Qual é a primeira coisa que lhe vem à cabeça quando pensa em xadrez-boxe? Qualquer resposta está correcta, estamos a falar da sua cabeça, mas admirar-me-ia bastante se a ideia de um confronto Kasparov/Tyson não fosse a sua opção.
Se fizer uma pesquisa na internet vai descobrir que há mais gente a pensar assim, mas a resposta a que cheguei foi desanimadora: para entrar num confronto desta modalidade é necessário ter no currículo 50 combates de boxe amador e pelo menos 1600 pontos de rating no sistema Elo.
Responder assim é o mesmo que dizer que é impossível imaginar o animal que resultaria do cruzamento de um unicórnio com um político honesto… por não existirem políticos honestos.
Imaginemos que Kasparov e Tyson subiam mesmo a um ringue. O russo faria cheque-mate no primeiro assalto? Tyson conseguiria aguentar-se até ao boxe? Num ringue não há esconderijos e, se fosse esse o caso, Kasparov não teria hipótese. Poderia então Tyson fazer antijogo no xadrez? Se demorasse muito tempo para jogar seria advertido pelo árbitro, que lhe daria dez segundos para mover uma peça ou desistir.
Se partirmos do princípio que o pugilista teria de fazer uma jogada a cada dez segundos e o russo demoraria apenas um para fazer as suas, cada jogador completaria 16 jogadas durante o assalto. Kasparov já ganhou em 12 jogadas contra um adversário que sabia o suficiente de xadrez para perceber que estava numa má posição e desistir. Para bater Mike Tyson, o grande mestre russo teria mesmo de fazer cheque-mate e depois explicar ao americano o que era um cheque-mate.
Uma coisa é certa, Kasparov até podia ganhar a Tyson – é pouco provável, mas possível, fazer-se cheque-mate em duas jogadas – mas não se ficaria a rir. Ou pelo menos não seria um sorriso de orelha a orelha