Como (a)fundar um partido


Nas democracias a fundação de partidos políticos resulta da existência de partidos consolidados, em concorrência pelo voto, não é, como aconteceu depois do 25 de Abril de 1974, uma necessidade imediata de povoar uma paisagem política onde não existiam, de forma legal, partidos políticos competitivos e actuantes.


Num quadro democrático, fundar um novo partido é um acto crítico da actuação de um ou de vários partidos existentes, propondo uma alternativa que se espera venha a merecer o favor dos eleitores. Nalguns casos a fundação de um novo partido resulta da cisão de um partido existente ou, no mínimo, na migração de dirigentes ou de figuras relevantes de um determinado partido e que decidem fundar um outro.

Nos Estados em que as campanhas eleitorais são feitas sem financiamento público e, sobretudo naqueles em que não existem limites ao financiamento privado, a fundação de um novo partido arrisca-se a ter sucesso junto dos eleitores se os fundadores puderem mobilizar recursos financeiros significativos. Se o fundador do partido for o homem mais rico do mundo e se a fundação ocorrer nos EUA, teremos oportunidades para testar os novos limites da relação entre a democracia e o capitalismo.

Musk ameaçou esta semana criar um novo partido, o “America Party” para disputar a Midterm Election em 3 de Novembro de 2026. Esta é uma resposta às ameaças de Trump dirigidas aos Republicanos que integram o Senado e a Câmara dos Representantes: se não votarem a proposta de orçamento (redução de despesa federal e aumento dos benefícios fiscais, sendo que a primeira não compensa a perda de receita da segunda) o Presidente não os apoiará na re-candidatura em 2026, poderá fazer campanha contra vós ou poderá patrocinar um candidato alternativo.

A ameaça de Trump não é vã porque já a executou durante o primeiro mandato, com resultados dramáticos para muitos dos Republicanos que desafiaram a autoridade do Presidente, por natureza o líder, de facto, do respectivo partido. O bipartidarismo nos EUA resulta, ao nível da eleição presidencial, do sistema eleitoral que, para na esmagadora maioria dos Estados, é o maioritário a uma volta: o partido que tenha mais um voto ganha todos os grandes eleitores desse Estado.

Neste contexto nunca medrou um terceiro partido ou um candidato independente. Tal não significa que os candidatos independentes não tenham sido importantes, desviando votos de um dos dois principais candidatos e dando assim a vitória ao outro (terá sido o caso de Ross Perot e do “Reform Party” que em 1996 roubou votos a Bush pai e deu a vitória a Bill Clinton).

Conseguirá Musk transformar dólares e o domínio de redes sociais em votos? Os quase 300 milhões que doou à campanha de Trump em 2024 terão contribuído para a vitória do candidato MAGA embora a importância do donativo varie na boca de um e de outro. Musk teve já uma má experiência recente quando financiou com mais de 20 milhões de dólares a campanha do candidato conservador na eleição para o Supremo Tribunal do Wisconsin. Mesmo com este boost, Musk perdeu a aposta. As campanhas para escolher um dos dois juízes de segunda instância custaram mais de 90 milhões de dólares. Musk sorteou também cheques de um milhão de dólares pelos participantes em comícios do candidato conservador para “estimular a participação no processo eleitoral”.

Musk não conseguirá fazer do “America Party” um dos dois maiores partidos. Mas está ao seu alcance ajudar Trump a perder, já em 2026, a estreita maioria que tem no Senado (53/47) e na Câmara dos Representantes (220/212).

Como (a)fundar um partido


Nas democracias a fundação de partidos políticos resulta da existência de partidos consolidados, em concorrência pelo voto, não é, como aconteceu depois do 25 de Abril de 1974, uma necessidade imediata de povoar uma paisagem política onde não existiam, de forma legal, partidos políticos competitivos e actuantes.


Num quadro democrático, fundar um novo partido é um acto crítico da actuação de um ou de vários partidos existentes, propondo uma alternativa que se espera venha a merecer o favor dos eleitores. Nalguns casos a fundação de um novo partido resulta da cisão de um partido existente ou, no mínimo, na migração de dirigentes ou de figuras relevantes de um determinado partido e que decidem fundar um outro.

Nos Estados em que as campanhas eleitorais são feitas sem financiamento público e, sobretudo naqueles em que não existem limites ao financiamento privado, a fundação de um novo partido arrisca-se a ter sucesso junto dos eleitores se os fundadores puderem mobilizar recursos financeiros significativos. Se o fundador do partido for o homem mais rico do mundo e se a fundação ocorrer nos EUA, teremos oportunidades para testar os novos limites da relação entre a democracia e o capitalismo.

Musk ameaçou esta semana criar um novo partido, o “America Party” para disputar a Midterm Election em 3 de Novembro de 2026. Esta é uma resposta às ameaças de Trump dirigidas aos Republicanos que integram o Senado e a Câmara dos Representantes: se não votarem a proposta de orçamento (redução de despesa federal e aumento dos benefícios fiscais, sendo que a primeira não compensa a perda de receita da segunda) o Presidente não os apoiará na re-candidatura em 2026, poderá fazer campanha contra vós ou poderá patrocinar um candidato alternativo.

A ameaça de Trump não é vã porque já a executou durante o primeiro mandato, com resultados dramáticos para muitos dos Republicanos que desafiaram a autoridade do Presidente, por natureza o líder, de facto, do respectivo partido. O bipartidarismo nos EUA resulta, ao nível da eleição presidencial, do sistema eleitoral que, para na esmagadora maioria dos Estados, é o maioritário a uma volta: o partido que tenha mais um voto ganha todos os grandes eleitores desse Estado.

Neste contexto nunca medrou um terceiro partido ou um candidato independente. Tal não significa que os candidatos independentes não tenham sido importantes, desviando votos de um dos dois principais candidatos e dando assim a vitória ao outro (terá sido o caso de Ross Perot e do “Reform Party” que em 1996 roubou votos a Bush pai e deu a vitória a Bill Clinton).

Conseguirá Musk transformar dólares e o domínio de redes sociais em votos? Os quase 300 milhões que doou à campanha de Trump em 2024 terão contribuído para a vitória do candidato MAGA embora a importância do donativo varie na boca de um e de outro. Musk teve já uma má experiência recente quando financiou com mais de 20 milhões de dólares a campanha do candidato conservador na eleição para o Supremo Tribunal do Wisconsin. Mesmo com este boost, Musk perdeu a aposta. As campanhas para escolher um dos dois juízes de segunda instância custaram mais de 90 milhões de dólares. Musk sorteou também cheques de um milhão de dólares pelos participantes em comícios do candidato conservador para “estimular a participação no processo eleitoral”.

Musk não conseguirá fazer do “America Party” um dos dois maiores partidos. Mas está ao seu alcance ajudar Trump a perder, já em 2026, a estreita maioria que tem no Senado (53/47) e na Câmara dos Representantes (220/212).