles naquele momento é localizar o Land Rover, o último veículo de que o fugitivo se apoderara. Não queriam permitir uma nova fuga. Entretanto, Pedro Dias já decidira entregar-se. A ocasião é definida nos dias seguintes com a advogada da família, Mónica Quintela. Até lá, Pedro escreve uma série de cartas aos filhos e à companheira. Sabe o que o espera, e prepara Maria: «Os próximos anos não vão ser fáceis… as visitas que te fazia vais ter que ser tu a fazer-mas agora, sempre que isso não prejudique os teus estudos. Vais ser os meus ouvidos, o meu nariz, a minha boca e os meus olhos para que eu possa ver o mundo cá fora através de vocês».

A entrega

Quando, na semana seguinte, Mónica Quintela e jornalistas da RTP estacionam em frente da casa de Fátima Reimão, já a PJ lá se encontra com os mandados de busca para o prender. Decidem esperar que saiam para entrarem em ação. Mas a causídica, sem se acautelar das provas que o cliente reunira naquela casa, liga diretamente para Almeida Rodrigues, diretor nacional da PJ, e combinam a entrega do foragido. Ao canal público, Pedro Dias, fingindo ignorar que deixara para trás provas que o incriminavam sem apelo, declarar-se-á inocente.