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Fazer listas é uma das tarefas mais complexas que pode haver na política. Fazer listas é fazer escolhas que devem corresponder a princípios, critérios e opções sobre pessoas. Os dois principais partidos políticos definiram os critérios para a escolha dos candidatos a deputados.
O PSD, que ainda não definiu as propostas a submeter aos portugueses nas eleições legislativas, aprovou o critério segundo o qual quem discordar de forma persistente das ideias que ainda não existem ou das ideias de quem estiver no poder tem de deixar de ser deputado.
Isto é, estão a escolher candidatos sem saberem quais são as ideias, mas estes não podem ser contra. Agora ou no futuro. O PS, que aprovou o quadro macroeconómico para a próxima legislatura e o programa eleitoral, definiu que as listas devem ser representativas da diversidade da sociedade portuguesa, territorial, e ter em conta a diversidade interna. Segundo os critérios, o contraste entre PSD e PS é claro.
De um lado é fomentado o unanimismo, do outro o pluralismo, a liberdade de voto como regra e o aprofundamento de alguns traços afirmados nos últimos anos. Os candidatos subscreverão um compromisso ético em que se reforça a transparência, da divulgação do património ao cumprimento das obrigações com o Estado; a separação entre a política e os negócios e a ligação entre eleitos e eleitores.
Aliás, a última lista que o PS apresentou, a dos candidatos ao Parlamento Europeu, já introduziu alguns sinais relevantes para a credibilização da política e dos políticos. A lista era integralmente paritária, representativa da diversidade interna, composta por militantes e independentes qualificados, e respeitava a autonomia regional das estruturas dos Açores e da Madeira. Apesar do alheamento que historicamente caracteriza as eleições para o Parlamento Europeu, as opções políticas, tal como as das eleições autárquicas, voltaram a ser valorizadas com a obtenção de segunda vitória nacional do PS, depois da derrota de 2011.
Num contexto em que é preciso fazer muito mais pela recuperação da confiança na política e nos políticos e pela recuperação da democracia representativa, são igualmente positivos a valorização do exercício do mandato pela limitação das possibilidades de suspensão, a ligação do candidato ao círculo eleitoral e a proximidade dos cabeças-de-lista às pessoas e aos territórios, algo que assume particular relevância no caso dos círculos que elegem menos de quatro representantes.
Num momento em que Pedro Passos Coelho não hesita em afirmar querer combater sem quartel as desigualdades e a pobreza, depois de as ter promovido na governação; em que impõe o pensamento único como regra entre os deputados da coligação Portugal à Frente e em que Ribeiro e Castro abandona o parlamento, com críticas sobre a democracia interna do CDS de Paulo Portas, todas as diferenciações são importantes.
Num caminho com sobressaltos e estranhas coincidências, a par do permanente de combate político à direita, como sempre pôde ser feito pelos deputados do PS, a diferenciação da alternativa é decisiva para a obtenção da maioria absoluta de que o país precisa. Olhamos à nossa volta e a direita continua impávida e serena na senda do vale tudo, no discurso e na acção. Em 2011, para Passos Coelho quase tudo se resolvia com o corte nas “gorduras do Estado”.
Agora é uma ilusão pensar que “a reforma do Estado traga profundas poupanças orçamentais porque mais de dois terços da despesa pública se concentram nas prestações sociais e nos salários”. Quatro anos depois, o líder do PSD descobriu o básico. Já só falta descobrir a realidade da vida concreta das pessoas. Entre a narrativa da coligação e a realidade há ainda um oceano de distância. Em Maio, pelo terceiro mês consecutivo, as importações crescem mais que as exportações, mas o líder do PSD fala como se a animação económica existente não tivesse como origem o consumo.
A verdade é que da direita os portugueses já esperam que diga uma coisa e faça o contrário, que considere Portugal uma espécie de quinta em que podem pôr e dispor, mas a tolerância a esse estilo e ao sistema político está a esgotar-se. Aproxima-se a oportunidade de fazer as coisas de maneira diferente e de pôr um ponto final nesta forma de governar. É esse um dos desafios do PS.
Membro da comissão política nacional do PS
Escreve à quinta-feira