James Cameron troca a luta com aliens pela defesa do ambiente

James Cameron troca a luta com aliens pela defesa do ambiente


Afundou o “Titanic”, fez de Sigourney Weaver uma exterminadora de aliens e viajou até 2154 para criar avatares. Para se redimir, James Cameron apelou ao seu lado mais ecológico e ajudou a criar a primeira escola vegan do mundo.


Quando alguém faz anos, começamos a elaborar uma lista mental de possíveis presentes de aniversário. Um livro, uma camisola, um anel ou um ramo de flores costumam vir no topo das preferências, isto quando falamos do mais comum dos mortais. Sabemos, por outras experiências, que Hollywood leva tudo a outro nível, até mesmo os presentes de aniversário.

Quando a sua esposa fez anos, James Cameron quis fugir ao básico buquê de flores e criou uma estrutura de painéis solares com a forma de um girassol, implementada na MUSE, uma escola fundada por Suzy Amis Cameron e que tem tudo para sobressair no contexto educativo convencional. No espaço criado em 2006 pela mulher do realizador, a alimentação é 100% vegan, quase todos os produtos consumidos na cantina são plantados nas hortas da escola pelos alunos e os excedentes são vendidos no mercado local. A instalação dos painéis solares é a mais recente inovação ecológica da escola, não só pelo tipo de energia que produz, mas também pelo seu aspecto original. Foram instaladas cinco estruturas em forma de girassol com nove metros de diâmetro cada uma e quase cinco de altura, equipadas com 14 “pétalas”, ou placas solares, que giram automaticamente para acompanhar a trajectória do sol.

O MUSE Sun Flower Project, como James baptizou o projecto, será capaz de responder a 90% dos gastos energéticos da escola. Mas além da funcionalidade, Cameron não conseguiu fugir aos efeitos especiais pelos quais os seus filmes são reconhecidos e apostou tudo no design. Daí que o realizador tenha já patenteado a ideia para evitar que seja copiada por alguém que acabe por lhe restringir o acesso. Isto porque a ideia do realizador é que o projecto seja posto em prática noutros locais e, por isso, a ideia estará livremente disponível na internet. “Se os planos forem todos colocados online, qualquer um pode ficar capacitado para copiar a ideia”, e lembra que os girassóis são elementos bem-vindos em qualquer lugar, “seja uma escola, um parque ou um shopping”.

Casal green
James e Suzy têm cinco filhos e acabam por dividir o tempo em família entre a casa de família em Malibu, o rancho em Santa Barbara e uma quinta na Nova Zelândia. Mas apesar do contacto com a natureza ser uma constante, o descontentamento com o ensino a que expunham os filhos era cada vez maior. A gota de água aconteceu quando a filha mais nova chegou a casa e contou que na sua aula de Matemática tinham sido usados M&M para ensinar a fazer contas. 

Para o casal, a solução passava pela criação do seu próprio espaço e, enquanto Cameron estava ocupado a realizar o filme “Avatar”, Suzy dedicava o seu tempo a criar a MUSE, inicialmente apenas com 11 crianças. Hoje conta já com 140 alunos e em todos os espaços do edifício se sente a cultura de defesa do ambiente adoptada pelos Cameron há alguns anos. O ponto de viragem familiar aconteceu em 2012, depois de assistirem ao documentário “Forks over Knives”, centrado nos benefícios de uma dieta baseada em vegetais que os levou a esvaziar as prateleiras de casa de toda a carne e produtos lácteos que consumiam com regularidade. “Foi um grande abrir de olhos para perceber a conexão entre a nossa alimentação e o impacto que pode ter no meio ambiente”, refere Suzy.

Ávidos de saberem mais sobre o tema, informaram-se sobre os tipos de dieta disponíveis, os benefícios e o impacto que a redução do consumo de carne podia ter nos seus organismos e no ambiente. A partir daí, chegou a hora de espalhar a palavra. O casal costuma dar palestras sobre o tema, Suzy é já autora de vários livros sobre o impacto da produção de carne na natureza e, claro, na hora de construir uma escola de raiz, não foi possível fugir à doutrina. Todas as refeições servidas na cantina e nos bares da escola são 100% vegan e as crianças convivem de perto com toda a produção alimentar dos vegetais que lhes chegam à mesa. 

Apesar de uma reputação já reconhecida na área, Suzy confessa que não foi fácil convencer os pais dos alunos de que não seria servido leite, frango ou queijo aos seus filhos. “A comida é um assunto sensível para muitas pessoas”, refere, mas garante que através dos programas educacionais com os filhos, mas principalmente com os pais, esta transição foi feita de uma forma natural. Convicta dos ideais que conseguiu passar a toda a família e a uma comunidade de 140 alunos, Suzy não deixa espaço para dúvidas: “Não é possível alguém considerar-se um ambientalista e continuar a comer animais. Não é mesmo possível.”