O silêncio dos moderados


Tratar de “coisas” tornou-se mais importante do que cuidar de pessoas. E quando a política se esquece das pessoas, as pessoas esquecem-se da política.


A erosão do centro político europeu. A democracia europeia construiu-se sobre alicerces firmes, a liberdade, o pluralismo e um pacto social que equilibrou direitos e deveres, economia e solidariedade, tradição e progresso. Durante décadas, partidos moderados, de várias matrizes ideológicas, assumiram esse papel de equilíbrio. Fosse pela via social-democrata, liberal ou democrata-cristã, eram esses partidos que traduziam as preocupações do cidadão comum em políticas públicas estáveis. Hoje, esse centro político parece fraturado. Em muitos países, as forças moderadas minguam, desorientadas, incapazes de renovar a sua linguagem, de corrigir os seus erros, ou de responder às novas inquietações. O espaço outrora preenchido pelo diálogo e pela prudência vai sendo ocupado por discursos de raiva, suspeita e simplificação.

Escândalos, distância e desilusão. O problema não está apenas nas ideias, está, muitas vezes, no modus operandi. Casos de corrupção, tráfico de influências, abusos de poder, vantagens ilícitas, relações promíscuas entre política, economia e grupos de influência, escândalos pessoais de natureza degradante, tudo isso fere de morte a confiança do eleitor. Quando os partidos moderados deixam de ser exemplo, deixam também de ser alternativa. O cidadão comum, que trabalha, que paga impostos, que quer apenas viver em paz, assiste, dia após dia, ao espetáculo triste de uma classe política que parece mais empenhada em proteger-se a si própria do que em resolver os problemas reais: habitação, natalidade, envelhecimento, saúde, trabalho digno, segurança, educação. Tratar de “coisas” tornou-se mais importante do que cuidar de pessoas. E quando a política se esquece das pessoas, as pessoas esquecem-se da política.

A urgência de uma moderação com coragem. O vazio está a ser ocupado. Em todos os cantos da Europa, forças extremistas ganham terreno. Não porque tenham melhores propostas, mas porque sabem captar a frustração de quem já não espera nada dos partidos mais moderados. É aqui que reside o perigo, se os moderados continuarem silenciosos, se não se regenerarem, se não escutarem, corrigirem, atuarem, deixarão de ter futuro. A moderação sem ação é igual a nada. A neutralidade e o silêncio perante a injustiça é conivência. E a indiferença perante o sofrimento é traição do mandato recebido. A democracia precisa urgentemente de líderes íntegros, de linguagem clara, de proximidade autêntica. Não para agradar a todos, mas para voltar a representar alguém. A democracia não morre com golpes de Estado, morre devagar, com a apatia, com o cinismo, com a repetição dos mesmos erros. Uma democracia que se deseja viva exige mais do que boas intenções, exige coragem. Recordemos, o tempo não espera por ninguém.

O silêncio dos moderados


Tratar de "coisas" tornou-se mais importante do que cuidar de pessoas. E quando a política se esquece das pessoas, as pessoas esquecem-se da política.


A erosão do centro político europeu. A democracia europeia construiu-se sobre alicerces firmes, a liberdade, o pluralismo e um pacto social que equilibrou direitos e deveres, economia e solidariedade, tradição e progresso. Durante décadas, partidos moderados, de várias matrizes ideológicas, assumiram esse papel de equilíbrio. Fosse pela via social-democrata, liberal ou democrata-cristã, eram esses partidos que traduziam as preocupações do cidadão comum em políticas públicas estáveis. Hoje, esse centro político parece fraturado. Em muitos países, as forças moderadas minguam, desorientadas, incapazes de renovar a sua linguagem, de corrigir os seus erros, ou de responder às novas inquietações. O espaço outrora preenchido pelo diálogo e pela prudência vai sendo ocupado por discursos de raiva, suspeita e simplificação.

Escândalos, distância e desilusão. O problema não está apenas nas ideias, está, muitas vezes, no modus operandi. Casos de corrupção, tráfico de influências, abusos de poder, vantagens ilícitas, relações promíscuas entre política, economia e grupos de influência, escândalos pessoais de natureza degradante, tudo isso fere de morte a confiança do eleitor. Quando os partidos moderados deixam de ser exemplo, deixam também de ser alternativa. O cidadão comum, que trabalha, que paga impostos, que quer apenas viver em paz, assiste, dia após dia, ao espetáculo triste de uma classe política que parece mais empenhada em proteger-se a si própria do que em resolver os problemas reais: habitação, natalidade, envelhecimento, saúde, trabalho digno, segurança, educação. Tratar de “coisas” tornou-se mais importante do que cuidar de pessoas. E quando a política se esquece das pessoas, as pessoas esquecem-se da política.

A urgência de uma moderação com coragem. O vazio está a ser ocupado. Em todos os cantos da Europa, forças extremistas ganham terreno. Não porque tenham melhores propostas, mas porque sabem captar a frustração de quem já não espera nada dos partidos mais moderados. É aqui que reside o perigo, se os moderados continuarem silenciosos, se não se regenerarem, se não escutarem, corrigirem, atuarem, deixarão de ter futuro. A moderação sem ação é igual a nada. A neutralidade e o silêncio perante a injustiça é conivência. E a indiferença perante o sofrimento é traição do mandato recebido. A democracia precisa urgentemente de líderes íntegros, de linguagem clara, de proximidade autêntica. Não para agradar a todos, mas para voltar a representar alguém. A democracia não morre com golpes de Estado, morre devagar, com a apatia, com o cinismo, com a repetição dos mesmos erros. Uma democracia que se deseja viva exige mais do que boas intenções, exige coragem. Recordemos, o tempo não espera por ninguém.