Trump, o Sugar Daddy da NATO


Aqueles que já calejaram o fundo das costas com pelo menos 10 000 horas de reuniões em organizações internacionais sabem reconhecer a qualidade da coreografia de uma cimeira internacional.


O trabalho invisível das infinitas horas a rendiralhar texto por parte dos negociadores dos Diversos Estados e dos Secretariados Internacionais prepara a celebração política e mediática dos resultados, inevitavelmente “um grande sucesso”, “um enorme passo em frente”, a “garantia do futuro da Organização e dos Estados que a integram”. Na grandiloquência da “langue de bois” do internacionalismo, a Cimeira da NATO realizada na Haia não defraudou as expectativas: foi preparada por causa, em torno de e para Trump. Considerando o potencial de Donald para desencadear o caos, a Cimeira foi reduzida a mínimos: um jantar e duas sessões de trabalho, estas com menos de 3 horas de duração e o comunicado ficou com 5 singelos e curtos parágrafos. Zelensky foi cuidadosamente mantido num ambiente asséptico e longe dos momentos mediáticos da organização que se define como “tratando da paz e da segurança”. Terrível ironia: tendo a NATO ressuscitado do limbo das organizações internacionais agonizantes pela mão de Putin e rejuvenescido em ambição e propalado dinamismo graças a Trump, Zelensky apareceu semi-oculto.

Pequena nota histórica: todos os presidentes americanos, desde Eisenhower pedem aos europeus que gastem mais com a defesa e, desde a queda do muro de Berlim, que não reduzam tanto a referida despesa expressa em percentagem do PIB (e sobretudo as componentes de modernização e de aquisição de novos equipamentos). Com a anexação da Crimeia em 2014 os Aliados, reunidos da Cimeira de Gales, fixaram a meta de 2% do PIB para a despesa em defesa. Não fosse Putin ter invadido a Ucrânia em 2022, apenas os EUA, a Grécia e a Turquia (estes dois em estado de guerra latente um com o outro) cumpririam esta meta. No entretanto a Polónia, os Estados Bálticos e os Nórdicos (com as adesões recentes da Finlândia e da Suécia à NATO, mais um feito de Putin) passaram rapidamente a meta dos 2% e estão a fazer o necessário para cumprir a nova meta fixada na Haia: 3,5%.

Quanto mais longe se encontram da Federação Russa menor é o apetite dos Aliados por aumentar a despesa em defesa. Também por razões políticas para consumo interno (sobreviver à enésima crise desencadeada pela corrupção da classe política), Pedro Sánchez sintetiza as boas razões para contrariar a meta dos 3,5%: mais do que a quantidade de despesa interessa medir as capacidades reais de cada Estado de acordo com os objectivos que lhe foram fixados pela NATO (e, acrescento, pensando em Portugal, a compatibilidade com os interesses estratégicos nacionais); neste momento há compras de equipamento de defesa que só podem ser feitas aos EUA, é preferível aumentar e diversificar as capacidades da indústria de defesa europeia, aumentando o PIB e o emprego europeus e reduzindo a dependência dos EUA; um aumento mecânico da despesa pública corre o risco de trocar o Welfare State pelo Warfare State.

A victory lap de Trump na Haia é uma vitória de Pirro. O guarda chuva nuclear americano continuará estendido e as forças dos EUA na Europa não sofrerão redução sugnificativa. O aumento da despesa por parte dos Aliados tem uma componente imaginária de 1,5% (com infra-estruturas de duplo uso como auto-estradas, portos, caminhos de ferro, comunicações, cibersegurança). O cumprimento da meta dos 3% do PIB em despesa foi prolongado no tempo (até 2035), com uma cláusula de revisão em 2029, na esperança de que das eleições presidenciais de Novembro de 2028 nos EUA saia um Presidente mais acomodatício em relação aos desejos da Sugar Baby Europa.

Trump, o Sugar Daddy da NATO


Aqueles que já calejaram o fundo das costas com pelo menos 10 000 horas de reuniões em organizações internacionais sabem reconhecer a qualidade da coreografia de uma cimeira internacional.


O trabalho invisível das infinitas horas a rendiralhar texto por parte dos negociadores dos Diversos Estados e dos Secretariados Internacionais prepara a celebração política e mediática dos resultados, inevitavelmente “um grande sucesso”, “um enorme passo em frente”, a “garantia do futuro da Organização e dos Estados que a integram”. Na grandiloquência da “langue de bois” do internacionalismo, a Cimeira da NATO realizada na Haia não defraudou as expectativas: foi preparada por causa, em torno de e para Trump. Considerando o potencial de Donald para desencadear o caos, a Cimeira foi reduzida a mínimos: um jantar e duas sessões de trabalho, estas com menos de 3 horas de duração e o comunicado ficou com 5 singelos e curtos parágrafos. Zelensky foi cuidadosamente mantido num ambiente asséptico e longe dos momentos mediáticos da organização que se define como “tratando da paz e da segurança”. Terrível ironia: tendo a NATO ressuscitado do limbo das organizações internacionais agonizantes pela mão de Putin e rejuvenescido em ambição e propalado dinamismo graças a Trump, Zelensky apareceu semi-oculto.

Pequena nota histórica: todos os presidentes americanos, desde Eisenhower pedem aos europeus que gastem mais com a defesa e, desde a queda do muro de Berlim, que não reduzam tanto a referida despesa expressa em percentagem do PIB (e sobretudo as componentes de modernização e de aquisição de novos equipamentos). Com a anexação da Crimeia em 2014 os Aliados, reunidos da Cimeira de Gales, fixaram a meta de 2% do PIB para a despesa em defesa. Não fosse Putin ter invadido a Ucrânia em 2022, apenas os EUA, a Grécia e a Turquia (estes dois em estado de guerra latente um com o outro) cumpririam esta meta. No entretanto a Polónia, os Estados Bálticos e os Nórdicos (com as adesões recentes da Finlândia e da Suécia à NATO, mais um feito de Putin) passaram rapidamente a meta dos 2% e estão a fazer o necessário para cumprir a nova meta fixada na Haia: 3,5%.

Quanto mais longe se encontram da Federação Russa menor é o apetite dos Aliados por aumentar a despesa em defesa. Também por razões políticas para consumo interno (sobreviver à enésima crise desencadeada pela corrupção da classe política), Pedro Sánchez sintetiza as boas razões para contrariar a meta dos 3,5%: mais do que a quantidade de despesa interessa medir as capacidades reais de cada Estado de acordo com os objectivos que lhe foram fixados pela NATO (e, acrescento, pensando em Portugal, a compatibilidade com os interesses estratégicos nacionais); neste momento há compras de equipamento de defesa que só podem ser feitas aos EUA, é preferível aumentar e diversificar as capacidades da indústria de defesa europeia, aumentando o PIB e o emprego europeus e reduzindo a dependência dos EUA; um aumento mecânico da despesa pública corre o risco de trocar o Welfare State pelo Warfare State.

A victory lap de Trump na Haia é uma vitória de Pirro. O guarda chuva nuclear americano continuará estendido e as forças dos EUA na Europa não sofrerão redução sugnificativa. O aumento da despesa por parte dos Aliados tem uma componente imaginária de 1,5% (com infra-estruturas de duplo uso como auto-estradas, portos, caminhos de ferro, comunicações, cibersegurança). O cumprimento da meta dos 3% do PIB em despesa foi prolongado no tempo (até 2035), com uma cláusula de revisão em 2029, na esperança de que das eleições presidenciais de Novembro de 2028 nos EUA saia um Presidente mais acomodatício em relação aos desejos da Sugar Baby Europa.