O governo socialista francês, que está cada vez mais impopular, enfrentou ontem um voto de desconfiança depois de na passada terça-feira ter aprovado a polémica reforma laboral sem passar pelo parlamento, recorrendo ao artigo 49-3 da Constituição.
A oposição não hesitou em apresentar uma moção de censura que foi discutida ontem, depois de um discurso do primeiro-ministro francês, Manuel Valls.
A imprensa francesa já tinha avançado que seria praticamente impossível que fosse aprovada, uma vez que foi solicitada por partidos da oposição sem votos suficientes na Assembleia Nacional. E não foi. A moção de censura recebeu 246 votos a favor, mas precisava de 288 para ser aprovada.
Se o fosse, o governo de Hollande teria de renunciar. Assim, o presidente continua no poder e a reforma laboral segue em frente. Antes da votação, que teve a duração de meia hora, Manuel Valls explicou o porquê de a reforma laboral aprovada ser tão importante, acrescentando mesmo estar orgulhoso. “Estou orgulhoso deste projeto de lei. A esquerda tem uma grande responsabilidade: governar. E o seu destino é grande quando se funde com o do país. O país precisa da sua ação [do governo], dos seus valores, dos seus resultados. Nestes momentos, a esquerda é o caminho necessário para aqueles que ainda não entenderam que o mundo mudou”, disse Valls.
Também o líder da bancada socialista na Assembleia Nacional, Bruno Le Roux, discursou a favor da reforma laboral. “Esta lei é útil? Sim. Marca uma nova era do trabalho. Trinta por cento dos trabalhadores trabalham fora do horário normal”, disse Le Roux, que fez um grande discurso sobre a precariedade dos trabalhadores franceses.
A reforma laboral aprovada tem como principal objetivo flexibilizar as regras de contratação e de despedimento. Segundo o governo, a reforma dá mais flexibilidade às empresas para lutar contra o desemprego.
Contudo, para a oposição, os sindicatos e as associações estudantis, a lei é considerada demasiado liberal.
Protestos Enquanto a moção de censura estava a ser votada, vários manifestantes protestaram nas ruas de França contra a reforma laboral. Os números divergem. Enquanto a Confederação-Geral do Trabalho de França apontava cerca de 50 mil manifestantes, as autoridades do país garantiam ser apenas 12 mil.
Os manifestantes gritaram durante a tarde toda de ontem “não à 49-3”.