Jerónimo cita Cunhal. “PCP não será muleta, não se deixa sitiar”

Jerónimo cita Cunhal. “PCP não será muleta, não se deixa sitiar”


Líder comunista diz que Cunhal tentou convergência com PS, mas Soares preferiu alianças à direita.


Jerónimo de Sousa citou ontem Álvaro Cunhal para afirmar que o PCP “não será muleta de ninguém”. O secretário-geral do partido lembrou os esforços de convergência – nomeadamente com o PS – do histórico líder comunista para assegurar que então como agora o PCP“não se deixa sitiar”. 

Jerónimo  discursava na apresentação do “Tomo VI das Obras Escolhidas” de Cunhal, na Biblioteca Nacional, em Lisboa. Reportava-se ao ano de 1976, já depois do “Verão Quente” de 1975 e do 25 de Novembro, que terminou o denominado Processo de Revolução em Curso (PREC), traçando paralelismos com a actual situação de entendimento com os socialistas. 

“Hoje está aberto o caminho e podem dar-se os primeiros passos para inverter o rumo de empobrecimento e de exploração destes últimos anos. Na passada terça-feira, dia 10 [a data de aniversário do falecido Cunhal], culminando quatro anos de luta dos trabalhadores e das massas populares foi rejeitado na Assembleia da República o governo PSD/CDS”, congratulou-se Jerónimo de Sousa. “É conhecida a subscrição da ‘Posição Conjunta PS PCP sobre Solução Política’”, acrescentou o líder comunista, descrevendo-a como “uma iniciativa de uma força com vontade e identidade própria, que afirma o seu programa e projecto. Uma força, como afirmou Álvaro Cunhal, que não será muleta de ninguém, que não se deixa sitiar, não deixou no passado, não deixa no presente e não deixará no futuro”.

“Há quem diga que só agora falamos do PS. Quem se dedicar a passar os olhos pelas intervenções, as entrevistas e artigos deste VI tomo, verificará o enorme esforço do PCP na procura de um entendimento para salvar a democracia, as conquistas da Revolução e para a concretização de uma política a favor do povo. Entendimento que só não se concretizou pela opção própria do PS”, afirmou Jerónimo de Sousa, referindo-se às opções do então líder socialista, Mário Soares, e às alianças que firmou com PSD e CDS.
Jerónimo recordou a histórica “esforçada intervenção e acção de um partido, dos trabalhadores, suas organizações e do movimento popular de massas”, num “país em que as forças da contra-revolução impunham em vastas zonas a sua lei, perseguindo, intimidando e ameaçando os comunistas e outros democratas”. E comparou também os tempos que se vivem em Portugal aos do VI Governo Provisório (1975/76), liderado por Pinheiro de Azevedo, considerando que se tornam a ouvir “as maiores calúnias”, as “mais grosseiras mentiras” e os “mais violentos ataques contra o PCP, as forças democráticas e o movimento operário”, enquanto se “procura uma solução política para isolar e travar a ofensiva da coligação PSD/CDS”, que disse estar “no desespero da sua iminente derrota”.