Touradas. A polémica está de volta

Touradas. A polémica está de volta


Corrida com anões reacendeu o debate. Constitucionalista Vital Moreira critica “cobarde omissão do legislador” e quer acabar com “a barbárie”. Só o BE e o PAN contestam a tourada nos seus programas eleitorais.


A polémica à volta de uma tourada com anões em Viana do Castelo reavivou a discussão sobre se as corridas de toiros devem acabar ou não em Portugal. O constitucionalista Vital Moreira, num texto sobre o espectáculo de Viana que acabou por não se realizar, acusa o legislador de “cobardia” e está do lado dos que querem pôr fim ao que classifica como “a barbárie da tortura dos animais para gáudio do sadismo público”.

“Decididamente, quando é que, perante a cobarde omissão do legislador, um tribunal tem a coragem de proibir estes espectáculos de degradação humana em nome da protecção constitucional da dignidade humana?”, questiona, no blogue Causa Nossa, o constitucionalista e ex-eurodeputado do PS. 

Os partidos tentam fintar a polémica e só o Bloco de Esquerda e o PAN falam sobre as touradas no programa com que se apresentam nas legislativas do dia 4 de Outubro. Os bloquistas defendem que as televisões em canal aberto devem ser proibidas de transmitir corridas e “o fim dos apoios públicos às touradas, com a criação de um programa de requalificação”. O objectivo é abrir caminho a acabar com esta actividade. OPAN, que conseguiu mais de 50 mil votos nas últimas eleições legislativas, joga ao ataque e acusa a “classe política” de “falta de coragem” e de perpetuar uma “indústria cruel” através de “apoios financeiros e institucionais”.

A coligação, o PS e o PCP não abordam o assunto nos seus programas. Nenhuma das iniciativas com vista a acabar com a actividade tauromáquica que foram discutidas na Assembleia da República contou com o apoio destes partidos. 
Gabriela Canavilhas, ex-ministra da Cultura, diz ao i que o PS não tem posição oficial, mas, a título pessoal, é contra o fim das touradas. A ex-ministra argumenta que “80% dos portugueses não é a favor da extinção”. “É indiscutivelmente uma prática cultural e, sendo uma expressão cultural com que a esmagadora maioria dos portugueses está de acordo, não há razão para que seja posta em causa”. A maioria dos deputados socialistas votou, em 2012, contra uma iniciativa do PEV para acabar com as touradas. O projecto teve, no entanto, o voto a favor de cinco socialistas e oito abstiveram-se.

PSD e CDS fecham a porta às pretensões dos defensores dos animais. A coligação argumenta que “a tauromaquia é parte integrante da cultura popular portuguesa” e tem “um elevado número de espectadores”. OPCP manifesta-se contra “qualquer tipo de proibição por via legal das touradas no nosso país”.

ESPECTADORES Em Portugal realizaram-se, durante o ano de 2014, mais de 220 espectáculos tauromáquicos, aos quais assistiram cerca de 420 mil pessoas. Menos que no ano de 2013, de acordo com os dados da Inspeção-Geral das Actividades Culturais, em que assistiram a corridas e outros eventos tauromáquicos quase 450 mil pessoas e se realizaram mais de 240 espectáculos.