O braço de ferro entre o presidente François Hollande e a maior central sindical de França, a CGT, viveu ontem o episódio mais tenso de um confronto que se arrasta há dois meses em torno da reforma à lei laboral que o governo socialista acabou por impor por decreto.
A polícia de intervenção viu-se obrigada a recorrer a gás lacrimogéneo e a canhões de água para dispersar a multidão que bloqueava o acesso a uma refinaria petrolífera na zona de Marselha – a última estratégia anunciada pelos sindicalistas num protesto contra uma reforma que acusam de facilitar o despedimento, favorecer a oferta de empregos precários e isentar inúmeros setores do teto máximo de 35 horas semanais de trabalho.
A decisão da CGT de levar as greves gerais para as refinarias do país instalou o pânico, com postos de abastecimento por todo o país a registarem longas filas por parte de condutores particulares, taxistas e motoristas a prevenirem-se para uma eventual escassez de combustível.
O ministro dos Transportes, Alain Vidalies, confirmava ontem que num quinto das 12500 bombas de gasolina do país já se encontram sem stock de pelo menos um tipo de combustível, havendo já algumas completamente sem qualquer oferta disponível. Um cenário que levou o chefe do governo, Manuel Valls, a dar a ordem de “libertação” das oito principais refinarias do país, que a CGT conseguiu paralisar. “Vamos continuar a ‘limpar’ os locais que hoje estão bloqueados por essa organização”, explicou o primeiro-ministro referindo-se a um grupo que o presidente já referiu como “uma minoria de ativistas”.
Uma frase que acaba por ser contraditória face à decisão que se viu forçado a tomar há quase duas semanas: ciente de que a contestação à reforma abrange até o seu próprio partido, Hollande não arriscou sujeitá-la a votação no Parlamento, com medo que os seus próprios deputados a sepultassem.
Para evitar esse escândalo, Hollande recorreu ao decreto presidencial para impor a reforma. E a reação não se fez esperar: para além das refinarias, a CGT está a organizar greves nos principais portos do país e apela a greves semanais nos caminhos-de-ferro nacionais e no metro de Paris, cuja paralisação se deve iniciar a poucos dias do início do Europeu de futebol. “Iremos até ao fim, até revogarmos a lei laboral”, repetia ontem o líder sindical Phillipe Martinez, para quem o atual momento é uma “consequência de um governo que virou as costas às suas promessas”.