O que nasce torto raramente se endireita. É o caso do sistema político luso pós–25 de Abril. Os militares impuseram regras claras e até levaram personalidades do antigo regime a formar um partido centrista, dito democrata cristão, para impedir a criação de forças políticas de direita.
As vagas tentativas de formar partidos à direita foram de imediato reprimidas e o pós-28 de Setembro ditou o fim dessas frágeis iniciativas. Assim, nestes mais de 40 anos de democracia, Portugal tem partidos de extrema-esquerda e de centro--esquerda. À direita é um deserto absoluto e só por facilitismo é que se fala numa direita ou centro-direita quando o tema é o PSD ou o CDS.
Só nos períodos de bancarrota, em que o país foi governado de fora, como aconteceu em 1978, 1983 e 2011, é que os governos de esquerda ou centro-esquerda no poder foram obrigados a tomar medidas económicas ou a promoverem reformas estruturais dignas de uma direita moderna, que liberaliza a economia e o mercado de trabalho, promove a verdadeira concorrência e reduz o peso da Estado na economia e na sociedade.
Foi assim com o último governo do PSD e do CDS. Mas em matérias cruciais, como a reforma do Estado e a privatização do setor dos transportes, o governo claudicou, mostrando a sua verdadeira natureza política.
E se algumas dúvidas houvesse sobre a inexistência de uma verdadeira direita em Portugal, basta estar atento ao debate em curso sobre o Orçamento do Estado e às lamentáveis peripécias à volta da Caixa Geral de Depósitos.
A esquerda, a que está no poder e a que está na oposição, discute apaixonadamente a vida de milhões de pensionistas, com as diferentes fações a reclamarem para si aumentos num campeonato eleitoral lamentável a todos os títulos, sem que ninguém ponha ordem na algazarra e diga de uma vez por todas que o rei vai nu. A Segurança Social é insustentável a médio prazo e só uma direita a sério seria capaz de fazer as reformas e tomar as medidas que se impõem para evitar a falência de um sistema sem qualquer futuro para quem entrou no mercado de trabalho há poucos anos e desconta religiosamente para uma futura reforma que, afinal, o Estado não está em condições de garantir.
A esquerda, a que está no poder e a que está na oposição, anda a discutir apaixonadamente a falta de investimento público e os males que advêm para a economia. Só uma direita a sério seria capaz de dizer a estes esquerdistas que o investimento público é uma ilusão, não cria empregos e não faz crescer a economia. O crescimento económico depende do investimento privado, de um mercado de trabalho flexibilizado e de uma redução da carga fiscal significativa para as empresas e famílias.
A esquerda, a que está no poder e a que está na oposição, anda muito excitada com o volume das cativações impostas pelas Finanças. A que está na oposição chora baba e ranho pelos serviços públicos afetados por essa redução da despesa e a que está no poder atira à cara da outra que no anterior governo as cativações também foram aplicadas para mascarar as contas públicas e reduzir o défice das contas do Estado. Só mesmo uma direita a sério deveria não só aplaudir as cativações como exigir um orçamento de base zero a todos os serviços do Estado para reduzir de forma estrutural a brutal despesa do Estado.
A esquerda, a que está no poder e a que está na oposição, provocou uma autêntica balbúrdia na Caixa Geral de Depósitos, o tal banco público que está praticamente na falência e precisa de uma injeção de capital superior a cinco mil milhões de euros devido aos negócios dolosos das esquerdas que ocupam o poder em Portugal há mais de 40 anos. A esquerda no poder, pressionada pelo BCE e por Bruxelas, aceitou transformar a CGD num banco privado com o Estado como único acionista. A esquerda que está na oposição não quer que a CGD seja um banco privado, exige redução dos vencimentos da administração e vai mesmo propor que os seus membros sejam obrigados a declarar os seus rendimentos ao Tribunal Constitucional. Só mesmo uma direita a sério estaria em condições de defender a privatização da Caixa, evitando que o banco público sirva de balcão privilegiado dos negócios das clientelas das esquerdas que alternadamente ocupam o poder.
É por estas e por outras que este país está e vai continuar a estar na miséria. A esquerda, a que está no poder e a que está na oposição, precisa de um Estado monstruoso cheio de funcionários públicos a quem dá mordomias e prebendas nas vésperas dos atos eleitorais.
A esquerda, a que está no poder e a que está na oposição, precisa de um país pobre, com muitos pobres que votam alternadamente em função das esmolas chorudas que os donos disto tudo prometem com o dinheiro dos poucos contribuintes que são alvo de sucessivos assaltos fiscais há mais de 40 anos.
Num país de esquerda com várias esquerdas, é tempo de acabar com a palavra direita. Direita, em Portugal, só mesmo a da tropa. Por enquanto, claro.
Jornalista