Antes do Mundial de Clubes, eram poucos os que acreditavam na capacidade das equipas não-europeias em igualar, e muito menos superar, a competitividade dos clubes europeus de futebol, habitualmente superiores em todas as competições.
No entanto, o renovado Mundial de Clubes, com um alargamento de sete para 32 equipas, e numa altura distinta do calendário, veio mostrar o contrário, já que, em duas rondas já completas da fase de grupos, as surpresas vêm da América do Sul.
Com quatro equipas presentes no torneio, o Brasil é o país mais representado nos Estados Unidos e Palmeiras, Botafogo, Flamengo e Fluminense ainda não conheceram o sabor de uma derrota, num total de oito partidas já disputadas.
O Palmeiras, treinado pelo português Abel Ferreira, empatou 0-0 com o FC Porto e venceu 2-0 os egípcios do Al Ahly, resultados que lhe garantem a liderança do grupo A, tendo os mesmos pontos dos norte-americanos do Inter Miami, o seu último adversário.
O FC Porto é mesmo uma das maiores, ou até a maior, desilusão deste Mundial de Clubes, pois num grupo teoricamente acessível, não depende de si para se apurar para a fase a eliminar, com apenas um ponto totalizado em dois duelos.
Já no grupo B, o detentor da Copa Libertadores, o Botafogo, orientado também por um português, Renato Paiva, protagonizou a maior surpresa da atual edição até ao momento, ao vencer os campeões europeus Paris Saint-Germain, de França (1-0).
A juntar isso ao triunfo por 2-1 frente aos norte-americanos do Seattle Sounders, o Botafogo lidera isolado o agrupamento, à frente dos europeus Paris Saint-Germain e Atlético de Madrid, que defronta na derradeira jornada, na luta pela qualificação.
O Flamengo também surpreendeu no triunfo frente ao Chelsea, por 3-1, e garantiu já o apuramento para os oitavos de final, com seis pontos, fruto também da vitória diante dos tunisinos do Espérance de Tunis, por 2-0, no jogo inicial na competição.
A última equipa brasileira a ter entrado em ação manteve a toada positiva, com o Fluminense a ser líder do Grupo F, com quatro pontos, os mesmos dos alemães do Borussia Dortmund e mais um do que o Mamelodi Sundowns, da África do Sul e treinado pelo português Miguel Cardoso. Os sul-coreanos do Ulsan são últimos.
A turma do Rio de Janeiro começou por empatar 0-0 com os alemães e superou o Ulsan por 4-2, precisando de outro resultado positivo com o Mamelodi Sundowns.
As duas equipas argentinas em prova – Boca Juniors e River Plate – têm igualmente estado em bom plano no Mundial de Clubes, com os primeiros a terem empatado com o Benfica (2-2) na primeira ronda do Grupo C, após estarem a vencer por 2-0.
Contudo, foi a única equipa sul-americana a quebrar a série invencível dos clubes desse continente, ao sair derrotado no confronto com o Bayern Munique, por 2-1, que os deixa na luta com o conjunto lisboeta pela qualificação na última jornada.
Já o River Plate segue na liderança do Grupo E, com quatro pontos, os mesmos do Inter Milão, sendo que se defrontam no desfecho da fase de grupos, ao passo que os mexicanos do Monterrey têm dois pontos e os japoneses do Urawa têm zero.
Estes resultados, que mostram a superioridade, pelo menos inicial, por parte dos sul-americanos, têm alimentado discussões sobre a real qualidade e capacidade dessas equipas, em comparação com os europeus, embora com diversos fatores.
Se, por um lado, os europeus se encontram no meio de duas temporadas, quase sem férias e depois de um ano longo e desgastante, os sul-americanos estão no seu pico de forma, a meio da sua temporada, que se disputa ao longo do ano civil.
A motivação também é outra justificação que se pode encontrar, já que, para os sul-americanos, esta prova é considerada por muitos como a mais importante do calendário, ao contrário do pensamento que é partilhado pelos europeus.
Depois de várias críticas por carregar um calendário já congestionado, e após algumas ameaças, as equipas europeias chegam ao Mundial em renovação dos plantéis e praticamente em contexto de pré-época.
Contudo, há conjuntos do velho continente que têm demonstrado ter vindo para o Mundial de Clubes para não facilitar, como o Bayern Munique – que vai encarar o Benfica na terça-feira – a Juventus e o Manchester City, que também se defrontam.
Essas três formações, a par do Flamengo, são as únicas que asseguraram o lugar na próxima fase ao fim de duas jornadas, com a expectativa de ainda poder haver mais surpresas, nomeadamente entre as equipas europeias ainda por se apurar.
No caso dos portugueses, o Benfica depende de si mesmo para marcar presença nos oitavos de final, mas a tarefa é árdua, por ter pela frente o Bayern Munique, e, em caso de derrota, é a diferença de golos, em relação ao Boca Juniors, a decidir.
Já o FC Porto tem obrigatoriamente de vencer o Al Ahly, e mesmo isso poderá ser insuficiente, pois tem de aguardar também por um triunfo do Inter Miami frente ao Palmeiras. Qualquer outro resultado nesse jogo dita a eliminação dos portuenses.