As presidenciais e a vida além da bolha


Os da bolha vivem para os seus egos, os seus interesses e as suas circunstâncias, estão-se nas tintas para os outros, mais urbanos ou rurais, residentes ou ausentes do território, acomodados ou insatisfeitos com as respostas do sistema.


Quem tem de lidar com o espaço público e a sua projeção mediática, mesmo com a digital, tende a sobrevalorizar a sua relevância das bolhas para as diversas configurações cívicas e políticas do país, quando é uma evidência que o mundo mudou e os cidadãos já não se movem pelas referências de outrora. Há mais mundo além da bolha, cada vez mais em circuito fechado, quase a falar entre si, com pompa e circunstância, quando se converteu em ruído de fundo para a maioria dos portugueses, saturados com o que ouvem e com o país que lhes entregam. A entrega é melhor do que muitos dos passados recentes e definitivamente do que o passado diferido da ditadura, mas é insuficiente, sofrível e desajustada quanto a muitos fatores que contribuem para a qualidade de vida e a realização pessoal e comunitária. A bolha dos comentadores, dos protagonistas passados e dos media ainda não compreendeu o que se passou, o que levou as pessoas a um ponto de saturação com o sistema que já preferem o protesto inconsequente à resposta sofrível, mais a pensar na sobrevivência política individual ou na circunstância do que no interesse geral, no que é perene e estrutural para gerar soluções para os cidadãos, a sociedade e o país, de preferência com mínimos de visão estratégica.

É por isso que temos serviços públicos essenciais no estado de deslaço em que estão e projetámos para o plano dos problemas incontornáveis situações que poderiam ter sido atalhadas quando eram apenas sinais de incumprimento das regras gerais da convivência em comunidade ou de desequilíbrio nas dinâmicas das realidades locais.

É assim que chegamos ao ponto de Portugal ser o país da União Europeia em que o investimento público está mais dependente de fundos europeus, segundo o Tribunal de Contas Europeu, depois de muito afago da despesa corrente com recursos que não são repetíveis e sustentados.

Ou que o Estado português perde cerca de 405 milhões de euros em processos judiciais contra os bancos por inconsistência das opções políticas, sem que ninguém assuma responsabilidades por estas perdas.

A bolha foi indiferente aos sinais, às dinâmicas e às realidades porque o seu compromisso era com a manutenção dos equilíbrios, dos interesses e das circunstâncias de sempre, configurando os decisores e deixando-se configurar pelas narrativas ao lado, longe das pessoas, das empresas, das instituições e dos territórios que, de forma resiliente, iam prosseguindo nos quotidianos.

A bolha, na verdade, a confederação das bolhas unidas não é uma entidade homogénea. Tem diversas origens, vários patamares de pedigree, inúmeros modus operandi, múltiplas submissões a interesses, mas convergem todas no esforço de manutenção das coisas como estão ou como estiveram quando eram poder ou tinham mais poder do que têm agora, inacreditavelmente, por força das malfadadas circunstâncias. Ele há os que sempre falaram, mas nunca fizeram nada. Os que se julgam ungidos pela missão da doutrinação alheia. Os que, sendo da Linha ou de Lisboa, se julgam superiores ao resto que é paisagem. Os que julgam determinar pelos conteúdos dos media generalistas ou digitais, quando uma parte crescente dos cidadãos já só lê canais próprios, então nos mais jovens é a norma. Os que se acham engraçadinhos no espaço da bolha, considerando o que andaram a fazer nos verões passados, até à órbita do saco azul do BES. Os que podiam ter feito, mas não fizeram, mas querem dizer como se faz. Há espécimes para todos os gostos, longitudes e latitudes, mas o traço é comum. Os da bolha vivem para os seus egos, os seus interesses e as suas circunstâncias, estão-se nas tintas para os outros, mais urbanos ou rurais, residentes ou ausentes do território, acomodados ou insatisfeitos com as respostas do sistema.

Os da bolha ainda não perceberam, ninguém lhes disse, mas já perderam. Perderam a oportunidade de antecipar as realidades pelos sinais, emergentes, de contribuírem para serem parte da construção de soluções além das circunstâncias e dos poderes de turno ou de estarem sintonizados com o país, além dos circuitos em que se movem, dos mesmos com quem falam há anos ou das fontes internacionais onde sorvem carateres para debitar.

A bolha perdeu o país. O país real está-se a borrifar para a bolha, porque as realidades e as perceções mudaram. Estão no limite da rutura, a exigir respostas e protagonistas diferentes, que não foram parte do estado a que isto chegou e tinham e têm uma visão diferente, para melhor, sem aventureirismos ou sobredose de grilhetas partidárias ou dos interesses instalados.

A bolha perdeu centralidade, não neste artigo, já só serve para compor o ramalhete, razão maior para que nos concentremos nos caminhos próprios, na mobilização cívica, nos focos certos, na construção de uma visão e de caminhos para responder aos problemas das pessoas, das instituições, das empresas, das comunidades e dos territórios, sempre com a consciência da importância dos que cá estão e dos que integram a diáspora, mas são sempre parte de nós.

Numa semana, a candidatura de António José Seguro afirmou-se, suscitou apoios e alimentou esperança numa proposta presidencial diferente de todas as outras em presença, em cogitação ou em fermentação. A bolha rabiou q.b., muitos aderiram, não por qualquer ajuste com o passado, mas para acertar o passo ao futuro. É esse o caminho, próprio, cívico, autónomo, com a ambição de mobilizar para um Presidente e um país diferente, para bem melhor. É seguir, há todo um país à espera.

NOTAS FINAIS

A NORMALIZAÇÃO DO VERNÁCULO INSULTUOSO NO PARLAMENTO MADEIRENSE. Um espécime governativo da Madeira, de seu nome Eduardo Jesus, instalado nas pastas do turismo, ambiente e cultura, resolveu insultar duas deputadas do PS no parlamento com indecorosos apartes. A normalização da verve do espécime, pelo pedido de desculpa à instituição, não às ofendidas pelos desqualificados impropérios, é um triste espetáculo que projeta orientação para os cidadãos e as comunidades. Insultai-vos que tudo é permitido. É assim que se deslaça a sociedade, com esferas de liberdade individual que atropelam a dos outros. Ignorem os sinais e as sinalizações, depois queixem-se.

A FALTA DE MEIOS AÉREOS E O QUEM ANDA À CHUVA MOLHA-SE. Não sei de quem é a culpa, nem me interessa, neste caso, mas ter territórios do Alentejo em que deveriam estar meios aéreos de combate a incêndios rurais e não estão, com o calor e o mato que estão, é de uma irresponsabilidade criminosa. É resolver já a falha operacional e criar condições para que o Estado não seja incompetente em 2026. Se necessário mude-se a lei, mas não se brinque com coisas sérias.

IMPLOSÃO DA ORDEM INTERNACIONAL. Depois de disfunções e desfasamentos, a ordem internacional implodiu de forma irreversível, com a consagração de que os fins justificam todos os meios. Trump é o mestre da implosão, mas há muitos mini-Trumps por aí.

As presidenciais e a vida além da bolha


Os da bolha vivem para os seus egos, os seus interesses e as suas circunstâncias, estão-se nas tintas para os outros, mais urbanos ou rurais, residentes ou ausentes do território, acomodados ou insatisfeitos com as respostas do sistema.


Quem tem de lidar com o espaço público e a sua projeção mediática, mesmo com a digital, tende a sobrevalorizar a sua relevância das bolhas para as diversas configurações cívicas e políticas do país, quando é uma evidência que o mundo mudou e os cidadãos já não se movem pelas referências de outrora. Há mais mundo além da bolha, cada vez mais em circuito fechado, quase a falar entre si, com pompa e circunstância, quando se converteu em ruído de fundo para a maioria dos portugueses, saturados com o que ouvem e com o país que lhes entregam. A entrega é melhor do que muitos dos passados recentes e definitivamente do que o passado diferido da ditadura, mas é insuficiente, sofrível e desajustada quanto a muitos fatores que contribuem para a qualidade de vida e a realização pessoal e comunitária. A bolha dos comentadores, dos protagonistas passados e dos media ainda não compreendeu o que se passou, o que levou as pessoas a um ponto de saturação com o sistema que já preferem o protesto inconsequente à resposta sofrível, mais a pensar na sobrevivência política individual ou na circunstância do que no interesse geral, no que é perene e estrutural para gerar soluções para os cidadãos, a sociedade e o país, de preferência com mínimos de visão estratégica.

É por isso que temos serviços públicos essenciais no estado de deslaço em que estão e projetámos para o plano dos problemas incontornáveis situações que poderiam ter sido atalhadas quando eram apenas sinais de incumprimento das regras gerais da convivência em comunidade ou de desequilíbrio nas dinâmicas das realidades locais.

É assim que chegamos ao ponto de Portugal ser o país da União Europeia em que o investimento público está mais dependente de fundos europeus, segundo o Tribunal de Contas Europeu, depois de muito afago da despesa corrente com recursos que não são repetíveis e sustentados.

Ou que o Estado português perde cerca de 405 milhões de euros em processos judiciais contra os bancos por inconsistência das opções políticas, sem que ninguém assuma responsabilidades por estas perdas.

A bolha foi indiferente aos sinais, às dinâmicas e às realidades porque o seu compromisso era com a manutenção dos equilíbrios, dos interesses e das circunstâncias de sempre, configurando os decisores e deixando-se configurar pelas narrativas ao lado, longe das pessoas, das empresas, das instituições e dos territórios que, de forma resiliente, iam prosseguindo nos quotidianos.

A bolha, na verdade, a confederação das bolhas unidas não é uma entidade homogénea. Tem diversas origens, vários patamares de pedigree, inúmeros modus operandi, múltiplas submissões a interesses, mas convergem todas no esforço de manutenção das coisas como estão ou como estiveram quando eram poder ou tinham mais poder do que têm agora, inacreditavelmente, por força das malfadadas circunstâncias. Ele há os que sempre falaram, mas nunca fizeram nada. Os que se julgam ungidos pela missão da doutrinação alheia. Os que, sendo da Linha ou de Lisboa, se julgam superiores ao resto que é paisagem. Os que julgam determinar pelos conteúdos dos media generalistas ou digitais, quando uma parte crescente dos cidadãos já só lê canais próprios, então nos mais jovens é a norma. Os que se acham engraçadinhos no espaço da bolha, considerando o que andaram a fazer nos verões passados, até à órbita do saco azul do BES. Os que podiam ter feito, mas não fizeram, mas querem dizer como se faz. Há espécimes para todos os gostos, longitudes e latitudes, mas o traço é comum. Os da bolha vivem para os seus egos, os seus interesses e as suas circunstâncias, estão-se nas tintas para os outros, mais urbanos ou rurais, residentes ou ausentes do território, acomodados ou insatisfeitos com as respostas do sistema.

Os da bolha ainda não perceberam, ninguém lhes disse, mas já perderam. Perderam a oportunidade de antecipar as realidades pelos sinais, emergentes, de contribuírem para serem parte da construção de soluções além das circunstâncias e dos poderes de turno ou de estarem sintonizados com o país, além dos circuitos em que se movem, dos mesmos com quem falam há anos ou das fontes internacionais onde sorvem carateres para debitar.

A bolha perdeu o país. O país real está-se a borrifar para a bolha, porque as realidades e as perceções mudaram. Estão no limite da rutura, a exigir respostas e protagonistas diferentes, que não foram parte do estado a que isto chegou e tinham e têm uma visão diferente, para melhor, sem aventureirismos ou sobredose de grilhetas partidárias ou dos interesses instalados.

A bolha perdeu centralidade, não neste artigo, já só serve para compor o ramalhete, razão maior para que nos concentremos nos caminhos próprios, na mobilização cívica, nos focos certos, na construção de uma visão e de caminhos para responder aos problemas das pessoas, das instituições, das empresas, das comunidades e dos territórios, sempre com a consciência da importância dos que cá estão e dos que integram a diáspora, mas são sempre parte de nós.

Numa semana, a candidatura de António José Seguro afirmou-se, suscitou apoios e alimentou esperança numa proposta presidencial diferente de todas as outras em presença, em cogitação ou em fermentação. A bolha rabiou q.b., muitos aderiram, não por qualquer ajuste com o passado, mas para acertar o passo ao futuro. É esse o caminho, próprio, cívico, autónomo, com a ambição de mobilizar para um Presidente e um país diferente, para bem melhor. É seguir, há todo um país à espera.

NOTAS FINAIS

A NORMALIZAÇÃO DO VERNÁCULO INSULTUOSO NO PARLAMENTO MADEIRENSE. Um espécime governativo da Madeira, de seu nome Eduardo Jesus, instalado nas pastas do turismo, ambiente e cultura, resolveu insultar duas deputadas do PS no parlamento com indecorosos apartes. A normalização da verve do espécime, pelo pedido de desculpa à instituição, não às ofendidas pelos desqualificados impropérios, é um triste espetáculo que projeta orientação para os cidadãos e as comunidades. Insultai-vos que tudo é permitido. É assim que se deslaça a sociedade, com esferas de liberdade individual que atropelam a dos outros. Ignorem os sinais e as sinalizações, depois queixem-se.

A FALTA DE MEIOS AÉREOS E O QUEM ANDA À CHUVA MOLHA-SE. Não sei de quem é a culpa, nem me interessa, neste caso, mas ter territórios do Alentejo em que deveriam estar meios aéreos de combate a incêndios rurais e não estão, com o calor e o mato que estão, é de uma irresponsabilidade criminosa. É resolver já a falha operacional e criar condições para que o Estado não seja incompetente em 2026. Se necessário mude-se a lei, mas não se brinque com coisas sérias.

IMPLOSÃO DA ORDEM INTERNACIONAL. Depois de disfunções e desfasamentos, a ordem internacional implodiu de forma irreversível, com a consagração de que os fins justificam todos os meios. Trump é o mestre da implosão, mas há muitos mini-Trumps por aí.