Para bem do legado futuro, espera-se que os festivaleiros do já saudoso Vilar de Mouros tenham guardado em memória – e já agora, em fotografia – as imagens daquele que era considerado o Wood-stock português. Além de não haver ainda perspectiva de que o festival regresse, no local onde antes se aglomeravam tendas de campismo, estendais improvisados e campingaz a aquecer aquilo que alimentava os amantes do rock foi criado agora um aldeamento turístico de luxo.
O Prazer da Natureza Resort e Spa abriu em Junho, pelas mãos da família Duarte. Emília e o irmão aproveitaram o facto de o terreno de dez hectares ter passado para a propriedade do pai para fazer algo mais pela aldeia que lhes serviu de casa de férias durante toda a vida. Se inicialmente ainda ponderaram manter o conceito de parque de campismo, depressa chegaram à conclusão de que o local pedia mais.
“Basta olhar à volta para perceber que este espaço tinha um potencial incrível”, conta Emília ao i. As obras começaram em 2010 e foram precisos cinco anos para que tudo estivesse nas condições ideais para abrir portas. Estamos perante pessoas exigentes, é um facto, mas as “condições ideias” para Emília enchem os olhos de quem passa a fronteira marcada pelo portão de entrada.
Um caminho de pedra vai ziguezagueando o verde que enche os jardins à volta de cada alojamento. Para dormir estão disponíveis 23 villas – uma espécie de bungalow moderno – e 12 apartamentos. Todos têm varanda ou mesmo um miniterraço, onde pode juntar aos petiscos preparados na kitchenette a paisagem do Alto Minho. As terras altas abrem o apetite, bem sabemos, mas como a hora de jantar ainda vai longe é sempre bom conhecer as opções que ocupam o dia de quem escolhe o topo da aldeia minhota para umas férias.
Há um ginásio e sala de squash, e no balcão da entrada não faltam panfletos a anunciar as actividades mais radicais da região. Os mais aventureiros podem optar por descer o rio Coura em caiaque ou experimentar o stand up paddle, mas quem viaja em família tem sempre a opção de fazer uma série de percursos assinalados nas montanhas, a pé ou de bicicleta. As praias não estão longe, mas não precisa de sair do alojamento para sentir a maresia. “Estamos tão próximos do mar que fazia sentido que a piscina exterior fosse de água salgada”, explica Emília.
Comer, beber e relaxar O estar dentro de uma espécie de casulo de luxo até nos faz esquecer as coordenadas geográficas. Desta vez é a ementa do restaurante que nos dá o norte. O bacalhau é o rei desta sala envidraçada, com vista para uma mesa cheia de coisas que só de escrever já fazem crescer água na boa. No top três está o bacalhau à Brás, com todos ou à mouro (frito em cebolada, acompanhado de pimentos e broa frita). Também à mouro há ainda a opção do bife, frito em azeite e acompanhado de legumes salteados.
No espaço de dez hectares cabem 108 pessoas, divididas entre 12 apartamentos e 23 bugalows modernos
Perante este cenário, podemos dizer com segurança que escolher o prato que nos vai servir de jantar se transformou no único momento de stresse destes dois dias passados em total relax. Acabamos por ser levados, sem esforço nem arrependimentos, pela sugestão do chefe, que nesta noite recaiu no cabrito da vizinha serra d’Arga. Por ser escolha do dia, tem direito à companhia do couvert, da sopa, de meia garrafa de vinho e de um café. No final, a conta fica-se nos dez euros, ou não estivéssemos nós em região de comida farta e preços de amigo.
Apesar de o negócio ser familiar, é Emília quem dá a cara pelo resort. Mudou-se de Barcelos para Vilar de Mouros, deixou a sua casa por uma das villas do resort e trocou o trabalho de escritório em empresas de construção pela gestão hoteleira. Com casa cheia até ao fim do mês, vê no boca-a-boca o seu maior trunfo de publicidade.
“Os espanhóis são óptimos nisso e, talvez por isso e pela proximidade com a fronteira, a maioria dos visitantes chegam da Galiza.” Nem de propósito, um grupo de cinco pessoas abre nesse momento a porta da recepção para fazer check- -in: “Buenas, tenemos una reserva para una semana.”