Nota prévia: Convenhamos que, por uma vez, Donald Trump surpreendeu, positivamente, o mundo. A poderosa ação aérea que ordenou sobre o Irão pôs termo a doze dias de conflito que poderiam prolongar-se por semanas ou meses e incendiarem todo o Médio Oriente, com consequências económicas e políticas planetárias dramáticas. Com o lançamento das superbombas, os americanos fizeram o trabalho pesado que os israelitas tinham iniciado e que completaram depois com os seus próprios meios. Não se sabe se a ação conjunta foi suficiente para empatar por uns largos anos o programa nuclear bélico de Teerão. Mantém-se a necessidade de evitar que tal suceda, dado o caráter radical e perigoso de um regime que, apesar de tudo, na ótica americana, é preferível manter do que correr o risco de criar mais uma terra de ninguém como o Afeganistão, o Iraque, a Líbia ou a Síria. Ficou provado que os ayatollahs têm mais a ganhar ao negociar com as instâncias internacionais do que em forçar a barra. Israel venceu mais uma vez. Travou o ímpeto xiita a partir da sua sede. Desenganem-se os ingénuos que pensam que as coisas, nesse campo, seriam diferentes com um democrata na Casa Branca. Nas mesmas circunstâncias, faria o mesmo que Trump e, possivelmente, também pressionaria a Europa da Nato a aumentar os seus gastos na defesa.
1. José Luís Carneiro já é formalmente líder do PS. A circunstância de ter sido o único candidato ao lugar não deslustra. Pelo contrário. Mostra que tem a fibra e a coragem que falham a outros, que falam e boicotam nas costas. José Luís Carneiro (JLC) já tinha sido candidato com um plano político alternativo e moderado quando perdeu para Pedro Nuno Santos. Ora, a estratégia deste foi copiosamente derrotada nas recentes legislativas, pelo que agora é legitimo e lógico experimentar a sua estratégia. O novo líder está perante uma empreitada complicada. Tem de se afirmar no país. A primeira batalha é a das autarquias porque é através delas que se mede a implantação efetiva de um partido, dado que o Poder Local é uma rede capilar, que vai da mais pequena freguesia até à capital do país. A fase seguinte virá com o Orçamento do Estado em que tem, simultaneamente, de criar pontes racionais e mostrar que é ele, e não Ventura, o líder da oposição. No meio destas árduas tarefas, JLC e o seu PS terão de se empenhar nas presidenciais, apoiando um candidato único. Obviamente que a escolha tem de recair sobre António José Seguro depois de, como se esperava, António Vitorino ter faltado à chamada. Fez muito bem porque a sua vida ia ser esmiuçada e o seu estilo descontraído não é adequado ao momento interno e externo, além de padecer de um défice de notoriedade. Claro que no PS persistem movimentações de costistas e socráticos (na prática é a mesma tropa) para prejudicar Seguro, montando um cambalacho qualquer que conduza a uma candidatura tipo Augusto Santos Silva, um radical trotskista que aderiu ao PS e serviu todos os líderes com o dedicado empenho de um mordomo inglês. No meio de manobras e alianças, ascendeu mesmo à presidência do Parlamento. Do alto do hemiciclo, atirou-se tanto ao Chega que o ajudou a crescer mais do que os números dois e três de Ventura, Pacheco de Amorim e Pedro Pinto, respetivamente. Foi tal o jeito que Santos Silva conseguiu não ser eleito para deputado Fora da Europa, entregando o lugar precisamente ao Chega. É obra digna de ser lembrada na própria historiografia do partido de Ventura. Há adversários que são uma bênção divina! Se avançar para Belém, alguém vai ganhar com isso e não é seguramente o PS. Será que a história se vai repetir?
2. Como previsto, o PCP também terá um candidato a Belém. Desta vez a escolha recaiu sobre António Filipe, que era o deputado mais antigo até não conseguir ser reeleito nas recentes legislativas. Tinha 12 anos no 25 de Abril, está ligado à causa da defesa dos trabalhadores, é pessoa de bom trato, com apurado sentido de humor e muito forte a debater. Passa bem por democrata, tal como a generalidade dos candidatos a Belém que historicamente o PCP apresentou e que nem sempre chegaram ao fim da corrida. O avanço de António Filipe destrói praticamente qualquer ambição de Sampaio da Nóvoa, que o Bloco e outros radicais (até mesmo do PS) gostariam de ver avançar.
3. A propósito de presidenciais, uma nota ainda para Isidro Morais Pereira, um major-general que admite estar a equacionar lançar-se na corrida. Este oficial tornou-se conhecido pelas suas intervenções sobre a invasão russa da Ucrânia e a evolução da guerra. Contrasta com Agostinho Costa e Carlos Branco por não ser um neossoviético. É um general ocidental, fiel aos valores democráticos que a NATO representa e defende. Há que saudá-lo por isso. Do mesmo modo, distingue-se de Gouveia e Melo por entender que o comando deve ser exercido de forma discreta, recatada e sem espetáculo, sobretudo quando se trata de repreender um militar, a quem se deve garantir meios de defesa. A comunicação pública – afirma – deve ser guardada para os louvores. O general Isidro também já disse que não teria problemas em aceitar o apoio de um partido, mesmo do Chega, ainda que discorde de parte das suas ideias. É um bom princípio de conversa, até porque falta alguém desse campo na corrida a Belém, sob pena de se estar a facilitar o caminho ao “rassemblement” que Gouveia e Melo quer promover à sua volta. Quanto a ser mais um general, nada a dizer. Desde logo porque uma vez reformado passa a ser um civil como outro qualquer. E também porque nas presidenciais de 1980 eram bem mais: Eanes, Soares Carneiro, Otelo, Galvão de Melo e Pires Veloso… um fartote!
4. Um dos momentos políticos da semana passada foi a entrevista que o procurador-geral da República deu ao Observador. Na conversa, Amadeu Guerra disse conhecer bem Montenegro, embora não sejam propriamente amigos. Referiu que espera que a averiguação preventiva ao caso Spinumviva possa estar concluída até 15 deste mês e sublinhou que, se houver matéria, o caso passará para a fase seguinte, ou seja, para um inquérito de investigação. Nessa eventual fase, já se poderão usar outros meios e não apenas as chamadas fontes abertas, que são aquelas a que qualquer um de nós pode teoricamente ter acesso sobre a atividade económica de alguém ou de empresas. O momento da entrevista foi estratégico. Parece indiciar que o PGR tem um “feeling” sobre o desiderato e quis ficar confortável face a qualquer desenvolvimento, seja o de se fechar o assunto ou de o fazer seguir. Neste último caso, haveria óbvias consequências político-mediáticas, como reconhece qualquer pessoa que ligue à política. A entrevista coincidiu com um momento em que se soube que Luís Montenegro não quis dar à Entidade de Transparência (finalmente acordou) elementos sobre os trabalhos concretos da sua antiga empresa familiar. O primeiro-ministro colocou a questão da legalidade do pedido ao Tribunal Constitucional, apesar de ter dito que já tinha entregue tudo o que lhe foi solicitado. Veremos o que acontece. Uma coisa é certa: se a averiguação passar a inquérito, teremos um novo caso em que a justiça implica um primeiro ministro, depois de ter feito o mesmo e levado à demissão o seu antecessor, António Costa. Este, entretanto, renasceu politicamente, ao ponto de ocupar um cargo de relevo mundial, com o incómodo assunto ainda pendente. Isto para não falar de um terceiro chefe de governo que, depois de amanhã, deverá começar a ser julgado por corrupção, passados dez anos sobre a sua prisão e mais uns quantos sobre o início da investigação. É o que temos, na política e, sobretudo, numa Justiça lenta, de duvidosa competência e que também contribui para expor o país ao ridículo.
5. A propósito de corrupção, é hilariante a notícia de que a Câmara de Grândola está a ser investigada por violação das regras urbanísticas. O caso em concreto mete uma empresa de advogados que terá prestado serviços em simultâneo a um empreendedor turístico e à Câmara. O que tem piada neste caso é que tudo aquilo que está edificado e feito na costa litoral de Grândola é uma violação de todas as regras básicas, começando nas de urbanismo e ambiente e acabando na criação de barreiras arquitetónicas. Os entraves são tantos que, na prática, tornam impossível aos portugueses comuns aceder às praias, o que é um direito fundamental num país com 900 km de costa e outros tantos de idade. Para este gigantesco atentado contribuíram os sucessivos governos centrais, as autarquias e todas as entidades que tenham a ver com o ordenamento da zona. O pior é que o mal está feito. Centenas enriqueceram e o que falta fazer também vai avançar. Com a complacência de todos, todos, todos! Já agora, uma nota: no Meco e em Melides está a acontecer rigorosamente o mesmo, como é público e notório.