O paradoxo do Brasil
Faz amanhã duzentos anos que, através da Carta de Lei de 16 de Dezembro de 1815, o Brasil era elevado à categoria de reino. Foi apenas mais um passo, mas definitivo, no caminho da independência. Efectivamente, desde a fuga da corte para o Brasil, em 1808, e da abertura dos seus portos a todas as nações, que o centro do império português se tinha deslocado para o Brasil. O regresso do rei a Portugal, exigido pelos constituintes de 1820, seria o factor que espoletaria a sua independência, proclamada em 7 de Setembro de 1822.
Com a dimensão de um continente, com riquezas naturais incomensuráveis, e com uma oferta turística magnífica, o Brasil tinha todas as condições de assumir uma importância cada vez maior no concerto das nações. Lamentavelmente, no entanto, o país envolve-se sucessivamente em escândalos, protestos populares e bloqueios do governo, discutindo agora até o impeachment da sua presidente, eleita há pouco mais de um ano.
A tradição brasileira é, no entanto, atribuir as culpas de tudo o que ainda hoje lhe sucede à colonização portuguesa. É assim que Lula da Silva, que governou o país durante dez anos, acha que não tem qualquer culpa dos atrasos na educação, porque a culpa é dos colonizadores portugueses. Que pena o país não ter sido colonizado pelos holandeses, que teria hoje o nível do Suriname, ou pelos ingleses, que estaria como a Guiana inglesa, ou ainda pelos espanhóis, podendo almejar o nível do Peru, da Venezuela ou do Paraguai. Há de facto gente muito mal agradecida.
Professor da Faculdade de Direito de Lisboa, Escreve à terça-feira