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Entrevista. N.º 2 de Marinho e Pinto já o vê em Belém

Entrevista. N.º 2 de Marinho e Pinto já o vê em Belém

11/06/2014 00:00
Com dez anos de militância no Partido da Terra, o advogado ajudou o MPT a conseguir a eleição de dois eurodeputados nas últimas europeias

Fechadas as urnas, no dia 25 de Maio, José Inácio Faria ainda teve de esperar dois dias para saber que tinha sido eleito para o Parlamento Europeu. O número dois do Partido da Terra conseguiu o lugar porque Marinho e Pinto escolheu o MPT para entrar na vida política - é o próprio que o reconhece. Entre a preparação da campanha e a eleição, passou a admirar o ex-bastonário quase tanto como já admirava Sá Carneiro. Em Julho toma posse em Bruxelas, mas o regresso a Portugal - o seu e o do cabeça-de- -lista - pode acontecer já no próximo ano. Tudo depende da situação mais ou menos "pantanosa" do país.

É a primeira vez que vai desempenhar um cargo para que é eleito. Como encara esta responsabilidade?

É uma grande responsabilidade para o MPT, mas acima de tudo para mim. É um peso que tenho em cima, mas candidatei-me para ser eleito. Eu e mais gente. O Dr. Marinho e Pinto também.

Como reagiu o fundador, Gonçalo Ribeiro Telles, à eleição de dois deputados?

Disse-nos que tenhamos cuidado, que isto agora é para andar para a frente.

O MPT vai andar para a frente?

Em 2011 propus uma estratégia de crescimento para o partido, que foi aceite.

Que estratégia?

Uma definição bem clara dos objectivos. O MPT era um partido pequeno, em que se reviam os intelectuais da ecologia. Ribeiro Telles queria que fosse um partido holístico e a complementaridade foi acrescentada posteriormente. Nessas bases talhámos um programa que servisse para as eleições de 2011 e ele foi bem aceite.

Era um pequeno partido. Isso mudou?

A partir de 2011 subimos. Passámos de 16.o para oitavo partido nacional e começámos a deixar de ser considerados um pequeno partido para passar a partido de média dimensão. Nestas eleições somos a quarta força.

Por causa de Marinho e Pinto?

Deve-se às ideias de Marinho e Pinto. Aquilo que ele representa. As pessoas associam-no à verdade.

Populista e judicialista são dois termos com que o acompanham.

Discordo, não acho que seja populista. Tem uma forma de falar que consegue chegar a todas as pessoas. Se quiser estar com palavras caras e no meio de intelectuais, está perfeitamente à vontade. Se quiser estar no meio da população com menos conhecimentos, também está.

O MPT foi barriga de aluguer de Marinho e Pinto?

Quem lançou isso não tinha noção do que estava a dizer. O Dr. Marinho e Pinto contactou-nos...

Quando?

Muito antes das eleições autárquicas, há um ano e tal. O MPT estava a deixar de ser um pequeno partido. Ele já tinha recebido convites de outros partidos.

Quais?

Não me compete dizer-lhe. Grandes partidos, partidos que estiveram no poder, que estão no poder. Quando nos contactou achámos que podia ser uma boa solução, não só pela figura mediática, mas porque é um bom representante do MPT. É ecologista e é humanista. Há poucas pessoas que saibam tanto de árvores e de plantas como ele. Ele sabe tudo.

Não se lhe conhece essa faceta.

Não vos posso convidar para ir à quinta dele, mas se forem lá é um deslumbre. Por onde passa, a primeira coisa que faz é olhar para tudo o que é verde. Antes de estar ligado ao MPT, talvez esta ideia não passasse para o exterior. Mas é um ecologista nato. O facto de ser um humanista e um ecologista foi o que mais pesou.

A co-adopção de crianças por casais do mesmo sexo impediu a adesão aos Verdes europeus. Revê-se na posição de Marinho e Pinto?

As nossas matrizes são humanistas e ecologistas. A essa questão nunca dediquei demasiada atenção, até porque concordo com o Dr. Marinho e Pinto. Isto deve ser deixado à decisão do povo. É o interesse da criança que está em causa. Mas nas famílias ditas tradicionais as crianças às vezes são menos bem tratadas que as criadas por casais do mesmo sexo. Acho que fizeram uma má interpretação daquilo que o Dr. Marinho e Pinto diz. Ele tem uma forma de se exprimir e é categórico naquilo que diz. Está correctíssimo, não pode ser assim, o povo tem de se pronunciar.

Está filiado no MPT há dez anos. Teve militância política antes disso?

Não, nunca tive. Surgiu uma notícia que disse que eu andei por todos os partidos. Não é verdade. O único partido em que militei foi o MPT.

Nunca militou noutro partido?

Não, nunca. Tenho as minhas opções políticas e voto. Sempre votei, mas nunca quis estar conotado com nenhum partido. O que tive foi contactos com várias forças políticas.

Contactos?

Trabalhei na CML em várias presidências: João Soares, Santana Lopes, Jorge Sampaio. Entrei pela mão do Dr. Alberto Laplaine Guimarães, do CDS. Nunca pertenci ao CDS. Trabalhei com o Dr. Jorge Sampaio e com o Dr. João Soares, nunca fui do PS. Fui convidado pelo engenheiro Rui Godinho para trabalhar como assessor, nunca fui do PCP. E estive no gabinete da oposição do PSD, como assessor jurídico. Percorri indirectamente todos os partidos.

Então porquê o MPT?

O arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles é um verdadeiro político, um político da verdade. Como é o Dr. Marinho e Pinto. E sempre me fascinou a forma como colocava a suas ideias. A ecologia do arquitecto Ribeiro Telles é virada para o ser humano. É uma ecologista humanista. Senti-me enquadrado naquela ideia que ele transmitia. Era este o partido, porque, sem este partido, eu não estarei em mais nenhum.

As europeias não deveriam ter sido um ensaio para as legislativas?

Não necessariamente.

Esperavam eleger dois, ou sequer um eurodeputado?

Com o Dr. Marinho e Pinto, sim. Sem Marinho e Pinto, teríamos uma boa votação, mas nunca como a que tivemos.

O MPT espera ocupar um lugar na Assembleia nas próximas legislativas?

Obviamente que sim.

Com um resultado igual ao das europeias, ou pelo menos parecido?

Os portugueses é que vão decidir. Mas há uma grande responsabilidade minha e de Marinho e Pinto no Parlamento Europeu (PE).

A estratégia para 2015 será a mesma: encontrar uma figura que permita catapultar o resultado do partido?

Ainda nem sequer tomámos posse destas eleições. Há um congresso electivo este ano para a direcção do partido e não sei sequer quem vai estar na próxima direcção. Vamos para o PE, tomar posse e cumprir o nosso mandato.

Nunca falou com Marinho e Pinto sobre objectivos de médio prazo?

Marinho e Pinto tem um percurso e será muito mais do que é. Só por si, vale o que vale.

Reconhece em Marinho e Pinto um Presidente da República?

Vejo em Marinho e Pinto a figura de um primeiro-ministro, por exemplo. Como o vejo na figura de um Presidente da República, como em muitas outras posições. As que ele quiser assumir. Ele é uma pessoa de convicções e as pessoas sabem-no. Diz o que tem a dizer e as pessoas encaram isso como um factor positivo. A política está descredibilizada e as pessoas estão ansiosas por uma figura que as lidere. Penso que o povo português vê um pouco isso em Marinho e Pinto. Se tivermos o apoio dos portugueses tentaremos alterar o estado a que isto chegou.

O palco europeu não é dos mais interessantes para os eleitores portugueses.

As pessoas vão começar a perceber o que se faz em Bruxelas. Nós não vamos lá para passear e para viajar. Já me disseram que ia ter uma vida muito boa. Fico espantado. Eu não fui eleito para ter uma grande vida nem viajar. Já conheço mais de meio mundo. O meu pai era diplomata e vivi em cidades muito maiores que Bruxelas. Não me deslumbra. Quanto a dinheiros, não sou propriamente pobrezinho.

Diz-se que um eurodeputado eleito pela primeira vez precisa de um mandato para conhecer os cantos à casa.

Isso são os partidos que estão no poder há 40 anos. Nós não temos essa sorte, temos de começar já a trabalhar. Quando chegarmos, a 1 de Julho, para tomar posse, já está tudo tratado para começarmos a trabalhar.

Não antevê daqui a um ano estar em campanha para a AR?

Eu candidatei-me ao PE.

E diz o mesmo de Marinho e Pinto?

Penso que sim. Agora repare numa coisa: se me pergunta se daqui a um ano estou a pensar nas legislativas, eu já penso neste momento. Já nos estamos a preparar como projecto colectivo para as legislativas. Quem vai lá estar na altura, não sabemos ainda.

O eleitorado poderá estranhar que alguém que fala na credibilização da política abandone um mandato para que foi eleito e concorra a outras eleições.

Marinho e Pinto é uma pessoa séria.

À mulher de César não basta ser séria.

Ele é mais que a mulher de César. É um homem sério. Candidatou-se ao PE e vai tomar posse e exercer funções. Veja o que se passa no PS. Há gente que entendeu que agora era o momento de avançar e os momentos surgem. Surgem quando surgem porque é o interesse nacional que está em causa. É perfeitamente plausível que a pessoa possa tomar uma posição, na altura. Se pensarmos que daqui a um ano o país está num estado calamitoso e que é preciso movermos todos os esforços para que o país se endireite... Nessa altura até eu, se for necessário, arregaço as mangas e venho para cá. Eu e o Dr. Marinho e Pinto. É um bocado prematuro. Mas nunca dizemos que não. O mandato europeu é para ser cumprido, mas tudo depende dos factores internos do país.

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